Queda do dólar não chega ao bolso do consumidor

Leia em 3min 30s

Cotação da moeda já caiu 23% este ano, mas bebidas e alimentos, cujos preços têm influência do câmbio, não baixaram. Problemas estão na safra, na importação e na alta de impostos

 

De janeiro até agora, o dólar já acumula desvalorização de 23,25%. Entretanto, a queda não tem sido suficiente para baratear o custo de alimentos e bebidas - mesmo nos casos em que preços são diretamente influenciados pela cotação da divisa americana.

 

Bebidas importadas, derivados do trigo e alimentos que têm grande quantidade de açúcar na composição são exemplos de produtos que deveriam ter ficado mais acessíveis com a queda do dólar. Porém, problemas com a safra do açúcar na Índia, dificuldades na importação do trigo da Argentina e até mesmo a mudança de tributação nas bebidas anularam a influência da moeda americana no preço desses itens - que em vez de ficarem mais baratos, estão mais caros do que estavam em janeiro.

 

A principal alta foi a registrada pelo açúcar refinado. De janeiro a agosto, a inflação do produto segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo IBGE na região metropolitana de São Paulo, é de nada menos que 27,8%. “Isso é reflexo de uma quebra da safra na Índia, que vem a ser um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo”, justifica Eulina Nunes, coordenadora dos índices de inflação do IBGE.

 

O açúcar é um produto cotado em bolsas de mercadorias internacionais - é uma commodity, como se convém chamar.

 

Por isso, quando ocorre um problema de produção e há menos açúcar disponível no mercado, seu preço sobe em todo o mundo. “Mesmo que o Brasil seja também um grande produtor de açúcar, o preço dessa commodity é definido pelo mercado internacional, e isso se reflete na mesa do brasileiro”, diz Eulina.

 

Já no caso do trigo, o problema teve origem na Argentina. “Com a crise, o país vizinho deixou de exportar sua produção para o Brasil e aí a nossa indústria precisou buscar a mercadoria no Canadá e nos EUA, aumentando os custos com frete”, comenta Denis Ribeiro, diretor do departamento de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). Por esse motivo, macarrão, biscoitos, pães e até a cerveja ficaram mais caros nos últimos meses.

 

Mas e as bebidas importadas, por que não ficaram mais baratas? Um dos motivos é a mudança da tributação: IPI, PIS e Cofins passaram, em janeiro, a incidir sobre o preço final da bebida, o que significa que quem fabrica ou importa produtos mais caros passou a pagar mais impostos. Outra razão está na data em que a compra das bebidas foi feita pelos importadores. “Em geral, o estoque dos produtos importados que estão hoje nas gôndolas foi formado há 90 dias. E há três meses o dólar não estava tão barato como está hoje”, argumenta Martinho Paiva Moreira, vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

 

Sem novos aumentos

 

Mas a boa notícia é que os preços não devem subir mais. Melhor: em alguns casos, como o das bebidas alcoólicas, a estimativa é de que os produtos fiquem mais baratos até o fim do ano. “As altas que o trigo e o açúcar deveriam apresentar já foram incorporadas aos preços dos produtos”, afirma Moreira. “Por isso, não deve haver mais aumentos.”

 

A partir de agora, as bebidas importadas que forem parar nas prateleiras também serão compradas a um preço menor, já que a cotação do dólar está mais baixa. “O consumidor vai gastar menos agora e, até o Natal, a conta do supermercado estará mais barata”, diz Moreira.

 

A Associação Brasileira de Supermercados prevê que a cesta de produtos natalinos esteja até 10% mais em conta em 2009 do que em dezembro de 2008.

 

Veículo: Jornal da Tarde - SP


Veja também

Comerciantes se adaptam à venda da banana por quilo

Nos três primeiros dias de fiscalização, depois de entrar em vigor a Lei Estadual n. 13.174 que exig...

Veja mais
Sorvetes

Jundiá é a terceira maior marca de sorvetes do país e seu crescimento é a prova de que o set...

Veja mais
Idec recomenda brinquedo com selo

Qual criança não gosta de ganhar brinquedo no dia 12 de outubro? Na pressa, muitos pais deixam para compr&...

Veja mais
Supermercados já fecham a compra natalina com indústria

Enquanto a primeira fornada de panetone chega às prateleiras dos supermercados cada vez mais cedo, a queda-de-bra...

Veja mais
Acionista pressiona Carrefour a sair do Brasil, diz jornal

Segundo o Le Monde, dois grandes acionistas querem a venda de ativos em países emergentes como Brasil e China &n...

Veja mais
Acionistas pressionam Carrefour a sair de Brasil e China, diz jornal

Dois dos principais acionistas do Carrefour estão pressionando o grupo francês para que se desfaça d...

Veja mais
Itambé quer crescer no segmento de queijos

Apesar da intensa movimentação no setor de alimentos, com a associação entre Perdigão...

Veja mais
Produtos sob medida

De alguns anos para cá, fabricantes de alimentos e redes de supermercados têm se esmerado em criar op&ccedi...

Veja mais
Le Monde: acionistas querem Carrefour fora do Brasil

Na contramão do mundo, os dois principais acionários individuais do grupo supermercadista francês Ca...

Veja mais