Demissões assombram executivos

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Demissões podem ter efeitos desastrosos para executivos e gerentes acima dos 40 anos. Geralmente com bons padrões de vida e alocados em cargos galgados ao longo de sua carreira, um anúncio de desligamento, muitas vezes, funciona como um balde de água fria para um profissional em cargos de decisão. Habituados à rotina de cobranças e desafios, além do fim da remuneração, muitos têm dificuldades para encontrar forças e voltar ao mercado.

 

Para completar, parte das empresas prefere dar oportunidade a profissionais mais jovens, cujos padrões salariais são inferiores e estão mais propensos a se adequar à cultura da companhia. Pior no caso daqueles profissionais que passaram décadas na mesma empresa, ainda mais resistentes às mudanças na forma de trabalhar.

 

No entanto, a rotatividade cada vez maior do mercado de trabalho tem tornado demissões e recontratações de experientes executivos comuns. Com isso, consultorias vêm se especializando em preparar e recolocar no mercado os profissionais de idade avançada. Serviços de treinamento, assistência psicológica e aproximação com departamentos de Recursos Humanos (RH) das empresas passam a ser cada vez mais acessados.

 

"O desemprego está sendo geral em função da crise e tem atingido também profissionais maduros em cargos de decisão", explica Maria Inês Assunção, diretora de Recursos Humanos da Vip Master RH. O corte de gastos pela eliminação de pessoas em altos cargos também tem crescido em função da recente onda de fusões e aquisições no Brasil. Quando duas empresas se juntam, geralmente um dos dois profissionais de mesmo cargo é dispensado - ao contrário do que ocorre com as linhas de produção, nas quais o objetivo é somar esforços.

 

Uma das estratégias para buscar a recolocação imediata no mercado é investir em preparação ao longo da carreira. Preocupar-se em manter uma trajetória de crescimento no ambiente corporativo e não perder o foco do trabalho, evitando atuar em uma área diferente da qual se especializou, por exemplo, dá uma credencial para o executivo acima dos 40 anos encontrar uma nova oportunidade.

 

Os especialistas em gestão de carreiras também aconselham que o executivo ou gerente invista em conhecimentos de gestão, que ampliem seu leque de opções para buscar uma oportunidade no futuro. Afinal, se precisarem voltar ao mercado, estes profissionais não se destacarão apenas por seus conhecimentos técnicos, mas por sua capacidade de liderar e atuar estrategicamente nas organizações.

 

"Empresas buscam nos profissionais acima dos 40 anos know how e maturidade nas relações", explica Francis Nakada, consultor de carreira da Produtive Outplacement e Planejamento de Carreiras. Ou seja, se não tem conhecimento e experiência em gestão, ele perderá competitividade ao tentar voltar ao mercado.

 

Para evitar que a situação chegue a este ponto, uma boa dica é monitorar a evolução da carreira ao longo dos anos. Um profissional aos 20 anos deve se dedicar a ganhar conhecimento técnico e a conhecer melhor a cultura da empresa onde trabalha, assim como participar de MBAs e cursos de graduação para desenvolver conceitos de liderança e gestão.

 

Quando chega à faixa dos 30 anos, deve se preocupar em começar a ocupar cargos de chefia e que desenvolvam sua capacidade de tomada de decisões e assumir riscos. Se uma empresa não apresenta estas possibilidades de crescimento, talvez seja hora de pensar em uma nova opção no mercado. Afinal, não há garantias de permanência em empresa alguma, e o executivo sempre deve se perguntar até que ponto a experiência atual o credenciará para seu próximo trabalho.

 

A preocupação em se manter atualizado foi crucial para que o administrador e contador Carlos Alberto Medeiros retornasse ao mercado de trabalho. Após rescindir contrato com a empresa onde trabalhava, em setembro de 2008, ele procurou uma consultoria de carreira e recebeu orientações sobre como proceder para conquistar uma nova oportunidade. Descobriu que, mesmo aos 55 anos, seus frequentes cursos de atualização, como um MBA recém- concluído, aumentariam-lhe o leque de opções no mercado, apesar do cenário econômico adverso.

 

"A crise internacional estava se agravando naquele mês, e isso causou mais apreensão", comenta Medeiros. Além de retomar a motivação e os contatos profissionais, ele foi orientado sobre as melhores oportunidades de trabalho, procurando as empresas que mais se adequavam ao seu perfil. Na semana passada, conquistou uma vaga em uma companhia farmacêutica com sede em Porto Alegre. "Este período fora do mercado também me estimulou a buscar outras opções, como abrir uma consultoria, que mantenho até hoje", relata.

 

Outra estratégia para continuar competitivo e preparado para uma demissão é definir o core - ou seja, uma área de ação bastante específica para se especializar e investir suas fichas ao longo da carreira. Um profissional acima dos 40 anos terá mais chances de voltar ao mercado se for um dos melhores em sua área, além de saber algo sobre gestão, é claro. Conhecimentos periféricos também são recomendáveis, desde que se mantenha um foco bem definido.

 

"Por isso é importante que o profissional mantenha seu foco ao longo da carreira, sempre se desenvolvendo e se aprimorando", recomenda Mônica Rizzatti, diretora da Ser Humano Consultoria. Ela alerta que as maiores dificuldades para encontrar oportunidade profissional após os 40 anos estão com aqueles que passaram a atuar fora de seua área de formação. Nestes casos, o desafio de competir com profissionais formalmente graduados nas áreas será intenso.

 

Veículo: Jornal do Comércio - RS


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