Pão de Açúcar considera aquisição no setor, que passa por processo de formalização
O varejo farmacêutico está passando por uma grande transformação no país, processo que deverá mudar o perfil do setor nos próximos dois ou três anos.
A adoção do regime de substituição tributária e a introdução da nota fiscal eletrônica no ano passado começaram a asfixiar as drogarias que conseguiam sobreviver graças à sonegação de impostos, o que vem permitindo às grandes cadeias de farmácias ganhar uma participação de mercado cada vez maior.
O movimento de formalização do varejo farmacêutico, além de acelerar a concentração no setor, tornou esse mercado mais atraente para as grandes redes de hipermercados, como Grupo Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart.
"O varejo farmacêutico é um dos setores com maior potencial de consolidação no país, ao lado dos setores de saúde e educação", afirma o consultor Alexandre Pierantoni, da PricewaterhouseCoopers.
De acordo com a Associação Brasileira das Redes de Farmácias (Abrafarma), as cadeias de hipermercados detêm atualmente uma participação pequena de mercado, em torno de 3%. Essas varejistas, contudo, querem avançar nesse segmento.
Em janeiro deste ano, o Grupo Pão de Açúcar declarou que não descarta até mesmo a compra de redes de farmácias. Na época, a varejista também afirmou que considerava a compra de uma rede de eletroeletrônicos, o que acabou de fazer, com a aquisição do Ponto Frio neste mês.
Procurado, o Pão de Açúcar respondeu que "está atento a todas oportunidades nas áreas em que atua, incluindo postos de combustíveis e drogarias", mas não confirmou se há alguma negociação avançada.
Pelo desempenho das ações da Drogasil na Bovespa, o setor também tem aguçado o interesse dos investidores. Os papéis da única rede de farmácias listada na bolsa acumulam este ano valorização de 73%, enquanto o índice Ibovespa subiu 36%. O valor de mercado da Drogasil está em R$ 1,1 bilhão, ou o equivalente a 16 vezes o seu lucro operacional (lajida) em 2008.
Fontes do setor avaliam que só faria sentido para os hipermercados a aquisição de redes de farmácias de grande porte. E, nesse setor, existem poucas. Nenhuma das cinco maiores redes de drogarias do país atingiu ainda a marca de R$ 2 bilhões de faturamento anual.
No entanto, todas elas estão crescendo bem acima do mercado farmacêutico devido à retração das pequenas drogarias, que perderam competitividade. Segundo o presidente da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, as 25 redes associadas à entidade e que operam dentro da formalidade registraram um aumento de 24% das vendas entre janeiro a abril deste ano. Nesse mesmo período, o mercado farmacêutico cresceu bem menos, em torno de 11%.
Para 2009, Mena Barreto prevê que as redes filiadas à Abrafarma ainda vão manter uma taxa de 20% de crescimento.
As cinco maiores redes - Pague Menos, Drogaria São Paulo, Pacheco, Drogasil, e Droga Raia - elevaram em 35% sua participação de mercado em apenas dois anos, de acordo com estatísticas do setor. Em dezembro de 2006, as cinco varejistas controlavam só 16,5% das vendas. Em dezembro de 2008, essa participação já alcançou 22,2%.
Entre os executivos do setor, as expectativas são de que, por volta de 2011, as cinco maiores passem a controlar 30% do mercado.
As grandes redes de farmácias também estão passando por um processo de profissionalização, que foi incentivado pela possibilidade de abrir o capital e captar recursos na bolsa de valores. A Drogasil foi a única que levou o projeto adiante, enquanto a Raia e a São Paulo adiaram seus planos devido à crise.
A Raia, porém, vendeu 30% de seu capital em setembro do ano passado para duas administradoras de fundos de investimento, a Gávea e a Pragma.
A Pague Menos, que possui uma forte presença na região Nordeste, contratou a firma de consultoria Ernest & Young para implementar um programa de governança corporativa.
A São Paulo já possui uma gestão profissional há alguns anos: o controlador da varejista, Ronaldo de Carvalho, e seus herdeiros só estão presentes no conselho de administração. "Chegamos a avaliar a possibilidade de abrir o capital, mas, para retomar esse projeto, o mercado teria de melhorar muito", afirma Marcus Paiva, presidente executivo da rede, que prevê elevar suas vendas em 20% neste ano e abrir 35 lojas.
Paiva diz que os controladores da São Paulo não têm interesse em vender o controle da empresa nem uma participação do capital. Sobre a possibilidade de fazer aquisições, o executivo avalia que não existem muitas alternativas devido à elevada informalidade. "Muitas redes não passariam pelo processo de 'due diligence'", diz Paiva.
Veículo: Valor Econômico