Ele desembarcou na Itália com um baú de receitas e uma missão familiar. Foi para Rimini, na maior feira de sorvete do mundo em 2006, conheceu Cristiano Ferrero - integrante da família do chocolate Ferrero Rocher - e foi adotado pelo empresário que fabrica matéria prima para a indústria de alimentos. Leandro Scabin passou dois anos hospedado na mansão do novo amigo em Turim - tudo na camaradagem - enquanto desenvolvia em um laboratório alugado em Évora, Portugal, (por uma questão de custo) os sorvetes que seu avô Vittorio Meneghini Scabin tinha criado na década de 30, na região do Vêneto. "Meu avô tinha misturado neve com suco de frutas e colocou no palito. O que se tornou um sucesso na província foi enterrado quando Hitler invadiu a aldeia dele, que ficava a 15 km da Áustria." O avô imigrou para o Brasil e morreu frustrado aos 98 anos por não ter retomado seu negócio pioneiro. Mas Leandro decidiu homenageá-lo. Vendeu sua importadora de produtos pets e resolveu transformar o romântico picolé do avô em um sorvete com escala industrial. Dois anos e R$ 2 milhões depois, gastos só em desenvolvimento, ele lançou o Diletto no Réveillon deste ano, em Trancoso (BA). E com o mesmo slogan usado por Vittorio no então vilarejo de Sappada: "La felicità è un gelato".
Os picolés surpreendem pela comunicação visual, sabor, textura e pela ausência de gordura vegetal. Os produtos já estão em 100 pontos de venda especiais como o Empório Santa Maria, o supermercado Santa Luzia, o Café Suplicy e até, de forma inusitada, em todos os jatos particulares que saem de Congonhas. "Todo dia recebo propostas e digo mais não do que sim. Não fiz um produto elitista, mas tenho que ter cuidado na distribuição e construção da marca. "A fábrica de supercongelamento na Granja Viana, São Paulo, conta com uma poderosa máquina importada da Itália que demonstra sua convicção no sucesso do Diletto. "Tenho capacidade para 8 mil picolés por hora, e hoje fabrico 20 mil por semana. Mas eu ainda não peguei um verão. Entrei no mercado no outono e já tenho duas propostas para exportar, uma da própria família Ferrero e outra dos Estados Unidos."
Leandro não concordou com o posicionamento sugerido pela agência que cuidou da programação visual e do branding. "Eles propuseram um preço pela percepção sofisticada da marca. Seria para concorrer com a Häagen-Dazs, mas eu preferi fazer pelo custo. Não quero vender sorvete só para o público triplo A." Os sabores que não levam leite - como limão, framboesa e morango - custam R$ 4. Os com leite, como tiramisu e coco da Malásia, saem por R$ 5, e os com cobertura, como o de gianduia, R$ 6. E estes preços podem ser ainda menores assim que Leandro resolver outra equação. "Para chegar à fórmula ideal trabalhamos em Évora com ingredientes europeus que não consigo substituir ainda por produtos nacionais. " Isso significa importar até mesmo o açúcar de beterraba por € 1,3 o quilo.
Veículo: Valor Econômico