A paralisação dos caminhoneiros, iniciada no dia 21 de maio, já causou prejuízos em importantes setores do agronegócio de Minas Gerais. A produção de leite, tanto nas fazendas como nas indústrias, foi prejudicada e a falta de transporte provoca o descarte de milhões de litros. No setor sucroenergético, as usinas reduziram a atividade e correm o risco de interromper a colheita e o processamento da safra em função da falta de insumos, como o combustível para as máquinas.
No setor lácteo, as indústrias instaladas em Minas Gerais estão recebendo apenas cerca de 20% do volume captado diariamente ou 3,2 bilhões de litros. De acordo com o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg), Celso Costa Moreira, a média de industrialização de leite em Minas gira em torno de 16 milhões de litros diários. O volume de 80% de leite que não chega às unidades está sendo descartado nas fazendas, o que gera prejuízos enormes para o setor.
“Como todos os setores que dependem do transporte, estamos com grandes dificuldades. O setor de leite e derivados acumula danos bem maiores, por trabalharmos com produtos perecíveis. Para se ter uma ideia, em Minas Gerais, são industrializados 16 milhões de litros de leite ao dia. No momento, o leite produzido no campo não consegue ser transportado para a indústria. Pelas informações que temos recebido, não mais que 20% do leite captado está chegando à indústria de laticínio. A cada dia e a cada nova ordenha, o leite que está armazenado nas fazendas precisa ser descartado. É um prejuízo enorme para o produtor”, explicou Moreira .
Mesmo as indústrias que estão recebendo uma parcela do leite enfrentam problemas. A falta de transporte já afeta o abastecimento das unidades e faltam diversos insumos, como embalagens, por exemplo. O desabastecimento impede o fluxo da produção.
Outro problema enfrentado são os caminhões que estão presos nos protestos. A maior parte dos veículos está carregada e o produto, principalmente, o leite cru, já está impróprio para o consumo.
“A logística está totalmente comprometida. Além do leite cru, os produtos acabados também estão impedidos de circular. Prevemos que em um curto espaço de tempo, caso a paralisação dos caminhoneiros seja mantida, haverá desabastecimento dos mercados varejistas. O mercado hoje, de maneira geral, trabalha em sistema conhecido como “just in time”, ou seja, com estoques menores. Por isso, o reabastecimento é constante e a interrupção compromete rapidamente o varejo”, disse Moreira.
Os problemas causados pela paralisação dos caminhoneiros agravam a situação do setor lácteo, que já trabalha com a margem de lucro reduzida. Para os produtores rurais a situação é ainda mais grave, uma vez que o prejuízo por descartar a produção é integral.
Com a falta de transporte para o leite, o pecuarista e vice-presidente da Cooperativa do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Cotrial), Jonadan Ma, descartou, na última sexta-feira, 26 mil litros de leite na Fazenda Boa Fé do Grupo Ma Shou Tao, em Conquista, na região do Triângulo. Somente com este descarte, o prejuízo acumulado foi de R$ 45 mil.
“Os laticínios não estão conseguindo captar e o leite precisa ser descartado. Somente na sexta foram 26 mil litros. É uma perda grande e vai continuar assim. O leite não pode ser doado porque não é processado. Outro problema que estamos enfrentando é a falta de suprimento para os animais”, explicou Janadan Ma.
Ainda segundo o pecuarista, a falta de ração para o rebanho pode acarretar em quebra da produção. Isso porque as vacas em período de lactação, caso não alimentadas corretamente, perdem o potencial e, mesmo com a retomada da suplementação, não conseguem recuperar a produtividade.
“Todos estes fatores acarretam em aumento dos custos. Mesmo assim, o setor apoia a manifestação. O óleo diesel tem um dos custos mais elevados na agropecuária. Estamos perdendo dinheiro. O descarte dos 26 mil litros gerou um prejuízo de R$ 45 mil. Aceitamos as perdas, mas não concordamos em assumir os prejuízos que vieram de um sistema político e econômico embasados em corrupção”, explicou.
Fonte: Diário do Comércio de Minas