Jovens com salário menor puxam a volta do emprego

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Para enfrentar a crise, empresas reduziram custos trocando profissionais mais experientes, e com maiores salários, por trabalhadores mais baratos. Contratações foram lideradas pelas pequenas empresas, que também pagam menos

 

A recuperação do emprego na Região Metropolitana de São Paulo está centrada nas contratações de jovens com até 24 anos, revelam dados do Ministério do Trabalho. A pesquisa mostra que as demissões causadas pela crise no último quadrimestre de 2008 já foram superadas pelas vagas criadas durante 2009: o saldo, até julho, estava positivo em 44.697 postos de trabalho.

 

Mas o dado esconde uma realidade desigual. Ao dividir os trabalhadores por faixa etária, é possível notar que a crise do emprego ficou no passado apenas para os profissionais com até 24 anos (veja quadro). Para os que se encontram acima dessa faixa etária, o número de demitidos em razão da crise ainda é maior que o de contratados.

 

O fenômeno se explica. “Muitas empresas, para cortar custos, adotaram a estratégia de demitir profissionais mais velhos e experientes, que possuíam salários mais altos, para contratar gente jovem que aceitasse uma remuneração mais baixa”, justifica Hélio Zylbertajn, presidente do Instituto Brasileiro das Relações de Emprego e Trabalho (Ibret).
“Diante desse cenário, os jovens, que normalmente encontram mais dificuldades para se inserir no mercado de trabalho, se depararam com uma oportunidade”, salienta Zylbertajn. “Em contrapartida, os mais experientes foram prejudicados por essa crise.”

 

Além da necessidade de diminuir custos, outra explicação para a forte presença de jovens entre os contratados no período pós-crise está no perfil das companhias que abriram essas vagas: dados do Sebrae mostram que, em agosto, as micro e pequenas empresas foram responsáveis por 56% dos postos de trabalho criados em todo o Brasil.
“As pequenas empresas são as grandes empregadoras do País.Porém, elas oferecem salários menores e, como consequência, acabam atraindo gente mais jovem e com menos experiência para ocupar esses cargos”, reconhece Emanuel Falcão, analista do Sebrae.

 

Problemas à vista

 

Embora a situação atual represente uma oportunidade para os jovens, que encontram mais chances de se inserir no mercado de trabalho, no longo prazo isso pode representar um problema para toda a economia.

 

“Empresas que trocam profissionais qualificados por gente sem experiência alguma demonstram um descompromisso com a qualidade”, destaca Sérgio Amad, professor de Relações de Trabalho da FGV-SP. “Promover a rotatividade para baixar salários também desmotiva a equipe, porque as pessoas deixam de acreditar que a empresa valoriza o conhecimento e o desenvolvimento dos funcionários.”

 

Aos trabalhadores, resta tomar as rédeas de sua própria carreira. “Os jovens precisam aproveitar a chance de conquistar experiência para formar um currículo mais atraente para o futuro”, avalia Fernando Montero da Costa, diretor da consultoria Human Brasil. Já os mais experientes devem analisar o mercado de forma ampla e avaliar como seu conhecimento pode ser útil em outras áreas. “Manter-se atualizado, sempre fazendo cursos e especializações, também é uma boa estratégia para se tornar atrativo ao mercado”, recomenda Costa.

 

Embora o mercado passe por altos e baixos, quem se prepara ganha uma vantagem competitiva. A fonoaudióloga Ana Carolina de Oliveira, de 30 anos, é prova disso. Ela já tinha dois empregos e, em meio à crise, recebeu uma outra proposta. Aceitou. Hoje, é funcionária do hospital Albert Einstein e credita o sucesso na carreira a um misto de boa formação e experiência. “Eu estudei bastante, continuo me especializando, entrei no mercado de trabalho ainda jovem e por isso já acumulei alguma vivência na profissão”, resume. “Eu acho que isso me ajuda a encontrar espaço no mercado.”

 


Veículo: Jornal da Tarde - SP


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