Preocupados com a qualidade dos alimentos que consomem, moradores da cidade têm optado por comprar produtos orgânicos e, na maioria das vezes, direto do produtor, por meio de algumas feiras disponíveis na capital.
Só a Associação de Agricultura Orgânica (AAO) – que administra a feira de produtos orgânicos no Parque da Água Branca, na zona oeste da cidade –, possui cerca de 300 famílias participantes da cadeia produtiva. Em 1991, quando foi criada, eram 12 o número de credenciados.
Em todo o Brasil, o número de produtores orgânicos legalizados pelo Ministério da Agricultura, Pecurária e Abastecimento é de 22 mil, segundo dados divulgados no site da pasta.
A coordenadora adjunta do curso de nutrição do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Cristiane Zago Zácari, explica que a principal diferença entre alimentos orgânicos e não orgânicos é a ausência de insumos químicos e agrotóxicos. “São utilizados adubos naturais, como estrume e restos de alimentos”, esclarece a nutricionista.
De acordo com ela, há quem defenda o uso de agrotóxicos com base em alguns artigos científicos que apontam mais nutrientes em vegetais que utilizam insumos químicos. “Esses alimentos não precisam se preocupar em se defender de insetos, porque os pesticidas cuidam de afastar pragas, mas existe um dano para a saúde.”
São muitos os motivos para não querer consumir produtos com agrotóxicos. Um estudo da Datasus indica que o contato direto com insumos químicos causou a morte de mais de mil pessoas entre 2008 e 2017. Em âmbito nacional foram 7.267 pessoas mortas em decorrência do consumo de agrotóxicos no mesmo período.
Entre janeiro e agosto deste ano já foram liberados mais de 200 novos tipos de agrotóxicos no País, dos quais 40% são classificados como altamente ou extremamente tóxicos.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), em 2017 a agricultura brasileira usou cerca de 540 mil toneladas de pesticidas. Outro estudo, de 2011, apontou que em média o brasileiro consume 5,2 litros de agrotóxicos por ano.
Crescimento
Dados da Naturaltech e da Bio Brazil Fair, divulgados em 2018, mostram que o setor de produtos orgânicos cresce em média 20% por ano, além de movimentar R$ 3 bilhões na economia brasileira anualmente.
A Feira do Produtor Orgânico é um dos eventos de comércio de produtos orgânicos mais antigos e conhecidos da cidade de São Paulo. Localizado no parque do Água Branca, zona oeste da capital, está em atividade há 28 anos, sempre às terças-feiras, sábados e domingos.
“Quando começamos, o orgânico era uma novidade, que cresceu e hoje representa um conceito de vida”, diz a técnica agrícola Thais Raiz, que comanda a banca do café orgânico desde 1995 com os três filhos e a sócia Maria de Fátima. “O público é fiel, pois o espaço também se tornou cultural”, orgulha-se.
Em julho deste ano, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano entregou certificados de produção orgânica para 13 agricultores familiares de Parelheiros, na zona sul. O certificado permite a venda de produtos em supermercado, lojas, restaurantes e feiras livres em todos os estados do País.
A prefeitura de Mauá, na região metropolitana, inaugurou, no início de agosto, a sua primeira Fábrica de Mudas, que realiza doações às oficinas verdes das escolas municipais e também aos moradores que possuem hortas.
“Temos recebido uma grande demanda pelas mudas. Em média 60 pessoas por dia, além das mudas que são destinadas as escolas”, acentua o secretário de segurança alimentar de Mauá, Matheus Ferreira.
O projeto foi concebido por meio de doações realizadas pelos comerciantes locais, e também pelos moradores do município. Começou com cerca de 7,6 mil, dos quais 3 mil já foram destinados a doações.
“Nós cuidamos das mudas por 30 dias, antes de poder repassá-la, pois se trata da fase mais delicada da semente. Não utilizamos insumos químicos, nossas mudas são orgânicas”, conta Ferreira.
Fonte: DCI