A Alliance Boots, uma das grandes redes de distribuição e de varejo de medicamentos da Europa, desistiu oficialmente de comprar uma participação na atacadista brasileira Athos Farma, que enfrenta dificuldades financeiras. O fim da negociação ocorre oito meses depois de a empresa com sede na Inglaterra ter anunciado um acordo para compra inicial de 25% do capital acionário da Athos, quarta maior distribuidora de medicamentos do país.
Segundo informou a Alliance Boots em comunicado na sexta-feira, "como as condições [do acordo de aquisição] não foram cumpridas", a empresa "decidiu não continuar com o investimento" com a Athos Farma. A conclusão da operação já era esperada para o fim de 2008. Mesmo assim, a Boots, cujo controle pertence ao fundo de investimentos em private equity Kohlberg, Kravis, Roberts (KKR), afirmou, sem dar detalhes, que se mantém interessada no mercado farmacêutico brasileiro de cuidados pessoais.
A desistência da empresa, que faturou R$ 50 bilhões (15,3 bilhões de libras esterlinas no ano fiscal mais recente, de 2007/08) acontece em meio ao agravamento da crise financeira da distribuidora brasileira. Três dias antes do comunicado da Boots, o Valor revelou que a Athos enfrenta escassez de capital de giro, falta de estoques e vem atrasando o pagamento de fornecedores. A indústria aceita salvá-la se houver um plano de negócios "viável" para a atacadista.
A Athos transformou-se na quarta maior distribuidora de medicamentos do país por meio de fusões, faturando mais de R$ 2 bilhões em 2007. Seus acionistas tinham intenção de abrir o capital da empresa, mas tiveram de rever o plano depois do fim da febre dos IPOs. O ingresso da Boots era considerado por pessoas que acompanham o setor como a tábua de salvação da empresa, mas a gestão da dívida da Athos inviabilizou a transação. Segundo fontes, a dívida da empresa seria superior a estimativa inicial de R$ 50 milhões, superando a casa dos R$ 300 milhões com bancos e indústrias. "É um número bem pior do que imaginava", disse uma fonte do setor.
Como parte do plano de salvamento da empresa, a família Athouguia Dias continuará à frente dos negócios, mas os credores vão ditar os rumos estratégicos e administrar a dívida da companhia. Segundo apurou o Valor, eles deverão indicar três integrantes no conselho de administração da Athos - dois deles representando os bancos e um terceiro a indústria. A Athos Farma e Boots não retornaram o pedido de entrevista.
Veículo: Valor Econômico