Como faz todos os anos, a Nielsen reuniu na semana passada indústria, varejo e fornecedores para avaliar o mercado brasileiro em 2008 e fazer algumas projeções para 2009. Para começo de conversa, vale lembrar que nos últimos 15 anos o volume de bens de consumo vendidos nos super e hipermercados brasileiros simplesmente dobrou. Para dar uma idéia da força do ciclo de prosperidade que o país viveu recentemente, basta dizer que em 2005, ano que marcou o auge desse ciclo, 64% das categorias de produtos auditadas pela Nielsen tiveram aumento de volume e apenas 11% apresentaram queda. Porém, 2008 registrou uma forte desaceleração no consumo destes produtos e o crescimento foi de apenas 0,5% em relação a 2007.
Entretanto, não dá para colocar na conta da crise financeira global esse resultado tão tímido. O maior culpado foi o aumento dos preços das commodities, que subiram em média 34% na primeira metade do ano passado, elevando os preços nas prateleiras dos supermercados em 11%. É verdade que na segunda metade de 2008 as commodities despencaram, a ponto de custarem 4% menos em dezembro do que custavam em janeiro. O problema é que a indústria não repassou os descontos para o varejo e os preços dos produtos industrializados fecharam o ano 10% mais caros, o que afugentou o consumidor.
Além do aumento dos preços, houve outro fator importante - o deslocamento do dinheiro disponível para o consumo, principalmente nas classes C, D e E, para bens duráveis, fenômeno ajudado pelo crédito farto, barato e descomplicado que os brasileiros tinham à disposição no ano passado. Alguns números ajudam a ilustrar como foi significativa essa farra de consumo nos eletrodomésticos. Em 2007, apenas 48% dos nossos lares de classe C tinham uma máquina de lavar em casa. Em 2008, esse percentual subiu para 53%. Tem mais - 90% das residências das classes D e E tinham televisão em 2007, percentual que passou para 95% em 2008. Isso tudo, ainda segundo a Nielsen, ajudou, sem duvida, a esvaziar um pouco os carrinhos de compras nos supermercados brasileiros em 2008.
Nos dois primeiros meses de 2009, a desaceleração se manteve, agora já como conseqüência das notícias sobre a crise financeira global. Por isso, em 2009, além de ficar de olho na renda, na taxa de desemprego e na oferta de crédito, a indústria e o varejo também vão precisar acompanhar as oscilações do humor dos consumidores . Afinal, quando eles ficam mais pessimistas, reduzem a predisposição para o consumo. Prova disso é a pesquisa feita agora em março pela Nielsen, que mostrou que 45% dos brasileiros planejam reduzir despesas com alimentação fora do lar, 44% querem baixar gastos com telefonia móvel, 37% devem postergar compras de eletroeletrônicos, 30% vão dar um tempo na aquisição de roupas e 25% pretendem cortar programas de lazer. Já o abastecimento do lar deve ser afetado em apenas 17% das casas.
Veículo: Gazeta Mercantil