A vida após o luto

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Depois da inesperada perda da rede Ponto Frio para o grupo Pão de Açúcar, o Magazine Luiza vira a página, recebe propostas de venda e sonda cadeias no sul do País


 

Solução Eficaz: expansão por meio de aquisições consolidaria a posição de vice-líder do mercado
Estudiosos do comportamento humano tentam compreender o luto há décadas. Em um artigo publicado em 1916, o fundador da psicanálise Sigmund Freud escreveu que a perda de um ente querido "é um processo longo e doloroso, que acaba por resolver-se por si só quando se encontram objetos de substituição para o que foi perdido". Em junho deste ano, a empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, passou por um episódio classificado por ela própria como uma tragédia.

 

Depois de comentar com fornecedores que estava certa a compra da rede Ponto Frio, ela foi surpreendida por uma proposta do Pão de Açúcar, que acabou fechando o negócio. Não é nenhum exagero dizer que Luiza considerou o episódio semelhante à perda de um familiar. A aquisição, afinal, consolidaria sua rede como a segunda maior varejista brasileira. "Vivi sete dias de luto, mas me sinto honrada por ter lutado até o final", afirmou ela, em recente evento em São Paulo. Agora, a empresária parece ter encontrado algo que a fez superar o drama de ter deixado escapar o Ponto Frio - o que, aliás, confirma a teoria de Freud. Luiza decidiu ir às compras.


Segundo apurou a reportagem da DINHEIRO, aquisições devem ser finalizadas no futuro próximo.
Algumas redes já aceitam sentar-se à mesa de negociações com o Magazine Luiza. Outras tratam do assunto com sigilo total e aguardam proposta melhor

 

Na semana passada, foram entrevistados, na condição de sigilo, três consultores que prestam serviços à Magazine Luiza. De acordo com esses profissionais, as atenções da rede estariam voltadas para as Lojas Becker, Lojas Manlec, Berlanda, as redes MM Mercadomóveis e Salfer, todas baseadas no sul do País, mercado que é considerado estratégico. Embora tenham atuação regional, essas varejistas criaram grupos com vendas anuais entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões, valores expressivos em um setor tão pulverizado.

 

O sul atrai grandes redes (a Casas Bahia, líder do ramo, cresce mais nessa região do que em qualquer outro lugar do Brasil) graças principalmente aos baixos índices de inadimplência e à grande quantidade de redes pequenas e médias espalhadas pelos Estados. Frederico Trajano, filho de Luiza e diretor do grupo, admitiu recentemente que a empresa está de olho em oportunidades. "Estamos atentos a tudo", afirmou. Segundo ele, o Magazine Luiza foi inclusive procurado por grupos interessados em vender suas redes varejistas. Procurada, a empresa enviou o seguinte comunicado à DINHEIRO: "O Magazine Luiza informa que não negociou a aquisição de nenhuma empresa na região Sul do Brasil. Com mais de 120 lojas, estes Estados estão bem servidos e contarão com uma expansão orgânica, sem necessidade de novas aquisições. O foco do crescimento do Magazine Luiza até 2010 está voltado para a Grande São Paulo."

 

Como é praxe no mercado, quem é sondado sempre diz que não quer sair do negócio. Trata-se de uma forma de valorizar a própria operação e fazer o preço subir. O grupo MM garante que não está à venda e que, na verdade, é um comprador. "Existem duas cadeias de Santa Catarina que aceitam vender o negócio", diz Emilio Glinski, diretor comercial e de compras do grupo MM Mercadomóveis.

 

Caçada declarada "Estamos atentos a tudo", disse Frederico Trajano, diretor do Magazine Luiza
 

 


Dinheiro Novo, Dono Novo : Altamente pulverizado, o varejo na região Sul do País, onde estão as Lojas Berlanda e Becker, é alvo de sondagens por parte do Magazine Luiza. Expansão local deve acontecer com dinheiro de um novo investidor
 

 


"Vamos falar com eles." Uma das redes que poderia se desfazer dos ativos é a Obino, do fundador Teo Obino, morto em 2004, que possui receitas anuais na casa dos R$ 200 milhões. Desde o início da crise financeira, a cadeia amarga um período conturbado. No ano passado, a meta de vendas ficou 8% abaixo do projetado, revela uma fonte próxima à empresa. O projeto de abertura de lojas acabou postergado. "Aprendemos que, se nos procurarem, vamos ouvir o que o interessado tem a dizer", diz a superintendente da Obino, Vera Wachter, que nega, entretanto, interesse em abrir mão da companhia. O assunto é tão delicado que outra rede ameaça quem toca no assunto. "Já falamos com nossos advogados e vamos processar quem disser que estamos à venda", diz Gilson Bogo, gerente comercial da Lojas Berlanda, de Santa Catarina.

 

A cadeia cresceu 20% em 2008 e abriu 26 lojas no ano passado - fatores por si só suficientes para atrair a atenção de grandes grupos.
O Magazine Luiza está prestes a receber uma bolada que pode injetar dinheiro novo do grupo. No final de julho, a LuizaCred, braço financeiro controlado pelo Magazine Luiza e pela Fininvest, do Itaú-Unibanco, obteve do Banco Central o direito de fechar parcerias com instituições de outros países. Essas empresas poderão adquirir uma participação de até 25% na LuizaCred.
 A DINHEIRO apurou que o fundo de investimentos Capital Group estaria negociando a compra dessa parcela do controle. Procurada, a Capital não se manifestou. Se conseguir abastecer o caixa, a empresa deverá acelerar o processo de aquisições. E Luiza poderá dizer que o período de luto foi definitivamente superado.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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