Concorrência chinesa é ''tímida'', diz Funcex

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A venda de produtos made in China no Brasil triplicou desde 2003, [br]mas a participação no consumo nacional ainda é de apenas 2%

 

A "invasão chinesa" provoca muita gritaria entre os empresários, mas ainda é silenciosa. Os produtos vindos da China representam apenas 2,2% do que os brasileiros - pessoas físicas e empresas - consomem, revela levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

 

Mesmo em setores que reclamam da concorrência asiática e solicitam proteção ao governo, a participação da China no consumo não é representativa. Em 2008, os chineses responderam por 5,4% dos tecidos, 3,3% das roupas e 3,7% do couro e calçados adquiridos no Brasil.
"Ainda é uma invasão comportada", reconhece José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior. "Mas dizem no interior que é preciso ter medo do rastro da onça."

 

O "rastro" dos chineses na economia do Brasil é nítido. Os dados da Funcex apontam que, apesar de pouco expressiva, a fatia da China no consumo cresceu 214% desde 2003, primeiro ano do governo Lula.
Naquele ano, época em que os dois países se aproximaram e a China intensificou a conquista dos mercados internacionais, os produtos chineses representavam 0,7% do consumo brasileiro. Retrocedendo um pouco mais, em 1999, a fatia do país asiático na economia brasileira era insignificante: 0,3%.

 

Segundo Fernando Ribeiro, economista da Funcex, a indústria de têxteis e calçados resiste porque é forte e pulverizada no País. Além disso, as tarifas de importação estão em 35%, o máximo consolidado pelo Brasil na Organização Mundial de Comércio (OMC).
"Quando você olha o detalhe, é que vê o tamanho do estrago", diz Fernando Pimentel, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Ele explica que a invasão chinesa é "devastadora" em alguns produtos, como jaquetas e bermudas sintéticas, e que o crescimento das importações é "explosivo". O o contrabando não é contabilizado nas estatísticas.

 

O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados), Heitor Klein, também defende que é preciso "segmentar os dados". Segundo ele, o Brasil produz 800 pares de calçados por ano, mas metade são chinelos, que não sofrem concorrência de importados.
Outros 150 milhões de pares são exportados.

 

Pelos seus cálculos, a indústria nacional vendeu 250 milhões de pares de sapatos no mercado interno, e vieram 39,3 milhões de pares da China. "O governo não pode tomar providência só quando o setor estiver liquidado", diz Klein. A Abicalçados solicitou tarifas antidumping contra os chineses.

 

Segundo Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel), as importações de móveis da China, principalmente para escritórios, aumentaram 86%, de US$ US$ 36 milhões em 2005 para US$ 67 milhões em 2008. O produto chinês chega ao Brasil, em média, 20% a 30% mais barato.
"Chamar a entrada de produtos chineses de invasão é uma manobra política para obter protecionismo", critica Rodrigo Maciel, diretor executivo do Conselho Empresarial Brasil - China. Ele argumenta que a maioria dos produtos importados na China não são bens de consumo, mas insumos para a indústria e bens de capital.

 

PRODUTOS INTENSIVOS

 

Os especialistas em comércio exterior alertam para o crescimento dos chineses em produtos intensivos em tecnologia, como máquinas, aço e autopeças. A participação das máquinas chinesas não é expressiva no País, mas cresceu nos últimos anos, deslocando fabricantes nacionais e de outros países. Em 2003, as máquinas chinesas representavam 0,6% do consumo. Em 2008, chegaram a 4,1%. No mesmo período, a fatia das máquinas importadas oscilou em torno de 30%.
"Há muitas empresas deixando de produzir aqui e importando da China", diz Nelson Deduque, diretor de mercado externo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). O país é o quarto maior fornecedor de produtos ao Brasil, atrás dos EUA, Alemanha e Japão.

 

No mercado de reposição de autopeças, 2% do que é vendido no País vem da China, calcula Antonio Carlos Bento, do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Nos dois últimos anos, 30% do que foi importado no segmento veio do país asiático.

 

A Sogefi, fabricante de buzinas, perdeu 15 mil unidades de um total de 50 mil que fornecia mensalmente para revendedores. "Importadores independentes estão trazendo o produto da China", conta Mário Milani, presidente da empresa.

 

Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), diz que o aço chinês chega ao Brasil a preços que não cobrem os custos da produção local. Segundo ele, a importação de aço representa 15% do consumo brasileiro, ante uma média histórica de 5%. A China, que respondia por 17,8% das importações em 2008, hoje participa com 25%.

 

Invasão já ameaça setor eletroeletrônico

 

Os eletroeletrônicos são os mais prejudicados pela concorrência da China. A fatia do gigante asiático no consumo chega a 20%, enquanto nos demais setores da economia não supera 5%. Especialistas em comércio exterior avaliam que, neste caso, o avanço chinês pode ser considerado uma "invasão".

 

No ano passado, a China respondeu por 22,6% das máquinas para escritório e informática, 19,7% do material eletrônico e de comunicações e 18,7% dos equipamentos médico-hospitalares e de automação industrial consumidos pelo Brasil.
"São três setores em que apenas um país representa 20% do total do consumo brasileiro. É muita coisa", diz Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

 

"Os componentes eletrônicos brasileiros praticamente desapareceram do mercado. É natural uma maior presença da China, porque houve uma transferência maciça de fábricas americanas e europeias para a Ásia", explica Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

 

Para Ribeiro, os dados evidenciam que, no setor eletroeletrônico, o impacto da China foi mais significativo para os fornecedores de outras origens do que para os nacionais.

 

Entre 2003 e 2008, a presença da China no consumo de máquinas para escritório e informática saiu de 6,3% para 22,6%, ou seja, uma alta de 259%. No entanto, a participação total das importações no consumo desses produtos oscilou de 40,8% para 41,8% no período.

 

Em material eletrônico e de comunicações, a situação é parecida.
Enquanto a presença da China no consumo nacional subiu 234% entre 2003 e 2008, o avanço da fatia total dos importados foi de 19,9%.

 

Empresários do setor contam que, por muitos anos, a participação da China se restringia à compra de componentes para complementar a linha de produção. Mas, a partir de 2005, as empresas passaram a trazer produtos acabados, promovendo um deslocamento de produção e o fim da montagem local de itens como rádios e gravadores portáteis.

 

"Não há mais nenhum rádio feito no Brasil", confirma Barbato, da Abinee. Ele admite que, num primeiro momento, as empresas trazem peças para montagem local, mas, com o desequilíbrio cambial, podem partir para a importação de produtos acabados.

 

Mario Sergio Amarante Filho, gerente de vendas e marketing da multinacional austríaca Kraus & Naimer, fabricante de chaves comutadoras elétricas em Cotia (SP), diz que o produto chinês chega ao País entre 40% a 50% mais barato que o nacional. Além dos custos mais em conta, as fabricantes nacionais dizem que enfrentam também a pirataria.

 

"Não é só questão de câmbio", diz Amarante . "Representantes de empresas chinesas pesquisam e fotografam nossos produtos e depois os copiam, sem gastar nada em desenvolvimento", conta. As chaves comutadoras elétricas são usadas em equipamentos de distribuição de energia.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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