A aprovação da mistura obrigatória de derivados de mandioca na farinha de trigo que é comprada por governos anima os produtores de amido, que esperam impulso extra ao segmento assim que a decisão passar a valer. Já aprovado na Câmara dos Deputados, o projeto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) teve, na terça-feira, também o aval do plenário do Senado. O projeto seguiu para sanção presidencial.
"Esse pode ser um primeiro passo para que cresça a mistura também no trigo comercializado no mercado privado", diz Ivo Pierin Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam). Como a adição dos derivados de mandioca à farinha de trigo terá um cronograma de aumento paulatino, a medida não deverá ocasionar desabastecimento ou variações bruscas de preços, acredita o dirigente.
A mistura obrigatória era um pleito antigo das indústrias que processam a mandioca. O projeto inicial previa que toda a farinha de trigo consumida no país tivesse a adição de 10% de derivados de mandioca, mas, com essa proposta, não se chegou a acordo com os moinhos de trigo. A idéia de a mistura valer apenas para as compras feitas por governos acabou sendo consensual, afirma Pierin Júnior.
A mistura compulsória será ampliada gradativamente. No primeiro ano, a exigência será de adição de 3%. A obrigatoriedade passará a 5% no segundo ano e a 10% a partir do terceiro. Produtos como a farinha refinada de mandioca poderão ser utilizados, mas, segundo o dirigente, o amido, com uma indústria melhor estruturada, deverá ter mais espaço.
Ele estima que as compras governamentais sejam de 500 mil toneladas anuais. Com isso, quando a adição obrigatória alcançar os 10%, será criada uma demanda adicional de 50 mil toneladas de amido, ou quase 10% da produção nacional, de cerca de 600 mil toneladas.
A aprovação poderá fazer a indústria retomar projetos de mistura deixados de lado. O Grupo Horizonte, do Paraná, foi um dos pioneiros na produção de farinha de trigo com mistura de amido, em 2002. "A medida vai incentivar o produtor a plantar mandioca. Abandonamos o projeto no passado porque o amido acabou ficando muito caro", diz Osvino Ricardi, proprietário da companhia. Massas caseiras e pães para hambúrguer, entre outros, são produtos que podem ser feitos com farinha de trigo com adição de até 40% de amido.
Veículo: Valor Econômico