"Se houver lucro, virá dos emergentes"

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Daniele Madureira, de Milão

 

Paolo Zegna, presidente e neto do fundador de uma das maiores grifes de moda masculina do mundo, a Ermenegildo Zegna, deixa de lado a postura sisuda ao chamar a atenção para algumas das matérias-primas que respondem pelo requinte da marca italiana. "Pegue", diz ele ao interlocutor, enquanto acaricia um punhado de lã de merino, um carneiro australiano que empresta a suavidade dos seus pelos à coleção Vellus Aureum, da Zegna. "Agora veja como parece cashmere", diz o empresário, indicando o tecido feito a partir da lã.

 

Preciosidade ainda maior da grife italiana é a raríssima lã de vicunha, animal que há dez anos estava com os dias contados no Peru, até que a Zegna iniciasse uma parceria com os criadores locais, que hoje lhe fornecem cerca de 15 mil quilos da lã ao ano. Os ternos fabricados a partir deste tecido não estarão, porém, em alguma das 547 lojas da grife ao redor do mundo: costumam ser oferecidos a um grupo seleto de clientes, que recebem roupas feitas sob medida, e podem pagar até US$ 30 mil por um casaco de vicunha.

 

O glamour envolto nos ternos Ermenegildo Zegna renderam à italiana uma receita de € 870,6 milhões em 2008, com ligeiro crescimento de 3,2% sobre o ano anterior. O lucro ficou ao redor de € 62 milhões.

 

A região que engloba Europa, Oriente Médio e África foi responsável pela maior parte da receita (38%), seguida por Ásia e Austrália (36%), América do Norte (22%) e América Latina (4%).

 

O Brasil respondeu sozinho por 2% das vendas, mas pode ver sua importância aumentar este ano. "Se houver lucro este ano, ele virá dos países emergentes", diz Zegna, que planeja a sexta loja para o Brasil em 2010, provavelmente em Brasília. Em abril do ano passado, quando esteve no país, o CEO da grife, Ermenegildo Zegna (irmão mais novo de Paolo), já falava na possibilidade de abrir uma unidade na capital federal, mas em 2009.

 

"Por enquanto, este ano, vamos amadurecer os investimentos realizados no ano passado, quando abrimos três lojas no Brasil", afirma Paolo Zegna. A marca está presente no Rio e em São Paulo. São quatro unidades na capital paulista (na Daslu, nos shoppings Iguatemi e Cidade Jardins e no sofisticado bairro dos Jardins) e uma carioca, no Shopping Leblon.

 

A maior aposta da grife no momento se concentra na China. A região denominada "China Maior" (que envolve 31 localidades, entre Hong Kong, Macau e Taiwan, onde está concentrado o consumo no país) sedia 59 lojas da marca e responde por nada menos que 20% da receita, ameaçando a hegemonia dos Estados Unidos, ainda hoje o maior mercado.

 

Ao que tudo indica, a mudança no ranking está próxima: enquanto na maior economia do mundo as vendas da Zegna caíram 20% no primeiro trimestre, na China o desempenho foi 30% melhor, em comparação ao mesmo período do ano passado. Este ano, 15 das 20 novas lojas previstas em todo o mundo devem ser inauguradas no território chinês.

 

O Brasil alcançou a mesma boa marca que o gigante chinês: alta de 30% nas vendas de janeiro a março de 2009, frente ao mesmo trimestre de 2008. Fornecedora de ternos para outras marcas famosas - como Gucci, Versace e Tom Ford - a Ermenegildo Zegna evita fazer previsões de lucro.

 

"Nós apenas trabalhamos duro e cruzamos os dedos... Eventualmente, também rezamos", diz o presidente da grife, em mais um momento raro de descontração. Mas não duvida que os ganhos virão dos emergentes. "Países como o Brasil estão se comportando muito bem, desde o começo da crise", afirma.

 

A repórter viajou a convite da Fondazione Altagamma

 

Veículo: Valor Econômico


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