Mauro Zanatta, de Brasília
A forte seca no Sul e as enchentes no Nordeste do país derrubaram a safra de grãos, fibras e cereais. Os estragos climáticos levaram os produtores a perder 10 milhões de toneladas e provocaram um recuo de 7% na produtividade média da safra nacional, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As geadas registradas na região Sul neste mês podem aprofundar ainda mais as perdas na safra, sobretudo nas lavouras de milho e trigo.
O prejuízo total com atual a safra 2008/09 equivale a quase uma colheita inteira de arroz do país, estimada em 12,7 milhões de toneladas. Ou a quase duas vezes a safra nacional de trigo, projetada em 6 milhões de toneladas. É o terceiro ciclo de baixa em seis anos-safra sob o governo Lula. "Prevíamos uma quebra de 5% na atual safra, mas já estamos com quase 7%", disse o presidente da Conab, Wagner Rossi.
Castigado por duas estiagens no atual período, o Paraná sofrerá o maior prejuízo no Sul, deixando para trás 5,3 milhões de toneladas, um resultado 17% inferior à produção anterior. No Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul perderá 1,23 milhão de toneladas (-14%) com a seca e, no Nordeste, Bahia e Maranhão terão suas safras reduzidas em 750 mil toneladas com as enchentes.
O Banco Central informou ter recebido 75.230 comunicados de perda potencial de lavouras nos principais Estados produtores. Na safra anterior, haviam sido 47 mil notificações. Os pedidos de indenização já somam 31,5 mil no Rio Grande do Sul, 31 mil no Paraná, 8,7 mil em Santa Catarina e 479 em Mato Grosso do Sul. No Nordeste, o Ceará tem 1,4 mil pedidos e o Piauí, outros 1.049 comunicados. O índice de pedidos de indenização chegou a 12% das 628,4 mil operações cobertas pelo seguro oficial de crédito (Proagro).
O fenômeno climático "La Niña", que resfria as águas do Oceano Pacífico, desregulou o regime de chuvas no país. "O milho foi muito afetado no Sul e a soja no Nordeste", afirmou o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto. "E o frio no Paraná ainda nem foi contabilizado". As lavouras de milho registraram um tombo de 5,6 milhões de toneladas na comparação com a primeira estimativa da estatal. A soja sofreu com as chuvas no Maranhão, Piauí e Ceará, assim como a segunda safra de feijão.
O nono levantamento da safra nacional apontou colheita total de 134,15 milhões de toneladas, a pior estimativa no atual ciclo 2008/09, recuo de 7% na comparação com a safra anterior (2007/08). No milho, os produtores devem colher 49,88 milhões de toneladas (-15%). Na soja, a colheita deve fechar em 57,13 milhões de toneladas (-4,8%). A safra de arroz será de 12,74 milhões (+5,7%). Em feijão, serão colhidas 3,52 milhões de toneladas. A safra de algodão deve fechar o ciclo em 1,19 milhão de pluma (-26%). A colheita de trigo ainda está prevista para 6 milhões de toneladas (+47%).
A Conab informou que os grandes consumidores de milho, como criadores e indústrias de aves e suínos, não devem ter problemas com abastecimento do grão. "Temos milho para abastecer o mercado doméstico", disse Porto. "Estamos otimistas, com uma expectativa de exportar até 8 milhões de toneladas de milho. Mas o câmbio deve atrapalhar, embora tenhamos esse lastro para atender ao mercado interno". Porto informou que, mesmo diante da escassez de oferta, a Conab deve atuar de forma mais vigorosa para evitar eventuais queda de preços do milho em regiões mais distantes no Mato Grosso. As lavouras de arroz no Rio Grande do Sul, em ano de superprodução, também devem contar com apoio da estatal. "Vamos fazer aquisições nesses Estados", disse Silvio Porto.
Veículo: Valor Econômico