Fabricantes de brinquedos querem apoio para elevar a produção

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A quantidade de brinquedos chineses com defeitos que tiveram de ser subustituídos, o aumento das exigências para as fabricantes asiáticas e a recente valorização do dólar frente ao real criaram para a indústria brasileira de brinquedos, mesmo em meio à crise econômica, uma oportunidade de ampliar a produção local.

 

Dona de quase 70% de toda a produção de brinquedos no mundo, a China ampliou expressivamente a presença no mercado brasileiro nos últimos anos, entre importadores e fabricantes nacionais que aproveitaram para ampliar o portfólio com produtos importados. A fatia dos importados no mercado nacional saiu de 38%, em 2005, para 61% no ano passado, ou R$ 1,5 bilhão dos R$ 2,5 bilhões faturados em 2008, segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).

 

Segundo o presidente da Abrinq, Synésio Batista da Costa, a onda de recalls desde 2007 levou ao fechamento de mais de 2 mil fábricas de brinquedos na China, e apertou o cerco das multinacionais que possuem instalações lá - os norte-americanos criaram um rígido processo de certificação para os brinquedos que compram de lá, o que, segundo Costa, encarece em 18% o produto final, e a regulamentação crescente das leis trabalhistas chinesas já pesam em mais 30% no preço.Atenta à lacuna que fatores como estes estão abrindo entre os importados, a Abrinq preparou um plano de investimentos de R$ 100 milhões, a ser apresentado ao governo até o final deste mês, para modernizar e ampliar a fabricação local de brinquedos nos próximos cinco anos. O objetivo é que a participação dos produtos nacionais chegue a 70% das vendas até o final de 2014.

 

Além disso, o ganho de escala que o programa proporcionará pode baratear os produtos em até 5%, e levar à contratação de 20 mil novos funcionários ao longo dos cinco anos de projeto, além dos 20 mil já empregados atualmente. Com isso, a indústria nacional de brinquedos finalmente voltaria aos patamares dos tempos áureos do início dos anos 90, quando era proibida a entrada de brinquedos trazidos de fora, o plano real ainda não havia chegado para viabilizar as importações em larga escala e 40 mil pessoas trabalhavam em fábricas do setor.

 

Entre as metas também está a busca por um espaço maior no mercado latino-americano - já que o Brasil é um dos poucos que continuou produzindo brinquedos na última década, ao lado de uma ou outra fábrica na Argentina e no México. "Hoje nossos produtos respondem por 3% do comércio na América Latina, e nossa meta é alcançar 10% em cinco anos", disse Costa. A China, completa ele, responde por todo o resto deste mercado.

 

O investimento total será feito em parceria entre os empresários e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da Política de Desenvolvimento Produtivo do Ministério do Desenvolvimento.

 

Empresas produzem mais

 

Mesmo em paralelo ao programa de desenvolvimento junto ao governo, as empresas do setor já estão investindo para reduzir sua dependência dos importados. Na Gulliver, as importações chegaram a 70% das vendas em 2008, enquanto a ocupação de sua fábrica, localizada em São Caetano do Sul (SP), despencou para 30%. "Queremos voltar a ocupar metade da fábrica, e equilibrar as vendas em pelo menos meio a meio este ano", disse o diretor comercial, Paulo Benzatti.

 

Na Estrela, o dólar elevou o preço das linhas importadas em quase 40% em relação ao preço médio de 2008, o que leva a empresa a nacionalizar parte da produção - em sua maioria, carrinhos e bonecas com dispositivos eletrônicos, que, fabricados localmente, ficarão cerca de 15% acima do valor do ano passado. Outras linhas estão sendo reduzidas ou descontinuadas.

 

A virada do mercado coincidiu com o plano que a Estrela tinha desde o início de 2008 de construir uma terceira fábrica no País. Prevista para ficar pronta ainda este ano, em Sergipe, será destinada a fazer produtos mais baratos para o mercado nordestino. Com estas medidas, afirma Carlos Tilkian, presidente da Estrela, o plano é que os importados caiam dos atuais 50% para 30% das vendas até o final do ano, e o faturamento tenha impulso para crescer até 20%.

 

Para a fabricante de jogos de tabuleiro Grow, dona da marca War no Brasil, a produção nacional sempre foi o forte. Mesmo assim, o dólar baixo em 2008 foi aproveitado, e 20% do portfólio chegou a ser importado, entre brinquedos para bebês, bichos de pelúcia e bonecos ligados a licenciamentos de personagens e filmes estrangeiros famosos.

 

Com a inversão do câmbio, as linhas trazidas de fora estão sendo descontinuadas, e a importação voltará a uma participação pequena, de apenas 5% dos negócios, disse o gerente de produto da Grow, Gustavo Arruda.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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