As vendas de azeite, produto considerado supérfluo por boa parte dos brasileiros, tem crescido no País, a despeito da crise e do consequente aperto no orçamento de muitas famílias. Somente no primeiro bimestre deste ano, o volume comercializado no Brasil cresceu 8%, segundos dados da Nielsen, após um crescimento de 10% em 2008, quando foram vendidos cerca de 35 milhões de litros. Apesar desse crescimento, o consumo per capita brasileiro não chega a 200 mililitros por ano, enquanto em países tradicionais no consumo do óleo, como Portugal e Espanha, são consumidos anualmente entre 6 e 10 litro per capita/ano e na Grécia, líder mundial, o consumo alcança 20 litros per capita/ano.
É de olho no potencial de crescimento brasileiro que as principais fornecedoras de azeite ao País buscam intensificar sua atuação no mercado nacional. A Sovena, produtora portuguesa de azeites e azeitonas, que atua no Brasil com a marca Andorinha, vai investir neste ano R$ 4 milhões para estimular o consumo e reforçar o nome no País. O valor é 35% maior que o aplicado em 2008. "Temos aumentado nossos investimentos no Brasil ano a ano", afirmou o diretor de marketing do grupo Sovena, Luis Santos, ressaltando que em 2004 foi investido, em euros metade do que foi aplicado no ano passado. "O investimento é grande para o nosso tamanho aqui", disse, explicando que nos mercados europeus o consumo do azeite já é amplamente difundido. "O nível de penetração lá é de quase 100%."
O grupo português, de controle familiar, faturou no ano passado aproximadamente US$ 1 bilhão, com a venda de 150 milhões de litros de azeite, dos quais apenas 5,5 milhões de azeite Andorinha, cujo o principal mercado é o Brasil. "Exportamos para mais de 70 países, mas o Brasil é um dos países em que mais crescemos", disse Santos, ressaltando que somente no ano passado o crescimento foi de 30%, o que garantiu à empresa uma participação de mercado 11%, apenas atrás da líder de mercado, Gallo, que possui 24% do mercado nacional. As sete principais marcas, entre as quais estão Borges, Carbonell e Cocinero, detêm aproximadamente 50% de um mercado que possui mais de 100 marcas, explicou o executivo.
De acordo com a diretora da Gallo Brasil, Rita Bassi, o crescimento das vendas de azeite no mercado nacional está relacionado às informações de que o produto faz bem à saúde. "Tempos atrás o brasileiro não tinha por hábito consumir azeite, a não ser quem vinha de família espanhola, portuguesa ou italiana", disse. "Hoje o azeite está na moda, e os brasileiros já sabem a diferença entre o azeite puro e extravirgem, e observam o grau de acidez", acrescentou. Segundo ela, o Conselho Oleícola Internacional (COI) estima que o consumo de azeite no Brasil pode crescer 97 mil toneladas no período 2008/2009 e poderá dobrar até 2015.
A estratégia da Sovena é buscar a inovação, com azeites aromatizados e embalagens diferenciadas, além de estimular a venda de produtos de maior valor agregado. Com isso, as vendas de latas de azeite, que representavam 84% do volume comercializado em 2004, hoje respondem por 58%. O restante é de vidros. "Este ano deverá ser 50% para cada um", disse Santos. O azeite comercializado em vidro normalmente é extravirgem, de preço mais elevado. "Cerca de 65% das vendas são de extravirgem e estamos próximos da liderança no segmento". O azeite Andorinha é comercializado no Brasil por meio da Bunge, com quem a Sovena mantém parceria para importação e distribuição dos produtos no País desde 2005.
A Gallo, principal concorrente da Sovena no Brasil, também está apostando na Páscoa, data em que ocorre o pico de vendas de azeite no País, para incrementar suas vendas. A empresa lançou uma edição limitada do "Gallo Colheita ao Luar", azeite elaborado a partir de azeitonas colhidas durante o período mais frio da noite, repetindo a experiência do Natal, segunda principal data de vendas de azeite, quando a empresa trouxe para o Brasil o "Azeite Novo", feito com as primeiras azeitonas da colheita.
Além disso, a empresa entrou em um novo segmento, de vinagre balsâmico. Segundo Rita Bassi, o produto, que já é comercializado em Portugal, será vendido apenas para restaurantes. No ano passado, a empresa registrou crescimento de 30% nas vendas. A executiva não revelou faturamento ou volumes de comercialização.
Veículo: Gazeta Mercantil