Com lucro em macarrão e biscoitos, M. Dias Branco parte para saudáveis

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No Nordeste, biscoito cream cracker é consumido como se fosse pão. Não por acaso, a cearense M. Dias Branco - maior fabricante de massas e biscoitos da América Latina, que faturou R$ 2,2 bilhões em 2008 e acaba de registrar lucro recorde de R$ 77,9 milhões no primeiro trimestre - fez sua fortuna sobre latas de dois quilos de biscoito Fortaleza, vendidas porta-a-porta na região, abastecendo a dispensa das famílias mais pobres. Ao longo dos anos, o negócio que começou em 1936 como uma padaria, conduzida pelo imigrante português Manuel Dias Branco, ganhou muito mais "sustança" e agora prepara novos voos.

 

Com produção verticalizada, ações no Novo Mercado da Bovespa (o mais alto nível de governança corporativa) e um caixa que se mantém robusto em tempos de crise, a M. Dias Branco está pronta para sofisticar a produção. O grupo é dono de quatro moinhos de farinha e de sete fábricas de massas, biscoitos, óleos e gorduras, que abastecem tanto o varejo quanto as próprias indústrias e de terceiros. Só na ampliação da produção de margarinas e farinhas este ano a empresa está investindo R$ 90 milhões, recursos destinados a dobrar a capacidade da unidade de Gorduras e Margarinas Especiais, em Fortaleza, e ao moinho de Tambaú, na Paraíba.

 

"Na crise, as pessoas comem mais nossos produtos", diz o vice-presidente industrial Francisco Ivens de Sá Dias Branco Júnior, neto do fundador. Isso porque, segundo o empresário, o consumidor privilegia o consumo doméstico no lugar das refeições fora do lar, o que tende a beneficiar as vendas de massas e biscoitos.

 

No curto prazo, novas categorias como chocolates, barras de cereal e misturas para bolo estão na mira, muito provavelmente via aquisições, segundo Ivens Júnior. "Estamos à procura de categorias que proporcionem sinergia com o nosso portfólio, seja na produção ou na distribuição", afirma.

 

O grande salto, no entanto, deve vir da sua fábrica em Jaboatão dos Guararapes (PE), no segundo semestre: um "nutracêutico", que o empresário guarda sob sete chaves. "São produtos inéditos no mercado", resume. Em tese, um alimento nutracêutico é todo aquele que nutre e traz saúde, atuando inclusive na prevenção de doenças. "O mercado hoje já tem a margarina que inibe a absorção do colesterol ruim, caso da Becel, ou o iogurte com um bacilo que melhora o trânsito intestinal, a exemplo do Activia", diz, dando como exemplos dois dos alimentos funcionais de maior aceitação entre consumidores, fabricados respectivamente por Unilever e Danone.

 

Um exemplo de produto com esse apelo saudável, segundo Ivens Júnior, são os biscoitos sob a marca Richester isentos de açúcar na formulação. "Os nossos produtos 0% de açúcar usam o maltitol como substituto do açúcar, que não oferece o gosto ligeiramente amargo do adoçante comum", afirma o empresário.

 

Além do novo produto, que vai inaugurar uma categoria na M. Dias Branco, a fabricante vem diversificando seu mix com outros itens que tenham essa mesma proposta. São exemplos o snack à base de batata, assado e não frito, e o biscoito infantil enriquecido de ferro e vitaminas do complexo B, também feito sob a marca Richester, tradicional no Nordeste. Todos os produtos da M. Dias Branco estampam na embalagem o selo "0% de gordura trans". "A saudabilidade nos alimentos é cada vez mais exigida pelo consumidor e, para a indústria, essa aposta resulta em itens que proporcionam maior margem de lucro", afirma Ivens Júnior.

 

Os últimos resultados provam que a estratégia têm dado certo. No primeiro trimestre deste ano, a receita operacional líquida cresceu 12,7%, para R$ 570,8 milhões, enquanto o lucro líquido subiu 28,5%, atingindo R$ 77,9 milhões. Esses números fazem parte do balanço proforma apresentado ontem pela M. Dias Branco, que leva em conta a aquisição da Vitarella desde 1º de janeiro de 2008. O anúncio da aquisição, na verdade, se deu no início do segundo trimestre, em 7 de abril. Se considerada a compra a partir dessa data, os resultados são ainda melhores: crescimento de 36,2% na receita líquida do primeiro trimestre e de 63% no lucro líquido do período.

 

"Tivemos um crescimento expressivo da margem bruta, de 36% para 42% neste primeiro trimestre, em relação aos primeiros três meses de 2008, que foi resultado de um menor custo de produção", afirma Geraldo Luciano Mattos Júnior, vice-presidente de investimentos e controladoria. A redução desses custos, diz ele, foi obtida devido à maior eficiência na compra das principais matérias-primas - trigo e óleo. "Atingimos também uma margem Ebtida (lucro antes dos juros, impostos e depreciações) de 21%, algo que estávamos perseguindo desde a abertura de capital, em 2006, e não havia sido possível devido ao custo do preço do trigo, que agora caiu", diz Mattos Júnior.

 

Segundo o executivo, a M. Dias Branco avalia o início da atividade de moagem de trigo na região Sudeste ou Sul do país - hoje, todos os seus moinhos estão no Nordeste, o que inviabiliza que a fábrica da marca de biscoitos e massas Isabela, por exemplo, em Bento Gonçalves (RS), receba a farinha do grupo. "É mais interessante para nós instalar o próprio moinho, porque os concorrentes do segmento não se modernizaram o suficiente", afirma Mattos Júnior. "Mas ainda não temos nada".

 

As investidas em produtos de maior apelo saudável da M. Dias Branco nascem no Nordeste - laboratório da empresa, para onde todos os seus concorrentes correram nos últimos anos -, e passam a ser adotadas nas suas grandes marcas no Sul e Sudeste do país, onde tem, além de Isabela, nomes como Adria, Basilar e Zabet. A Adria, por exemplo, já lançou o macarrão Activita, sem conservantes, nas versões soja mais cálcio e 3 cereais (trigo, cevada e aveia). Todas essas iniciativas, ressalta Ivens Júnior, acontecem sem que a M. Dias Branco abra mão do consumidor mais remediado, que há mais de meio século consome a marca Fortaleza. Ao todo, a companhia soma mais de 300 itens, distribuídos em 40 marcas.

 

Sua atividade de exportação ainda é inexpressiva - menos de 1% da produção - e restrita ao arquipélago africano de Cabo Verde, que importa gorduras e margarinas, e à Venezuela, para onde a M. Dias Branco exporta massas. "Há oportunidades para exportar para África e especialmente para a América do Sul, ainda este ano", diz Ivens Júnior, que vê chances inclusive para alimentos de apelo saudável.

 

Veículo: Valor Econômico


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