Arapuã tenta reviver com lojas de roupa

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Companhia busca reverter falência decretada em março e entra com pedido de recuperação judicial

 

Jorge Simeira Jacob era um dos empresários mais poderosos do varejo nacional até o colapso financeiro de sua empresa, a Arapuã, em 1998. Após travar uma incansável disputa nos tribunais contra o seu arqui-inimigo, o empresário Leo Kryss, dono da Evadin, ex-fabricante de televisores com a marca japonesa Mitsubishi no Brasil, a família Simeira Jacob ainda tenta salvar o pouco que sobrou de seu antigo reinado, mas a situação complicou-se nos últimos dois meses.

 

Aos trancos e barrancos, a Arapuã buscou outros meios para sobreviver ao longo da última década. Sem crédito com os fornecedores de eletrodomésticos, a empresa transformou-se, há cerca de um ano, em uma rede de 14 lojas de vestuário voltada para as classes D e C, que opera com o nome fantasia Sete Belo.

 

As unidades, localizadas em São Paulo e Belo Horizonte, funcionam em imóveis que pertencem à Arapuã. A empresa ainda detém um patrimônio imobiliário considerável, avaliado em R$ 20 milhões, que inclui o edifício onde funciona sua sede, na Rua Sergipe, em Higienópolis, bairro de alto poder aquisitivo em São Paulo.

 

No entanto, uma reviravolta na longa batalha judicial travada contra a Evadin volta a assombrar a varejista, cujos planos de seguir em frente estão ameaçados. A ex-fabricante de televisores e outra credora da Arapuã, a Primafer, conseguiram decretar, finalmente, a falência da varejista. A decisão foi tomada no dia 3 de março pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

 

A sentença restabeleceu a quebra da varejista que fora decretada, em primeiro grau, no dia 31 de julho de 2002, e ordenou a lacração das lojas da Arapuã. A Evadin foi nomeada síndica da massa falida, para desespero da Arapuã.

 

No mês passado, o advogado Ricardo Tepedino, que representa a Arapuã desde 1998, entrou com pedido de recuperação judicial da empresa. A medida pode ser a última carta na manga para livrar a varejista da falência, da qual ela havia conseguido escapar até agora.

 

Por todos esses anos, a Arapuã entrou com recursos no Tribunal de Justiça de São Paulo, que havia concedido sinal verde para a implementação do plano de recuperação proposto e que contou com a adesão de vários dos credores - com exceção da Evadin.

 

A fabricante forneceu mercadorias para a Arapuã antes de a empresa ir à lona e foi prejudicada pelo "default" da varejista. Segundo balanço enviado para a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), o passivo a descoberto da Arapuã era de R$ 4,5 bilhões no fim de 2008. As dívidas da empresa totalizavam R$ 3,7 bilhões, dos quais R$ 2,9 bilhões com fornecedores de mercadorias.

 

Procurados pelo Valor, representantes da Evadin não foram localizados em Manaus. Com problemas financeiros, a empresa fechou seu escritório em São Paulo e transferiu-o para a Zona Franca. Segundo informações do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, a fábrica da Evadin está praticamente parada. A Mitsubishi encerrou o acordo de transferência de tecnologia com a empresa.

 

Segundo Ricardo Tepedino, a nova Lei de Falências permitiu que a Arapuã pudesse recorrer novamente à Justiça e voltasse a apresentar um novo plano de recuperação, uma vez que a quebra da empresa foi decretada no antigo regime. "A nova lei admite que o devedor que teve a sua falência decretada sob a égide do Decreto 7.661/45 possa valer-se desse moderno instrumento de preservação da empresa viável", justifica Tepedino.

 

O advogado buscará mostrar que a Arapuã não morreu para justificar a recuperação judicial. Com o novo posicionamento das lojas, que passaram a vender vestuário, o braço "saudável" (operacional) da Arapuã fechou o ano de 2008 com um faturamento de R$ 37,6 milhões e obteve um lucro bruto de R$ 13,1 milhões. Segundo os defensores da Arapuã, em operação, a empresa valeria R$ 70 milhões.

 

Em documento entregue à Vara de Falência e Recuperação Judicial de São Paulo, os advogados da Arapuã não poupam críticas à Evadin, a quem acusam de ser responsável pelo fracasso do plano de recuperação aceito em 2003 pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. "Não entra na cabeça de ninguém que a adesão maciça de 85% dos créditos e da maioria dos credores tenha de sucumbir à vontade vingativa de alguns poucos", afirma o texto, que refere-se à Evadin como "arqui-inimiga".

 

A Arapuã foi uma das vítimas das crises da Ásia e da Rússia, no fim dos anos 90, e que também levaram à lona outras grandes varejistas brasileiras. Para responder à crise e ao pânico nos mercados financeiros globais, o governo teve de elevar acentuadamente as taxas de juros, o que provocou um surto de inadimplência. Tomadas pela euforia do Plano Real, em 1994, muitas varejistas haviam aberto a torneira do crédito para os consumidores, concedendo financiamentos de alto risco
 


Veículo: Valor Econômico


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