O Brasil, maior produtor e exportador global de café, terá de elevar a sua produção em cerca de 40% ou 20 milhões de sacas até 2030, para manter a atual participação dominante na safra mundial da commodity, estimou o diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC), o brasileiro José Sette.
O prognóstico leva em consideração um crescimento de 2% ao ano na demanda mundial pelo produto, até 2030. Nesse cenário, a produção mundial teria de crescer 49 milhões de sacas até 2030 para atender a demanda.
A projeção foi feita por Sette durante a abertura do 25º EnCafé, evento do setor promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), na quarta-feira (22).
Já em uma visão otimista, de aumento do consumo 2,5% ao ano, a produção global teria de crescer 64 milhões de sacas no período, enquanto numa perspectiva conservadora, de demanda 1% maior ao ano, a expansão precisaria ser de 23 milhões de sacas.
Se o Brasil - segundo consumidor global de café atrás dos Estados Unidos - produz historicamente 40% da safra global, sua participação na exportação é um pouco menor, mas igualmente relevante.
Na temporada 2016/17, a OIC contabilizou exportações de 35,8 milhões de sacas de cafés naturais do Brasil, de um total de exportações globais de 122,45 milhões de sacas, o que significa uma parcela brasileira do mercado global de cerca de 30%. Pela mais recente estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra deste ano o Brasil somou 44,77 milhões de sacas de café arábica e conilon (robusta), queda de 12,8% na comparação com 2016.
Para o próximo ano, há a expectativa de uma colheita maior, por ser um ciclo de bienalidade positiva para o arábica, mas a estiagem em setembro e outubro, durante a floração dos cafezais, deixou o setor receoso quanto ao potencial produtivo em 2018.
"Ainda é um pouco cedo para qualquer definição de safra (no Brasil). Só teremos isso lá para janeiro", alertou Sette em conversa com jornalistas, no evento na Praia do Forte, distrito de Mata de São João (BA).
Equilíbrio
A oferta de café para a indústria nacional em 2018 deverá ser "equilibrada, sem exceder, nem faltar", mas o clima ainda figura como um fator de risco para esse cenário, avaliou nesta quinta-feira o presidente da Abic, Ricardo Silveira.
"Vai depender das chuvas, mas por enquanto o mercado está tranquilo. Apesar da seca (em setembro), houve uma melhora agora, e acho que deveremos ter um mercado tranquilo (em 2018)", destacou Silveira.
Nas últimas semanas, a disponibilidade de produto para a indústria de torrefação vem melhorando, em especial a de conilon, com produtores dispostos a vender.
Entre 6 e 10 de novembro, o Índice de Oferta de Café para a Indústria (IOCI) do conilon, medido pela Abic, atingiu 7,77 pontos, pela primeira vez no ano acima da marca de 7 pontos, a partir da qual o suprimento é considerado normal.
No geral, considerando-se robusta e arábica, o indicador marcou 6,26 pontos, ainda apontando oferta seletiva, mas quase normalizada. O índice vai de 1 a 9 e, quanto maior, melhor a disponibilidade.
Conforme Silveira, nem mesmo a perspectiva de preços mais baixos no ano que vem, deve fazer os produtores segurarem a colheita, como ocorreu neste ano.
Fonte: Reuters