Novas regras detalharão mecanismos de controle como a certificação de produtos livres de agrotóxicos
Nada como a Semana dos Alimentos Orgânicos, que se encerra no domingo, para o governo federal anunciar regras que faltavam de regulamentação do setor. Deve ser publicada hoje no Diário Oficial da União a instrução normativa que detalha como serão os mecanismos de controle (certificação, por exemplo), para que o consumidor possa ter certeza de que está comprando um orgânico alimento mais saudável, cultivado sem uso de agrotóxicos.
– A agricultura orgânica está crescendo muito, e é preciso organizar o mercado contra pessoas mal-intencionadas – afirma o coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias.
Os produtores têm até o final do ano para se ajustar as regras. Com isso, espera-se também traçar uma radiografia do setor. A estimativa, sem dados concretos, é de que o mercado brasileiro de orgânicos cresça ao redor de 30% ao ano.
No Rio Grande do Sul há cerca de 5 mil produtores orgânicos, informa a coordenadora da Comissão da Produção Orgânica no Estado, Angela Escosteguy. Entre eles, o agricultor Milton Kras Borges, 47 anos, que há três anos começou a migrar parte de sua produção de bananas e maracujás em Torres para a agricultura orgânica. Dá mais trabalho, com maior custo de mão-de-obra:
– Preciso fazer toda a limpeza da planta, o controle da erva daninha, manualmente.
O período mais difícil é durante o processo de desintoxicação do solo.
– O primeiro impacto é de que (a planta) vai morrer, porque vem em um ritmo de adubação que é interrompido. Mas o solo começa a se recompor devagarinho. Se tivesse feito de uma vez, iria quebrar no meio do caminho – revela Borges, que vende seus orgânicos para a rede Wal-Mart e pretende aumentar gradativamente a produção em sua propriedade.
Para o consumidor, está cada vez mais mais fácil encontrar esses produtos. Nas lojas BIG e Nacional, duas das bandeiras da multinacional no Estado, as vendas de orgânicos só na mercearia cresceram 22% em um ano, com alta de 15% na variedade ofertada (hoje em 250 itens de 140 parceiros).
– Existe um público interessado. O consumidor gaúcho é exigente e está disposto a pagar mais por esses produtos. Às vezes, falta uma orientação do próprio supermercadista – avalia o presidente da Associação Gaúcha dos Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo.
A estimativa da entidade é que os orgânicos custam, em média, cerca de 20% mais do que os produtos convencionais, chegando a 40% no caso de hortigranjeiros. Angela destaca ainda o papel das feiras orgânicas – são 150 semanais no Estado – para aproximar o produtor do consumidor e oferecer um produto sem intermediário.
E o país ainda exporta orgânicos. Em 2008, 64 empresas do Projeto Organics Brasil exportaram US$ 58 milhões nesses produtos. Para 2009, a expectativa é de um crescimento de 20%. O número de participantes já chega a 74, sendo três do Estado.
Veículo: Jornal Zero Hora - RS