O veto às importações de leite provenientes do Uruguai anunciado, na terça-feira, pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, aconteceu em um momento de grande desequilíbrio entre a oferta e a demanda no mercado nacional, o que tem provocado quedas sucessivas nos resultados financeiros de toda a cadeia láctea.
A suspensão, que é por tempo indeterminado, foi adotada após vários pedidos do setor produtivo, que há anos busca, pelo menos, o estabelecimento de cotas para o leite vindo do Uruguai. Além de ampliar a oferta em um mercado já superabastecido, a importação foi suspensa devido à suspeita de fraude comercial na origem do leite uruguaio.
De acordo com as informações do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), a suspensão das licenças de importação do Uruguai ficará em vigor até que seja concluída a rastreabilidade do produto e só será revertida caso os uruguaios comprovem que 100% do volume exportado ao Brasil são produzidos no país. A denúncia da cadeia produtiva do leite nacional é que o volume produzido no país vizinho é insuficiente para abastecer o mercado local e destinar grandes volumes ao Brasil.
A suspensão das importações foi comemorada pelo setor produtivo de Minas Gerais. Além dos produtores, cooperativas e indústrias estão acumulando prejuízos devido ao desequilíbrio entre a oferta e o consumo, o que vem sendo ainda mais prejudicado com as importações.
De acordo com o presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e diretor-secretário da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Rodrigo Alvim, a suspensão das importações é um resultado positivo conquistado pela cadeia produtiva.
"Para o governo entender a gravidade do mercado e a necessidade de limitar as importações foi preciso uma grande mobilização do setor. A crise vivenciada hoje no setor não teria sido tão grave caso o governo tivesse sido sensível às tantas vezes que nós falamos ao Mapa e ao Mdic sobre a necessidade de adotar alguma medida para evitar essa concorrência predatória".
Alvim ressalta que é importante controlar a entrada de leite proveniente dos países do Mercosul no Brasil, o que pode ser feito com o estabelecimento de cotas, como adotado há alguns anos com a Argentina. A medida evitaria o superabastecimento do mercado.
"É importante dizer que não queremos proibir as importações de leite. Queremos, assim como feito com a Argentina, estabelecer cotas. Neste momento, em que as indústrias estão com estoques elevados de leite em pó e leite UHT e a produção nacional em crescimento, haveria necessidade de importar leite? Neste cenário, a importação desenfreada prejudica a produção brasileira. Após o dano, o restabelecimento da produção não é fácil e nem rápido".
Mercosul - Outra ação que poderá ser adotada pelo governo brasileiro é a retirada do leite do Mercosul.
"A retirada é uma excelente solução. Isso porque o leite é um produto absolutamente sensível em todo o mundo e amplamente protegido. Na União Europeia são estabelecidas barreiras para proteger os produtores, seja com a criação de tarifas, subsídios ou situações que inibam as importações. O leite é produto diferente, que não estoca e que não se faz especulação de mercado. Tirar o leite do Mercosul, para nós brasileiros, seria uma medida extremamente inteligente. Não havendo concorrência predatória, poderemos ampliar nossa produção, nos organizarmos e nos tornamos mais competitivos e, assim como outros produtos do agronegócio, exportar", disse Alvim.
Valorização - A suspensão das importações de leite do Uruguai poderá contribuir para o equilíbrio entre a oferta e a demanda e, consequentemente, para a valorização dos preços pagos pelo leite. De acordo com o presidente da Federação de Cooperativas Agropecuárias de Leite em Minas Gerais (Fecoagro Leite Minas), Vasco Praça Filho, a situação do produtor rural é crítica.
"A suspensão das importações é uma demanda de todo o setor produtivo do leite. Esperamos que ocorra a melhoria nos preços pagos aos pecuaristas. O produtor está sofrendo demais, não conseguindo pagar custos e sem renda. Em relação ao ano passado, já registramos uma queda média de 50% nos preços do leite. O momento é de dor do pecuarista que precisa se unir às cooperativas, sindicatos e entidades representativas para lutar em prol da produção nacional", disse Praça Filho.
Fonte: Diário do Comércio de Minas