A crise é vista pela indústria de alimentos como uma rede de oportunidades de aquisições e esse segmento da economia vive a expectativa de diversos anúncios de negócios que estão em análise. Após a criação da Brasil Foods (união entre a Sadia e a Perdigão), dentre as empresas que devem engrossar essa massa de negócios estão a Nestlé, Cargill e Pepsico, que apesar de apresentarem níveis de negociações distintos, preveem o aumento de aportes e a retomada de investimentos no Brasil, onde o mercado interno é o maior destino da produção. Essa participação deverá aumentar ainda mais em 2009 segundo as estimativas da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia), que prevê crescimento de 2% sobre o faturamento de R$ 268,8 bi do ano passado.
Dentre as três empresas a que está com o processo de aquisição mais adiantado é a Nestlé, segundo o seu presidente, Ivan Zurita, a companhia está desenvolvendo três projetos, sendo que dois estão no processo de análise, em que podem ocorrer fatos que inviabilizem o negócio e uma já está em fase final de acerto. "Já foram discutidos os valores e o contrato que oficializa a aquisição, mas como é um negócio complexo ainda não está assinado", informou o executivo sem revelar qual empresa será incorporada ao grupo suíço. Zurita apenas disse que essas empresas não atuam em um segmento que concorrem com os outros nos quais a Nestlé atua. "A única coisa que posso falar é que se trata de aquisição na linha de alimentos", desconversou ele.
Na Pepsico o mistério é o mesmo, de acordo com o presidente da empresa no Brasil, Otto Von Sothen, a multinacional está analisando aquisições nas duas áreas em que atua, alimentos e bebidas, mas não revela quais são os alvos potenciais. "O Brasil é um dos principais mercado que a Pepsico mira para continuar a crescer acima da média do mercado e isso inclui aquisições", admitiu o executivo.
Um pouco mais distante parece o plano da Cargill de adquirir empresas no mercado brasileiro. Segundo o presidente da multinacional no Brasil, Marcelo Martins, há possibilidade de crescimento no mercado e isso tem levado a empresa a olhar as oportunidades para crescer. Essa posição se dá em função do término dos investimentos que a empresa realizou no último ano fiscal, que terminou em maio. De acordo com Martins, apesar da instabilidade dos preços das commodities e do câmbio, a empresa registrou um ano positivo e que atendeu as metas da companhia.
Crescimento
Segundo o presidente da Abia, Edmundo Klotz, a crise não afetou o setor em função da necessidade das pessoas em se alimentar. De acordo com o executivo o ano de 2009 se mostra estável em relação a 2008, mas que a entidade poderá ter um cenário melhor desenhado após a safra intermediária deste ano. Ele disse ainda que as medidas do governo anunciadas na segunda-feira (29) quanto a incentivos para o setor produtivo apresentam mais o efeito de reflexo na indústria alimentícia do que benefícios diretos. "Quando a economia vai bem, o setor acompanha o ritmo, pois as pessoas consomem mais alimentos", explicou ele.
De olho nesse potencial crescimento de mercado que a Nestlé reafirmou que os investimentos de R$ 350 milhões em 2009 serão aplicados integralmente "sem contar as aquisições planejadas", ressaltou Zurita, que afirmou esperar um crescimento de 7% no resultado da empresa, mantendo a tradição da operação brasileira da multinacional de ser a subsidiária com maior crescimento mundial da empresa.
Para a Pepsico, que não revela o valor dos investimentos, a empresa mira o mercado centro-oeste e nordeste em decorrência do aumento da renda na região. De acordo com Sothen, já há conversas com o governo do Distrito Federal (DF) para a construção de uma nova fábrica naquela região e já está construindo uma nova unidade na Bahia (BA). Ambas destinadas à produção de alimentos. "A primeira (no DF) ainda está em fase inicial de negociação e a segunda (na BA) deverá iniciar a operação no final de 2010", completou o executivo.
Veículo: DCI