Foi com uma taça do espumante, Valentim, elaborado especialmente para homenagear o fundador do Grupo Pão de Açúcar, Valentim dos Santos Diniz, falecido em 16 de março deste ano, aos 94 anos, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador José Serra e o empresário Abílio Diniz brindaram, na sexta-feira à noite, aos 60 anos do Grupo Pão de Açúcar. Para comemorar o aniversário, o grupo realizou uma missa em Ação de Graças, no Mosteiro de São Bento, região central da capital paulista e, em seguida, promoveu um jantar onde estiveram presentes também os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff e da Defesa, Nelson Jobim, e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
Além da edição especial do espumante Brut feito pela vinícola Miolo, foi lançada na mesma noite uma edição comemorativa de um vinho Malbec Reserva 2004, proveniente da região de Mendoza, na Argentina, também com nome Valentim, envelhecido durante dezoito meses em barris de carvalho francês. Com tiragem de apenas 3 mil garrafas numeradas, os convidados do evento puderam apreciar esse novo rótulo que compõe a linha ''Club des Sommeliers'', marca exclusiva da empresa e que estará à venda nos supermercados da rede.
As comemorações do aniversário do grupo absorveram investimentos de R$ 12 milhões em comunicação em um período de 10 dias. Mais de 400 pessoas participaram dos eventos. Além de membros da família estavam presentes diversos empresários como Ivo Rosset (Valisère) e Ivan Zurita (Nestlé), o presidente da rede francesa Casino, Jean-Charles Naouri, e economistas como o ex-ministro Bresser Pereira e Yoshiaki Nakano, diretor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Também foram ao evento os políticos Aloizio Mercadante e Guilherme Afif Domingos.
A mesa de doces montada na ante-sala do salão principal do bufê Casa Fasano, com receitas de iguarias populares com brigadeiro, olho de sogra e quindim, remetia à lembrança da primeira loja do Grupo Pão de Açúcar no Brasil, uma doceira aberta em 1948, na Praça Clóvis Bevilácqua, no centro da capital paulista, que virou ponto de encontro dos paulistanos à época. O próprio governador José Serra fez questão de ressaltar, em seu discurso, que freqüentava a loja na sua infância. Uma década depois, em 1959, começava o processo de expansão do grupo com a abertura do primeiro supermercado ao lado da doceira, no Jardim Paulista.
Daí por diante o plano de expansão não parou. A rede começa um forte processo de aquisição de outras empresas, como a Eletroradiobraz, Superbom, Peg-pag e Mercantil. Inicia-se também o processo pioneiro de internacionalização do varejo brasileiro. Em 1968, o grupo então com 64 lojas, abre suas primeiras unidades em Portugal, Angola e Espanha. A experiência abriu caminho para que a empresa conhecesse mais de perto a concorrência externa e pudesse trazer ao País o que havia de mais moderno no varejo. Foi assim que, na década de 70, o passou por uma grande expansão com a inauguração da primeira geração de hipermercados do brasileiros, as lojas Jumbo.
Esse pioneirismo influenciou costumes da época. Noivos saiam de cerimônias de casamento e iam direto ao Jumbo - moda que começou em Santo André - com os padrinhos para fazer a primeira compra da casa ou complementar o enxoval, segundo o livro "Meu Pão com Açúcar", escrito por Valentim dos Santos Diniz, em 2003.
A experiência internacional terminou devido a problemas políticos das economias onde a empresa atuava. Em Lisboa, a rede teve que enfrentar nada menos que a Revolução dos Cravos, em 1974, quando um golpe militar derrubou o governo vigente. "Em Luanda, por sua vez, até tiro de bazuca o Jumbo levara durante a guerra civil".
No Brasil, as sucessivas crises econômicas também não permitiram tranquilidade. A empresa fechou a década de 80 com 549 lojas, mas passou por um forte processo de reestruturação que a fez retroceder para um patamar de 349 lojas no final da década de 90. A empresa abriu capital em 1995, e com a criação de uma nova holding, em 1999, o controle do grupo passou a ser compartilhado de forma igualitária (50% para cada) entre Abilio Diniz e o grupo Casino.
Hoje, o momento também é de reestruturação, mas por outros motivos. Com 575 lojas, a rede quer voltar a crescer com sustentabilidade. No ano passado, o consultor Cláudio Galeazzi foi contratado para assumir o comando da empresa e "adequá-la" às nova necessidades do mercado. Para 2009, o programa de investimentos do grupo prevê aplicação de recursos da ordem da R$ 1 bilhão em 100 novas lojas envolvendo supermercados, hipermercados, lojas de conveniência e postos de gasolina. Como resultado do aquecimento da economia, a previsão da empresa é encerrar este ano com vendas brutas de R$ 20 bilhões, um crescimento superior a 13,5% sobre o resultado do ano anterior.
veículo: Gazeta Mercantil