Manuela Rahal, de São Paulo
Reza a lógica industrial que quanto maior a produção de um determinado bem, mais barato ele é. Produtos exclusivos, feitos sob medida, são caros exatamente porque contrariam a regra. Na internet, porém, alguns serviços estão desafiando essa norma. Já é possível encomendar livros, cartões de visita, convites e até roupas em quantidades bem pequenas - até uma única unidade, em alguns casos - e pagar pouco pelo resultado. Mais: o usuário escolhe ele mesmo a aparência do produto.
É o caso dos livros de fotografia. Em várias lojas on-line - incluindo marcas bem conhecidas, como Americanas.com, Submarino e Extra.com -, o usuário pode encomendar um livro com suas próprias fotos. As imagens são encaminhadas pelo site e o resultado fica semelhante a um livro de arte, não um álbum de fotos. Alguns serviços também permitem criar revistas. O processo é conduzido pelo usuário, que escolhe o tamanho das imagens, cores das páginas, modelos de diagramação, legendas etc.
Essa facilidade de uso, associada à chance de colocar em prática um projeto pessoal - como publicar um romance ou dar de presente um livro com fotos próprias - é que estão levando o consumidor a aderir a esses serviços, movimentando os negócios.
A Digipix - cuja tecnologia permite montar, encomendar e imprimir livros de fotografia - começou em 2004, com três funcionários. Hoje, reúne 50 colaboradores e detém equipamentos que realizam todo o processo de impressão e montagem dos livros de maneira automatizada, o que permite cobrar preços baixos, outro atrativo do modelo. "Investimos cerca de US$ 3 milhões nas máquinas, pois a demanda aumentou e não poderíamos dar conta do serviço de forma manual", afirma Marco Perlman, um dos sócios da Digipix.
A companhia presta serviços para os sites, que, por sua vez, oferecem o serviço ao consumidor. Os negócios da Digipix cresceram 60% entre 2007 e 2008, quando a empresa obteve um faturamento de R$ 10 milhões. "Tem muito espaço no mercado, esperamos crescer mais", diz Perlman.
Além da fotografia, o conceito do "faça você mesmo" também está ganhando força entre quem quer publicar seu próprio livro, seja uma obra de ficção ou um trabalho acadêmico. A vantagem é publicar títulos em pequena quantidade, sem o trabalho de passar por uma editora. "É muito difícil ser adotado por uma editora. Digo isso por experiência própria", diz Indio Brasileiro Guerra Neto, um dos idealizadores do Clube de Autores.
O sistema proposto pela empresa é o da impressão sob demanda: o autor envia o texto por meio do site e sugere o valor a ser cobrado pela obra. Só quando um leitor efetua a compra, o exemplar é impresso. O autor não paga nada pelo serviço e recebe um pagamento relativo aos direitos autorais. De fevereiro até agora, o Clube de Autores já publicou em torno de 670 obras e vendeu 1,2 mil exemplares.
Outra editora on-line, a Armazém Digital, tem foco na área acadêmica. Felipe Rangrab, diretor da empresa, conta que a companhia já trabalhava com editoração desde 1996 e decidiu migrar para o mundo virtual em 2001. "Com ajuda da internet, conseguimos atender universitários e professores do Rio Grande do Sul até o Piauí", diz.
A Armazém Digital trabalha com pacotes de publicação que variam de R$ 600 a R$ 1.050, dependendo do acabamento e do número de cópias. Rangrab explica que o mercado editorial sofreu uma retração de 20% neste ano, por conta da crise econômica, mas a busca por serviços on-line tem aumentado desde o ano passado. "Além dos contratos burocráticos com grandes editoras, as pessoas estão percebendo que as grandes tiragens diminuem o preço, mas podem representar um desperdício de papel", afirma o executivo.
Os produtos gráficos, como cartões de visita, convites e até mesmo brindes também estão aderindo ao conceito dos produtos sob medida na web. A Fábrica de Criação, de desenvolvimento e venda de material gráfico, foi fundada em 1997, em Brasília, mas migrou para a web em 2004. Segundo Gisele Sá Rego, uma das sócias da empresa, além de uma redução brutal de custos, a internet permite expandir as vendas para todo o país. "A empresa dobrou o faturamento em relação ao último ano da loja física", diz Gisele, sem detalhar os números.
A companhia trabalha com designers terceirizados e o portfólio de produtos inclui cartões, convites, canecas, camisetas, sandálias e até caricaturas.
Veículo: Valor Econômico