A recente elevação das cotações do trigo pode estimular os produtores brasileiros a ampliar a área de cultivo neste inverno, permitindo a recomposição de perdas registradas na safra passada. O plantio começou a ser realizado neste mês.
A consultoria Safras e Mercado aposta em um aumento da área cultivada para até 2 milhões de hectares neste ano, ante 1,9 milhão de hectares no inverno passado, alta de 5,2%. “Será uma elevação pequena, que deve ocorrer em um movimento de recuperação da área que deveria ter sido plantada na safra passada”, estima o analista de mercado de trigo Jonathan Pinheiro. A produção poderá chegar a 5 milhões de toneladas, segundo ele. Se confirmada, a estimativa representa um crescimento de 16,2% ante o ciclo passado. “Esse volume é o normal para a cultura. Em 2017, a quebra foi muito expressiva, o que reduziu as bases de comparação”, observa. Na safra 2016/2017, a queda da produção foi de 28% ante a temporada anterior.
No Paraná, principal estado produtor, o Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Estado (Deral) projeta produção de 3,3 milhões de toneladas e área de 1 milhão de hectares, alta de 50% e de 8%, respectivamente. “O cenário é um pouco mais positivo”, diz o agrônomo Carlos Hugo Godinho. O custo de produção, contudo, está em R$ 38 por saca, acima do valor ao produtor, de R$ 35.
O incremento tem como impulso o aumento do valor pago pelo trigo. A tonelada no Paraná aumentou 12,2% nos últimos 30 dias, e fechou na última sexta-feira (13) a R$ 783,8, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A reação é atribuída à alta do dólar, o que deixa o trigo argentino mais caro.
“Os produtores que ainda não definiram as áreas de plantio podem optar por ampliar a aposta na cultura com base nesse aumento”, estima o assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Alan Malinski.
Conforme Pinheiro, da Safras e Mercado, a perspectiva é de que os preços sigam em alta, considerando a oferta restrita no mercado interno. “A atenção agora é para como vai se comportar a cotação do dólar”, pondera. “Se o cenário se mantiver assim, há espaço para alta dos preços inclusive na safra.”
Segundo ele, mesmo com os preços encarecendo as importações, elas devem atingir o segundo maior volume histórico nesta safra, perdendo apenas para a temporada passada, quando chegaram a 7,1 milhões de toneladas. Desde agosto de 2017, o Brasil importou 4 milhões de toneladas de trigo. “Até julho, esse volume deve atingir 6,5 milhões de toneladas”, avalia.
Outras culturas
Apesar da perspectiva de aumento da produção de trigo, muitos produtores que estão receosos com as perdas registradas na última safra devem direcionar seus esforços para outras culturas de inverno. Embora a produção tenha sido menor do que o esperado na safra passada, os preços estavam pressionados pelo dólar baixo, o que favoreceu as importações da Argentina.
“Quem efetivou contratos de compra conseguiu apostar em outras culturas de inverno”, afirma Malinski, da CNA. “Já no caso da aveia, por exemplo, há interesse no aumento do cultivo para integração lavoura-pecuária ou ainda para a venda de sementes”, argumenta. Outro fator de estímulo, segundo ele, é o fato de que o trigo é mais sensível ao clima.
Segundo dados do Deral, a área cultivada com cevada no Estado deve crescer 7,3%, para 54,1 mil hectares. A produção deve chegar a 250,8 mil toneladas, avanço de 49,7%.
Fonte: DCI