Apesar da intensa movimentação no setor de alimentos, com a associação entre Perdigão e Sadia e a compra de negócios da Parmalat no Sul do País pela Nestlé, a Itambé, segunda maior empresa do mercado brasileiro em leite em pó e leite condensado, mantém a estratégia de crescer de forma orgânica. Um dos segmentos de mercado em que a companhia quer espaço é o de queijos de largo consumo, como muzzarela e prato, segundo informou o presidente da Itambé, Jacques Gontijo.
"Temos requeijão e queijo petit suisse, mas é muito pouco. Somos fracos na linha de queijos e esse é um mercado importante", disse. A Itambé deixou de atuar há cerca de sete anos no mercado de queijos de largo consumo devido à informalidade do setor, mas hoje estuda reativar a fábrica de Piracanjuba, em Goiás, ou construir uma nova unidade no Estado do Paraná. "Temos que esperar o mercado se consolidar", afirmou. A fábrica do Paraná para leite em pó já estava nos planos da companhia, mas os investimentos foram suspensos com a crise econômica.
Para Gontijo, o mercado de queijos está se tornando mais rentável com a redução da informalidade. "Queremos voltar para esses produtos da mesma forma que recuperamos nossa presença em leite fluido", disse. A companhia também tem planos de abrir no ano que vem uma unidade de produção de leite longa vida em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Com investimento de R$ 30 milhões, a unidade responderá pela produção de 300 mil litros por dia. O objetivo da unidade é atender o mercado de São Paulo e a região Sul, onde a Itambé quer aumentar seu market share.
Por outro lado, a companhia mantém suspenso o projeto de quase duplicação da fábrica de leite em pó de Uberlândia, em Minas Gerais, cujo aumento de capacidade seria voltado quase que exclusivamente à exportação - mercado que sofreu forte retração com a crise econômica. No início do ano, essa fábrica já tinha recebido R$ 40 milhões para ampliar sua capacidade de 1,2 milhão para 1,4 milhão de litros de leite diários e agora receberia mais R$ 100 milhões para alcançar a capacidade de 2,4 milhões de litros por dia.
Essa segunda etapa do projeto foi suspensa com a retração do mercado externo. "Como a exportação caiu, estamos atendendo bem o mercado interno com essa fábrica", justificou. Segundo ele, parte dos recursos foram direcionados para a fábrica de Pará de Minas, que atende o mercado interno nas linhas de refrigerados, como iogurte, e leite fluido. Com investimento de R$ 45 milhões a R$ 50 milhões, a Itambé prevê dobrar a capacidade de leite dessa fábrica, para 600 mil litros diários. A companhia tem, hoje, sete fábricas sendo seis de laticínios e uma de rações.
Apesar de prever crescimento de 10% nas vendas no mercado interno este ano, a queda das exportações, de 20% do faturamento para 5%, irá contribuir para que a receita total da companhia recue de R$ 2,045 bilhões no ano passado para algo entre R$ 1,9 bilhão e R$ 1,95 bilhão este ano, segundo Gontijo. "Com a crise, o Brasil deixou de exportar leite e passou a importar. Houve uma mudança radical no cenário", afirmou. A previsão do executivo é a de que a crise deixe de produzir efeitos no final do ano que vem.
A Itambé tem, atualmente, capacidade para produzir 4,5 milhões de litros de leite por dia, mas sua produção atual está na casa dos três milhões de litros. Diante dessa capacidade ociosa, disse Gontijo, a empresa não vislumbra realizar aquisições nesse momento. Pelo mercado chegou-se a especular o interesse da Itambé pelo laticínio Nilza, o que Gontijo disse não fazer o menor sentido atualmente. A Itambé tem 35% de participação de mercado em leite condensado e 20% em leite em pó, seus dois principais produtos.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ