Representantes de produtores de laranja e exportadores de sucos cítricos reconheceram no Senado, ontem, que o setor atravessa uma de suas piores crises. De um lado, os produtores culpam a turbulência por dois motivos: cartelização e o crescente processo de concentração econômica, em curso na citricultura brasileira, segundo eles, há mais de 20 anos.
Já os exportadores, apesar de admitirem a existência de concentração econômica no setor, comum em outros segmentos industriais, apontam o agravamento da crise em virtude, principalmente, da retração do mercado mundial. O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CITRUS BR), Christian Lohbauer, disse que o preço da laranja industrializada sofreu queda de 17%, com um agravante: há excesso de estoques nos EUA e na Europa.
Diante desses problemas, Lohbauer defendeu que o governo federal subsidie o setor em momentos de queda de consumo, bem como a abertura de uma campanha nacional e mundial para aumentar o consumo da laranja industrializada. Ele também disse apoiar o projeto que obriga as escolas públicas a servirem para os alunos suco de laranja ou outros sucos de frutas regionais.
Lohbauer ainda negou as acusações de que existe subfaturamento nas empresas de suco de laranja. Ele também rejeitou a ideia da concentração de terras pelo setor.
Os senadores, a exemplo de Tasso Jereissati (PSDB-CE), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e Eduardo Suplicy (PT-SP) defenderam a criação de uma agenda positiva e abertura de diálogo entre as partes para que o setor seja normalizado. Suplicy chegou a propor a criação de uma câmara de arbitragem para a citricultura, a exemplo do que já ocorre com a cana-de-açúcar.
Para Arthur Badin, presidente do Conselho Administrativo da Defesa Econômica (Cade), é necessário a adoção de "novos mecanismos de governança" para que o setor seja equilibrado. Ele observou que o setor deve ser preservado e melhorado, com o objetivo, de se buscar uma ordenação do mercado.
Cartelização
Flávio de Carvalho Pinto, presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), disse que a partir dos anos 90 houve, de fato, a cartelização e a concentração econômica na citricultura brasileira, o que resultou no processo de expulsão gradual do mercado de pequenos e médios produtores. Quem saiu lucrando, observou, foram empresas aliadas às engarrafadoras Coca-Cola e Pepsi-Cola.
Veículo: DCI