Cadbury pede a órgão regulador que obrigue Kraft a tomar posição

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A tentativa da Kraft de comprar a Cadbury parece uma história simples - um grande conglomerado empenhado em absorver uma bem-amada marca britânica.
O caso tem semelhanças com a aquisição, pela InBev, no ano passado, da Anheuser-Busch, fabricante da cerveja Budweiser e maior cervejaria americana.

 

Mas existe uma diferença crucial entre as propostas da InBev e da Kraft que indicam que este último enredo será mais tortuoso.
A InBev fez uma proposta integral em dinheiro, ao passo que, em sua proposta inicial, a Kraft, que avalia a Cadbury em 10,2 bilhões de libras (US$ 16,7 bilhões), ofereceu quase dois terços em ações. "Esse é o complicador", diz Martin Deboo, analista na Investec.

 

Na segunda-feira, a Cadbury pediu à UK Takeover Panel (comissão britânica regulamentadora de aquisições) que imponha uma decisão denominada "mostre o dinheiro ou cale-se" à Kraft - o que poderá levar até uma semana para ser tomada.

 

A Cadbury pediu à comissão que solicite à Kraft que apresente uma proposta formal de "takeover" ou abstenha-se por seis meses. A comissão diz ser "muito raro" não aprovar pedidos desse tipo (conhecidos por "put up or shut up"). O pedido é também um recado a qualquer empresa que que venha a fazer uma contra-oferta ao alertar os potenciais interessados que ele dispõem de um lapso limitado de tempo para expressar-se.
"A decisão da Cadbury acelera um pouco o processo e força a mão de quaisquer outros interessados", diz Simon Marshall-Lockyer, analista da Jefferies International. A (eventual compra da) Cadbury é o tipo de aquisição que só acontece "uma vez na vida", acrescenta.

 

O que pesa a favor da Cadbury é a cesta de dinheiro e ações na proposta feita pela Kraft. O valor relativamente pequeno em dinheiro não foi bem-recebido pelos investidores. "É sempre mais fácil quando é tudo só em dinheiro", diz um deles.

 

Durante os últimos cinco anos, o preço das ações da Kraft registraram um desempenho inferior ao do índice industrial da Dow Jones. Embora Irene Rosenfeld, executiva-chefe da companhia, diga que as ações da Kraft estão "subvalorizadas", ela precisa convencer os investidores da Cadbury.

 

A demora em torno da aquisição beneficia a Kraft. Quanto mais tempo a Kraft levar para fazer seu próximo lance, mais favoravelmente os investidores das duas companhias poderão considerar a proposta inicial. E isso poderá valorizar as ações da Kraft e desvalorizar as da Cadbury.

 

Mas a persistente presença da Kraft atrapalha a administração da Cadbury em sua gestão dos negócios da companhia. "Eles querem ir apertando nossa companhia aos poucos", disse uma fonte próxima à Cadbury, acrescentando que a ordem de "put up or shut up" obrigará a Kraft a provar que tem condições de financiar sua proposta.

 

A Kraft precisa demonstrar estar financeiramente comprometida com uma proposta formal, em vez de apenas assegurar ao mercado de que não terá problemas em obter o financiamento necessário.

 

A companhia está trabalhando em colaboração com assessores do Citigroup e do Deutsche Bank para levantar recursos. Para fazer uma proposta formal, a Kraft necessitará tempo para decidir se elevará seu lance inicial.

 

A Kraft terá apenas uma oportunidade para atrair a Cadbury a fechar um negócio ou, no mínimo, entrar em negociações, se a comissão de aquisições impuser um limite de prazo. Se a Cadbury rejeitar uma proposta formal, a Kraft terá de se afastar durante pelo menos seis meses.
Pessoas próximas a companhia dizem que a Kraft também vem reunindo informações para descartar outras preocupações da comissão. Um das preocupações é se a fusão da Kraft e Cadbury iriam contraria a legislação antitruste ou outros regulamentadores, o que poderia retardar ou impedir a efetivação do negócio.

 

Uma fonte bem informada sobre a questão disse que a imposição de um limite de prazo na ordem de "put up or shut up" não é relevante, porque a Kraft planeja cumprir qualquer prazo que a comissão venha a impor. Até agora, os investidores estão apoiando a Cadbury. O preço de suas ações permanece alto, mostrando que os investidores estão esperando uma proposta melhor.

 

Nick Train, da Lindsell Train, gestora britânica de fundos e que mantém ações da Cadbury em sua carteira, afirma: "A esse preço, seria bom [se a Kraft desistisse], pois seria pior deixar de ter acesso a uma ação desse calibre".
 


Veículo: Valor Econômico


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