São Paulo - O número de novos microempreendedores individuais (MEIs) cresceu 11,3% no primeiro semestre de 2017, em comparação com igual período do ano passado. Os dados foram divulgados ontem pela Boa Vista SCPC.
Por outro lado, a abertura de companhias de maior porte recuou 23,4%, enquanto que a formação de microempresas (MEs) teve alta de 1%. Somadas as três categorias, foi visto aumento de 6,3% na geração de novas firmas. De acordo com o porta-voz do levantamento, os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho continuam ditando o ritmo da criação de empresas no País.
"A recessão prejudica as firmas maiores e eleva a taxa de desemprego, o que estimula a opção pela MEI", diz Yan Cattani, economista da Boa Vista SCPC. "Grande parte dos trabalhadores que perderam o emprego com carteira assinada encontraram uma alternativa no empreendedorismo", explica ele.
A melhora recente da criação de postos de trabalho, entretanto, pode mudar esse panorama nos próximos meses. "Se a tendência do primeiro semestre permanecer, é possível que ocorra uma redução dos MEIs e um avanço das empresas maiores", afirma Cattani. Entre janeiro e junho, 67.358 vagas com carteira assinada foram acrescentadas à economia do País, de acordo com o Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged).
No primeiro semestre, as MEIs representaram 76,8% das empresas no País, parcela bastante superior à das MEs (16,4%) e companhias de maior porte (6,9%).
A criação geral de companhias foi maior no Centro-Oeste, com um avanço de 11,2% no confronto com 2016. As regiões Sul (9,8%) e Norte (9,3%) também viram altas expressivas, enquanto que Sudeste (5,4%) e Nordeste (2,2%) tiveram aumentos menores.
Segundo Cattani, a liderança do Centro-Oeste se deve, em grande parte, ao bom desempenho do setor agrícola neste ano. "A supersafra trouxe mais recursos para a região." Já o resultado tímido do Sudeste, diz ele, está ligado à performance da indústria local. "Ainda que haja algum sinal de melhora para o setor, a situação segue complicada", diz ele.
A participação da indústria no total de empresas brasileiras recuou para 8,6% no primeiro semestre deste ano, depois de ficar em 10,3% em igual período de 2016. A maioria das firmas continuou no setor de serviços (56%), que foi seguido por comércio (34,7%). Já o setor rural teve 0,7% das firmas no País.
Professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcus Quintella afirma que as pequenas empresas dos setores de serviços e comércio têm maior resistência à crise econômica. "Elas têm uma estrutura menos complexa, com custos menores, e conseguem durar mais na recessão."
Primeira queda
Na comparação trimestral, o período entre abril e junho registrou o primeiro recuo na geração de empresas desde o começo da série histórica, em 2003. A criação de novas companhias diminuiu 3,8%, no confronto com os primeiros três meses deste ano.
"Acho que há uma tendência de essa queda continuar nos próximos meses, porque a demanda continua muito fraca no País", diz Quintella. Na visão dele, a melhora dos dados de emprego ainda é muito tímida para impedir essa piora na geração de empresas.
Ele defende que fatores pontuais, como a supersafra, no Centro-Oeste, e os "bons resultados de companhias exportadoras", na região Sul, dão fôlego "apenas temporário" aos empresários do País.
Para reverter essa situação, segue ele, é necessário "investimento pesado em infraestrutura". "Um aumento considerável dos aportes em rodovias, ferrovias e portos, por exemplo, fortaleceria diversos setores", indica o especialista.
Entretanto, ele acredita que um avanço real do investimento só vai ocorrer quando o quadro político melhorar. "Uma situação mais estável traria maior confiança, o que é fundamental para a entrada de recursos. Hoje, os investidores estão em stand by, aguardando o desenrolar da cena política para tomar decisões de negócios", afirma ele.
Fonte: DCI São Paulo