Com movimento, esperado há 15 anos, varejistas não precisarão mais fazer importação direta
A espera de 15 anos do mercado de videogames está com os dias contados. A Sony planeja para antes do Natal o lançamento oficial no Brasil dos consoles da linha PlayStation, diz Ron Tsutsui, diretor-presidente da companhia. Com isso, a empresa passa a ser o canal de comercialização dos videogames PlayStation 2 (PS2), PlayStation 3 (PS3) e PlayStation Portátil (PSP), hoje importados diretamente pelos varejistas. De acordo com o executivo, que assumiu o cargo há seis meses, as negociações para colocar os equipamentos no mercado local estão quase concluídas e o anúncio oficial será feito pela companhia nas próximas semanas.
Além de permitir a redução dos preços dos equipamentos por conta de isenções fiscais, trazer os produtos oficialmente para o Brasil significa dar a consumidores e varejistas a garantia de que eles terão suporte local caso aconteça algum defeito, ação que pode estimular as vendas.
Na avaliação de especialistas, a chegada do PlayStation é o passo final para o reaquecimento da indústria brasileira de videogames, que começou a se reerguer a partir de 2006, com o lançamento dos consoles de última geração da Microsoft (Xbox360) e Nintendo (Wii). "Ter os três fabricantes no mercado ajudaria no seu crescimento", disse Milton Beck, diretor da divisão de varejo e entretenimento da Microsoft, recentemente ao Valor. Além da redução de preços, a importação oficial dá garantia aos consumidores e aos varejistas de que eles terão suporte caso o produto apresente algum defeito.
"No México, o PlayStation já é o segundo produto mais vendido pela Sony [atrás apenas das televisões]. Acredito que o desempenho se repita no Brasil", diz Tsutsui. Apesar de já ter o Processo Produtivo Básico (PPB) para fabricar consoles em sua fábrica em Manaus, com carga tributária reduzida, a Sony iniciará as vendas com equipamentos importados. O executivo não deu mais detalhes sobre o assunto alegando que as negociações ainda estão em curso.
Desde que iniciou sua jornada pelo mercado de diversões eletrônicas em 1994, com o lançamento do primeiro PlayStation, a Sony nunca comercializou seus equipamentos no Brasil. Esse movimento foi tema de inúmeros boatos no setor, mas o desembarque oficial do console nunca aconteceu. Carga tributária, pirataria e até uma disputa pela propriedade da marca PlayStation no Brasil - registrada pela Gradiente em 1999 e devolvida à Sony em 2003 - figuravam entre as possíveis razões para que o país ficasse fora do mapa da companhia.
Enquanto isso, a demanda interna foi sendo suprida pela importação direta pelos varejistas e pelo contrabando. Uma pesquisa de 2004 estimava em 3 milhões o número de consoles PlayStation 2 no Brasil, diz André Penha, vice-presidente de comunicação e marketing da Associação Brasileira de Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames). "Hoje o número pode ser duas vezes maior", avalia. O console lançado pela Sony em 2000 já vendeu 138 milhões de unidades em todo mundo e pode ser encontrado com preços a partir de R$ 400. Segundo especialistas, o console é líder do mercado nacional de videogames. "O varejo tem uma demanda de pelo menos 1 milhão de unidades do PS2 por ano", diz Jorge Magalhães, diretor-geral da Sony DADC, unidade do grupo voltada à fabricação de CDs e DVDs.
Em abril, a empresa informou ao Valor o início da produção local de jogos para PS2, PS3 e PSP. No primeiro caso, os jogos serão totalmente produzidos na unidade de Manaus. Nas outras duas plataformas, os discos serão importados e os encartes e embalagem serão feitos no Brasil.
A previsão inicial da Sony DADC é produzir 500 mil unidades de jogos para PS2 e 80 mil para PS3, mas Magalhães acredita que os volumes vão crescer dependendo da velocidade com que as editoras de jogos se interessem pelo mercado. "O aumento pode ser de 3 a 4 vezes nos próximos 12 ou 16 meses", diz. Com a produção local, a expectativa é de que o preço dos jogos caia por volta de 25%. A primeira encomenda, feita pela Warner Home Entertainment, foi entregue para distribuição no início de julho.
Segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), 13% dos domicílios brasileiros tinham consoles de jogos eletrônicos em 2008. A classe C ficou um pouco acima da média, com 14%, e a classe A atingiu um percentual de 58%. Os volumes são maiores que os de domicílios com TV por assinatura nas duas faixas da população (5% e 53%, respectivamente). De acordo com informações do Ministério da Cultura, o mercado mundial de jogos eletrônicos movimenta US$ 50 bilhões no mundo, com crescimento de 20% ao ano. O Brasil representa US$ 350 milhões do total.
Além de colocar a Sony oficialmente na disputa pelo mercado de consoles, o lançamento do PlayStation completa o portfólio de produtos da empresa no Brasil, que hoje inclui celulares, aparelhos de TV e a oferta de conteúdo de música e vídeo. Ontem, durante a feira de tecnologia IFA, em Berlim, o executivo-chefe da companhia, Howard Stringer, anunciou um novo posicionamento da corporação, que tem 160 mil funcionários e cerca de mil empresas. A proposta é integrar todas as marcas sob um mesmo slogan (make.believe) e mostrar aos consumidores que todas as atividades são feitas pela mesma empresa.
Veículo: Valor Econômico