A ABIMAPI (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados) divulga as informações do desempenho das categorias as quais representa, referentes ao ano de 2019. Juntos, os segmentos movimentaram R﹩ 36,7 bilhões, 3,5% acima do valor alcançado no ano anterior (R﹩ 35,4 bilhões) e 3,3 milhões de toneladas em volume de vendas, mesmo resultado conquistado em 2018.
O levantamento realizado pela consultoria Nielsen mostra que, apesar das expectativas positivas de recuperação da economia no início do último ano – em função de uma leve recuperação do nível de emprego no primeiro trimestre, da inflação sob controle e uma tímida retomada do otimismo por parte dos consumidores, fatores como: a alta do dólar, o atraso nas reformas e instabilidade política foram alguns dos pontos que impactaram negativamente a tão esperada recuperação da economia.
“Este cenário não favoreceu o poder de compra das famílias, refletindo no panorama específico do nosso setor, apresentado pela consultoria”, contextualiza Claudio Zanão, presidente-executivo da associação.
Ainda de acordo com a Nielsen, o Cash & Carry, ou atacarejo, foi o principal canal de abastecimento dos lares por parte dos brasileiros, superando os tradicionais hipermercados.
Biscoitos
A indústria de biscoitos atingiu R$ 18,7 bilhões e 1,47 milhão de toneladas de produtos, leve aumento de 1,7% em faturamento e retração de 1,08% em volume de vendas na comparação com 2018 (R﹩ 18,4 bilhões e 1,49 milhão de toneladas), respectivamente.
A falta de confiança na economia, que não permite grandes investimentos ou compras a longo prazo e a conjuntura econômica enfrentada pelo país trouxe a racionalização do consumo, movimento enraizado no mercado.
“Podemos notar nitidamente este hábito de compra com o crescimento do segmento rosquinhas [6,5% em volume e 4,7% em faturamento], muito em função das embalagens grandes, os pacotões, disponibilizados no varejo por menor patamar de preços. Aqui temos a famosa relação custo versus benefício”, explica Claudio Zanão.
Os biscoitos mais vendidos em 2019 foram os recheados (363 mil toneladas), água e sal/ cream cracker (312 mil toneladas) e secos / doces especiais (209 mil toneladas).
Massas Alimentícias
O setor de massas alimentícias registrou aumento de 6,6% em faturamento e 1,04% em volume de vendas, quando comparados com os valores de 2018, atingindo R﹩ 9,7 bilhões e 1,2 milhão de toneladas (em 2019), respectivamente.
Devido ao baixo preço unitário, o crescimento foi impulsionado principalmente pelas categorias de massas instantâneas, que faturou R﹩ 2,6 bilhões e vendeu 168 mil toneladas.
Apesar disso, as massas secas ainda foram as mais consumidas, com 959 mil toneladas, equivalentes a R﹩ 4,9 bilhões. “As vendas dos tipos comuns aumentaram 11%, com um crescimento expressivo de 17,7% em faturamento totalizando cerca de 1 bilhão”, diz Zanão.
Pães & Bolos Industrializados
Em 2019, as indústrias de pães movimentaram um total de R﹩ 7 bilhões – receita 4,5% a mais que em 2018 – resultante da venda de 537 mil toneladas de produtos, com aumento de 3,4%.
Já o mercado de bolos industrializados, atingiu R﹩ 1,1 bilhão em faturamento, 1,5% a mais se comparado com 2018.
“Estas categorias ganham espaço no mercado devido à praticidade e maior vida útil. Além disso, fatores como qualidade, preço e saudabilidade determinam as constantes novidades deste setor”, finaliza Claudio Zanão.
Como a Covid-19 pode afetar o setor?
De acordo com dados Nielsen divulgados em março, o distanciamento social e falta de estoque nos pontos de vendas de algumas categorias, como de higiene e limpeza, por exemplo, são fatores que têm contribuído com o crescimento, que chega a 17%, do e-commerce no Brasil. O canal de compra, tende a ampliar sua importância durante e após a pandemia COVID-19.
A pesquisa também apontou que muitas pessoas estão armazenando alimentos e optando pelos não perecíveis, como feijão enlatado, snacks de frutas e biscoitos, o que gerou um aumento de 11% na categoria “industrializados”. Em muitos casos, o abastecimento da despensa adiantará as compras futuras, o que pode gerar um ponto mínimo de vendas a médio prazo, à medida que esses produtos vão sendo consumidos gradualmente.
“Nós crescemos em consumo, mas não podemos comemorar pela situação que estamos enfrentando. Em decorrência da mudança dos hábitos, por conta da pandemia da COVID-19, as pessoas estão optando por produtos com maior shelf life, praticidade e um bom custo benefício, o que gerou, entre fevereiro e abril, um aumento médio de 15% no volume de vendas das categorias ABIMAPI. Esse número não deve se manter, a expectativa é chegar ao final de 2020 com um crescimento de 3% a 5%, que já será um ótimo resultado para o setor”, explica Zanão.
Vale destacar, que esse panorama é um lembrete sobre a necessidade de seguir impulsionando as cadeias de suprimento e logística, de modo a contar com flexibilidade suficiente para responder às mudanças do comportamento de consumo mediante a eventos como a COVID-19.
A manutenção de higiene e produção das fábricas de alimentos, das categorias representadas pela ABIMAPI, está sendo mantida em pleno funcionamento, garantindo a segurança tanto dos alimentos quanto dos funcionários, além de promover o fornecimento à população, principalmente em um momento cuja demanda poderá aumentar no curto prazo, tendo em vista a recomendação de isolamento por parte do Ministério da Saúde.
“Estamos acompanhando diariamente a situação do abastecimento de alimentos no país, com o objetivo de identificar possíveis problemas e dar maior agilidade no encaminhamento de soluções. Enviamos recentemente aos Governadores, o pedido de liberação da circulação e manutenção da produção de alimentos nos Estados, a fim de manter e regular o abastecimento nos pontos de vendas (mercados, supermercados e hipermercados)”, pontua Zanão.
Aumento do dólar
Um dos principais reflexos da atual escalada do dólar será o reajuste do custo em relação aos produtos da cesta ABIMAPI (influência cambial) pelo aumento da farinha de trigo – ingrediente básico das categorias representadas pela Associação.
O Brasil produz menos da metade do trigo consumido e precisa importar grandes quantidades do grão de países do MERCOSUL – sobretudo da Argentina -, do Canadá e dos Estados Unidos.
Nas massas, em média, 70% do custo é de farinha. Nos biscoitos, em média, o peso é de 30%, e nos pães e bolos industrializados, em média, de 60%. Sendo assim, qualquer variação no preço do trigo tem impacto direto para os fabricantes.
“Saímos de um dólar de R﹩ 4 em janeiro para R﹩ 5,25, uma valorização de 31%. Das 11 milhões de toneladas de trigo consumidas por ano no Brasil, cerca da metade vêm principalmente da Argentina, este ano com 30% de aumento, em média”, ressalta o presidente-executivo da ABIMAPI.
As indústrias estão com estoque (de dois a três meses, dependendo de cada fabricante) de trigo e produto acabado. A expectativa, é que o repasse seja iniciado a partir deste mês com um reajuste médio de 12%. De todo modo, este aumento tende a ser gradual, pois não há espaço para elevar os preços de uma só vez para o consumidor final.
Fonte: Newtrade