Problemas climáticos e uma praga avassaladora nas lavouras têm provocado o desaparecimento do maracujá nos grandes mercados consumidores do país. Fabricantes de suco pronto e em pó reclamam da falta de disponibilidade do produto - e alertam clientes para que mudem o "mix" de pedidos, uma vez que não podem mais garantir a entrega.
Uma das principais indústrias processadoras de suco de São Paulo, a General Brands afirma ter registrado queda de 60% no fornecimento da polpa nos últimos meses. "A coisa começou a piorar há aproximadamente quatro meses. E não vemos, no curto prazo, uma normalização da situação", disse Isael Pinto, diretor-presidente da empresa.
A conjunção de fatores negativos foi o golpe de misericórdia para uma cultura que enfrenta problemas crônicos já há alguns anos. As chuvas intensas no Nordeste, principal região produtora da fruta, atingiram em cheio a safra deste ano, prejudicando a colheita. Mas foi a incidência de uma variedade ainda mais agressiva do chamado vírus do endurecimento do fruto do maracujá, no interior paulista, responsável pela escassez do fruto e a consequente guinada nos preços.
Transmitido pelo pulgão, o vírus já varreu todas as regiões produtoras do país e é capaz de dizimar lavouras em questão de dias. A doença reduz a produtividade e a vida útil da planta, e faz com que o maracujá não desenvolva a polpa para o consumo humano. "Ele fica como pedra", explica Addorata Colariccio, pesquisadora científica do departamento de Sanidade Vegetal do Instituto Biológico de São Paulo. "É uma doença limitante à produção".
Presente desde 1992 em São Paulo, o vírus apareceu mais forte neste ano, seguindo o seu ciclo normal, diz Cavati Ryosuke, agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura do Estado. Mas anos seguidos da doença tiveram o efeito perverso de reduzir o interesse do produtor rural por este tipo de cultura. A ocorrência do vírus também reduziu o ciclo usual de três anos da cultura para anual. A substituição de lavouras é clara em São Paulo: se há três anos a área plantada no Estado era de 5 mil hectares, hoje não chega a 1 mil hectare, afirma Ryosuke. "Já tivemos 2,5 mil produtores, mas agora eles são, no máximo, 600".
É o caso de Vera Cruz, município paulista que deu início ao plantio de maracujá no Estado paulista, nos anos 90. A região, então baseada no binômio pecuária-cafeicultura, buscava a diversificação. "O maracujá teve crescimento exponencial, se tornou uma das mais importantes nesta produção e disputou com a Bahia o primeiro lugar no ranking", lembra Angelo Domingo Rossi, presidente da Associação de Fruticultores da Região de Vera Cruz. A primeira incidência da praga foi de 1998. "Mas a progressão da doença na cultura é violenta. Se não se fizer nada, o maracujá será cultura residual".
O desaparecimento da fruta no mercado tem sido proporcional ao aumento nos preços: nos últimos três anos, o vírus diminuiu a produtividade por hectare de 40 toneladas para 15, dizem produtores e beneficiadores. Nesse mesmo período, o quilo para a indústria registrou uma guinada de R$ 0,45 para R$ 1,10. Segundo o IBGE, a produção paulista recuou de 57 mil toneladas em 2002 para 23,5 mil toneladas em 2006, dado mais recente. Os Estados nordestinos conseguiram manter nesse período volumes entre 100 mil e 200 mil toneladas/ano - graças a ataques menos agressivos do vírus na região.
"O maracujá está com o preço absurdamente alto", diz Alexandre Guimarães, presidente da Trop Frutas, do Espírito Santo.
Vlamir Bretemitz, da Atlântica Foods, lista o que atribui como principais problemas dos Estados produtores de maracujá: Espírito Santo tem menos produtores; na Bahia, clima ruim e a praga atrapalharam a safra; São Paulo enfrenta o sério problema do vírus. Junte-se a isso problemas externos e o caldo está pronto. "O Equador, outro grande produtor, está completamente fora do mercado por causa das chuvas. O país enfrenta atrasos de entrega superiores a seis meses", diz ele.
Veículo: Valor Econômico