Fernando Teixeita
SÃO PAULO - Para engordar o faturamento e não perder mercado, o setor de fast-food tem aumentado cada vez mais a atuação no atendimento durante a madrugada. Em alguns casos, o incremento no faturamento chega a 50%. De acordo com as redes ouvidas pelo DCI, o perfil do consumidor da madrugada é um pouco diferente do convencional, pois cerca de 90% se alimentam com sanduíche e refrigerante e evitam bebidas alcoólicas. Com isto, muitas redes tiveram de adaptar seu cardápio e seu atendimento para, copiando o modelo de líderes do setor supermercadista, como o Grupo Pão de Açúcar e Carrefour, além da rede de lanches McDonald's, oferecerem serviços ininterruptos, principalmente em áreas de grande fluxo de pessoas.
Uma das redes que despertam para o mercado da madrugada é a Subway. Segundo Giulliano Ivankiw, gerente de Operações no Brasil das 265 unidades da marca, 20 ficam abertas na madrugada. "Os franqueados podem ficar abertos por 24 horas ou até as 5 da manhã. Trabalhar de madrugada não tem pico de público, como se tem durante o dia, mas significa ter fluxo constante de clientes. O custo é baixo e o retorno, alto", ressalta. Ano passado, o faturamento mundial da rede girou na casa de US$ 12 bilhões. No Brasil, a pretensão é ter 350 unidades até o fim do ano e, até 2012, ser a maior rede de fast-food.
Ivankiw se diz extremamente satisfeito com os resultados, e exemplifica a operação que tem em Curitiba, capital do Paraná, onde a loja funciona as 24 horas. "Se o movimento estiver baixo, pode-se adiantar a operação para os outros períodos. Até agora ninguém que estendeu as operações pensa em voltar a operar nos horários convencionais."
O executivo da Subway comenta que, em Curitiba e Brasília (DF), o faturamento aumentou 20% e que em São Paulo não se computou ainda o impacto. "Nos centros fora de São Paulo, as pessoas estão arriscando mais e eles permanecem abertos por mais tempo. É uma tendência mundial, e a globalização influi nisso."
Outra gigante de alimentação que busca espaço no mercado noturno é a rede Giraffas, com 289 unidades. A expectativa é faturar R$ 450 milhões, cerca de R$ 100 milhões a mais que no ano passado. Uma curiosidade da rede, que geralmente não vende bebida alcoólica e tem predomínio de lojas em shoppings, é que a maior concentração de restaurantes da rede fica em Brasília: ao todo há 74 unidades lá, frente a 96 espalhadas pelo Estado de São Paulo.
Estas não são as únicas peculiaridades, segundo Germano Carbonell Venkner, que é franqueado da rede Giraffas em Brasília. Ele tem duas lojas, uma na rua e uma no Aeroporto Internacional de Brasília, denominado Presidente Juscelino Kubitschek.
Segundo ele, as lojas da capital nacional são quase todas na rua, e a dele é uma das poucas que abrem na madrugada. "O movimento é bom, apesar de termos tido uma queda de movimento por causa da Lei Seca. Contudo, já recuperamos 90% do movimento original." O franqueado ressalta que demorou um ano a ter retorno com a abertura na madrugada. "Criei o terceiro turno e contratei um gerente específico para o horário. Claro que a remuneração é maior que a dos outros turnos", reforça.
A intenção de Venkner é que a loja do aeroporto, daqui a dois anos, também adote o sistema de 24 horas. "Não o fiz, porque não temos vôos noturnos. Hoje já encerro o turno às 23h30. Vamos fazer uma associação de varejistas para funcionarmos as 24 horas. Penso em levar este modelo para a capital de São Paulo ou para outros aeroportos", confidencia.
Redes menores
Se grandes redes do mercado aproveitam movimento noturno para engordar o faturamento, redes menores e locais raciocinam da mesma forma, como a paulistana de hot-dog Rede Black Dog e a campineira, especialista em sanduíches, Lanchão & Cia.
A primeira tem 16 lojas, 13 delas no modelo de franquia. Segundo Silmara Silva, gerente de Expansão da Black Dog, que passa por um processo de reformatação do negócio para aumentar a lucratividade, a abertura de madrugada chega a engordar o faturamento de uma loja em até 50%. "Neste período agregamos principalmente o público jovem, mas para abrir é necessário ter boa localização. Não adianta deixar aberta as 24 horas a unidade da Libero Badaró, no centro de São Paulo, pois o fluxo de pessoas acaba entre as 19 e as 20 horas. Já na Faria Lima e na Ana Rosa, ambos na zona sul da capital, é inviável deixar de abrir na madrugada."
Silvana revela que a rede freou os investimentos em 2009 para mudar o mix de produtos. "Incrementamos com saladas, para atender mais o público feminino, e incluímos mais opções de alimentos. Também estudamos como reduzir o tempo de fila e os custos do franqueado." Ano que vem, a rede planeja abrir 20 lojas.
No interior do estado, e mais acostumada com a madrugada, a Lanchão & Cia, com 25 lanchonetes, das quais 85% funcionam até a 1h da madrugada durante a semana, e entre as 3h e as 7h na sexta, diz que a condição para se tornar franqueado é abrir na madrugada por, pelo menos três meses.
Rosan Adalberto Domingues, diretor de Marketing da empresa, conta que nos fins de semana cerca de 50% dos clientes frequentam as lanchonetes no horário do jantar e a outra metade, na madrugada. "Chego a ter fila em plenas 4h30 da manhã. Queremos aumentar as vendas de sobremesas e fazer 15% dos clientes consumirem doces", ressalta.
A rede pretende expandir por todo o País. "Temos lojas em Brasília, Minas e na Grande São Paulo. Até o fim do ano teremos 38 lojas e chegaremos, este ano, principalmente no interior do estado, no litoral e no Vale do Paraíba."
Redes também viram lojas de conveniência
"As redes de fast-food acabam se tornando grandes lojas de conveniência." A definição é de Claudinei Santos, diretor de Operações da Pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing, ao explicar a abertura das redes na madrugada ou por 24 horas, em alguns casos. Santos diz que o maior mercado de alimentação acabam sendo os postos de gasolina e suas lojas de conveniência. "Tudo começou com a 7-Eleven há alguns anos. Contudo, vejo que a madrugada é um fator de risco às redes."
Segundo Santos, para se manter 24 horas em funcionamento, além de antever fatores de segurança é preciso ter uma boa localização, oferecer estacionamento e um atendimento diferenciado. "Nas redes de fast-food cria-se uma clientela que, embora seja menor que a do funcionamento diurno, é cativa. O público-alvo acabam sendo principalmente pessoas que saem de casas noturnas, de casas de jogos, de hospitais e pessoas que trabalham à noite e durante a madrugada", complementa.
O diretor analisa que é possível fidelizar o cliente para que ele volte durante o dia. "Não é a regra, mas pode ajudar se o cliente criar o hábito de retornar para fazer outras refeições", destaca.
Veículo: DCI