Essa é a receita dos outlets, os centros de compras com descontos. O primeiro de luxo em São Paulo vai ser aberto no dia 25 e reunirá 100 marcas prestigiadas.
Antonella Salem
Não há crise no mundo dos outlets, os centros de compras com descontos que fazem tanto sucesso nos Estados Unidos e na Europa e vivem lotados até em tempos de instabilidade econômica. Quem não quer comprar peças de grifes de luxo, como Diesel, Nike e Armani, a preços superacessíveis?
Foi pensando nos ávidos consumidores brasileiros que adoram bater perna lá fora e nos lojistas, que agora terão um novo canal de "desova" de coleções passadas, que a General Shopping Brasil e a Senpar Terras de São José uniram-se para criar o primeiro grande outlet de luxo do Brasil. O intuito: lançar algo inédito, com preços bons, qualidade e marcas de luxo famosas. "O outlet consegue vender volume mesmo tendo margens menores. No exterior, as marcas estão transferindo parte das vendas para os outlets", diz Alexandre Dias, diretor de marketing e varejo da General Shopping Brasil, empresa que administra 13 shoppings no País, incluindo o novo outlet. De acordo com ele, o varejo no Brasil carecia de "um equipamento" assim. No exterior, marcas como a Ralph Lauren têm 40% das vendas em outlet.
Com inauguração prevista para o próximo dia 25 no km 72 da Rodovia Bandeirantes, como parte do complexo do Shopping Serra Azul e dos parques temáticos Hopi Hari e Wet'n Wild, em Itupeva, interior de São Paulo, o Outlet Premium São Paulo reunirá 80 lojas e 100 grifes. Metade é de marcas estrangeiras e a outra metade de nacionais. Seu nome nada tem a ver com a popular rede dos EUA Chelsea Premium Outlet Centers, mas o formato é o mesmo: horizontal, com corredores cobertos, praça de alimentação, restaurantes e estacionamento gratuito com 1.800 vagas. Armani, Empório Armani, Armani Exchange (juntas, a maior loja do centro), Adidas, Ermenegildo Zegna, Calvin Klein, Diesel, Lacoste, Isabela Capeto, Nike, Spicy, Track & Field, Mormai, Trousseau e Ralph Lauren fazem parte da lista de peso do outlet e os descontos previstos são de 40% a 80%.
O projeto consumiu investimentos de US$ 60 milhões e, segundo seus empreendedores, a localização, longe dos grandes centros, permite ao lojista gastar até 70% menos no custo de operação do que num ponto convencional na cidade. Estima-se um público de 4,5 milhões de pessoas por ano – dividido aí entre turistas de negócios em São Paulo, turistas de fim de semana na região de Campinas, famílias que frequentam os parques, paulistanos e moradores do interior e, ainda, numerosos viajantes que desembarcam no Aeroporto de Viracopos. "Estamos próximos de uma estrada cercada de parques temáticos e natureza, em um local de grande fluxo de pessoas", diz o empresário Cesar Federmann, diretor da Senpar, dona de uma extensa área de terras na região de Campinas. A Autoban registra a passagem de 65 mil carros diariamente pela rodovia em frente ao local.
Nem o histórico mal-sucedido de outlets no Brasil (veja texto abaixo) aflinge Federmann. "Isso não é um bazar. Nós temos lojas oficiais", defende. Segundo ele, o empreendimento nasceu maior do que o previsto, teve ótima aceitação entre lojistas – 92% das lojas foram comercializadas – e já há planos de expansão.
Serviço:
Outlet Premium São Paulo – Rodovia dos Bandeirantes, km 72, www.premiumoutlets.com.br. Diariamente, a partir de 25 de junho, das 9h às 21h. Estacionamento gratuito.
Conceito de outlet em formação
A história dos outlets no Brasil não é boa. Os poucos que surgiram na década de 1990 não davam lucro e acabaram virando shoppings tradicionais. O Shopping D, em São Paulo, é um exemplo. Nasceu em 1994 como shopping de descontos, mas teve de rever seu formato e acabou se transformando num centro de compras convencional três anos depois. Outro inaugurado como shopping de desconto foi o Nova América, em 1995, no Rio de Janeiro. Só prosperou a partir de 2002, quando mudou o alvo e investiu em entretenimento.
Especula-se que um dos motivos do fracasso do conceito de outlet no País foi a ausência de marcas famosas. Para o professor Claudio Felisoni, coordenador geral do Programa de Administação do Varejo (Provar ) da Fundação Instituto de Administração (Fia), porém, o problema foi que o formato de outlet se perdeu no Brasil. "Nos Estados Unidos, a questão desses formatos é bem específica. É uma área horizontal, que fica distante cerca de 40 quilômetros do centro e trabalha com produtos que o consumidor devolveu ou de coleções antigas ou de série incompleta. Aqui no Brasil essas características acabaram se misturando." O Shopping D, exemplifica, está próximo do centro.
Hoje, o que se vê são lojas de ponta de estoque discretas de marcas como Ellus, Cori, Darling, Rosa Chá, Valisère, entre outras, espalhadas por diversos bairros. Essa é a primeira vez que surge um centro de compras igualzinho ao modelo dos Estados Unidos, reunindo marcas de alto nível, incluindo estrangeiras de sucesso. "O Brasil tem larga possibilidade de expansão de consumo", diz Felisoni. E conclui que o outlet que segue o modelo norte-americano pode dar certo por aqui. Por sinal, já há concorrência a caminho.
A empresa JHSF, que construiu e cuida do Shopping Cidade Jardim, promete o lançamento em 2010 de mais um outlet de luxo gigantesco, em São Roque. O projeto, inspirado no famoso Woodbury Premium Outlets, nos arredores de Nova York, inclui unidades residenciais e hoteleiras.
Veículo: Diário do Comércio - SP