Estudo aponta inovação como saída para setor têxtil

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"O crescimento exponencial" dos produtores asiáticos de têxteis e confecções, liderados pela China, causou a desestabilização dos demais produtores, inclusive o Brasil, e tornou fundamental para estes "desenvolver estratégias competitivas diferenciadas, baseadas na utilização da inovação tecnológica como um instrumento relevante para inserção no mercado mundial".

 

A conclusão é do estudo "Panorama da Cadeia Produtiva Têxtil e de Confecções e a Questão da Inovação", recém-divulgado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O trabalho foi realizado por Ana Cristina Rodrigues da Costa, gerente do departamento de bens de consumo, comércio e serviços da área industrial do banco e por Érico Rial Pinto da Rocha, estagiário do setor.

 

Passados mais de oito anos desde que o BNDES realizou um estudo setorial detalhado da cadeia têxtil e de confecções (setembro/2000), o novo trabalho constatou que os mesmos gargalos detectados na versão anterior permanecem válidos.

 

Entre esse gargalos apontados pelo estudo estão a crescente entrada de bens importados, "muitas vezes contrabandeados", participação "insignificante" nas exportações mundiais e concentrada nos elos de menor valor agregado da cadeia, especialização em fibras naturais - apesar de o consumo mundial crescer mais para o lado das fibras químicas e dos tecidos mistos -, parque de máquinas com idade média elevada, falta de ações coordenadas na cadeia produtiva, alta informalidade, baixa capacidade técnica e gerencial e dificuldade de acesso ao crédito.

 

Neste contexto, e diante da ofensiva asiática, não é estranhável que a participação brasileira nas exportações mundiais do setor tenha recuado de 0,7% para incipiente 0,3% em 2007, em um contexto no qual o valor do comércio mundial da cadeia cresceu 50% de 2000 a 2006, atingindo a soma de US$ 530 bilhões, 27,2% dos quais abocanhados pela China.

 

Apesar dos reveses, os técnicos do BNDES constatam que a importância da indústria têxtil e de confecção para a economia brasileira permanece intacta. Essa relevância é facilmente percebida quando se sabe que em 2007 o setor empregava 1,56 milhão de pessoas, número equivalente a 17,3% de todos os empregos gerados pela indústria de transformação no país.

 

As oscilações cambiais tiveram papel decisivo no comportamento das importações e exportações brasileiras, mas o crescimento do comércio mundial também foi um agente importante, tanto que em 2004 e 2005 - já em pleno ciclo de valorização do câmbio, só quebrado em setembro de 2008 - houve crescimento das exportações.

 

O estudo constata que, historicamente, a indústria têxtil e de confecções brasileira tem o foco voltado para o mercado interno. O Brasil é o sexto maior produtor mundial, responsável por 2,5% da produção total, mas ocupava em 2006 apenas o 46º lugar entre os maiores exportadores.

 

Para Carlos Eduardo Castello Branco, chefe do departamento ao qual estão subordinados os autores do estudo, o atual ciclo de valorização do real é novamente um obstáculo à conquista do mercado externo pelo setor têxtil brasileiro, mas representa também uma janela de oportunidade para que as empresas renovem seus parques fabris a custos favoráveis. Isto porque a quase totalidade das máquinas usadas no setor tem origem externa, principalmente da Alemanha, Itália e, mais recentemente, da China.

 

Renovar o maquinário, um tipo de inovação de fora para dentro, é apenas um dos requisitos apontados pelo BNDES para que a indústria têxtil e de confecções brasileira seja capaz de defender seu próprio mercado e disputar a demanda global. Desenvolver produtos de maior valor agregados diferenciados por estilo - "tribos", como a do surfe, a da música eletrônica e outras-, faixa etária e gênero, além de ser capaz de dar resposta rápidas às tendências do mercado consumidor, são caminhos considerados essenciais para a sobrevivência do setor.

 

Paralelamente à oferta de crédito, o BNDES está trabalhando em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e a Associação Brasileira de Estilistas (Abest) no esforço para combinar o desenvolvimento de tecidos inovadores com a "reconhecida força do design brasileiro", explica Ana Cristina.

 

De 1999 a 2007, o setor têxtil e de confecções, um dos prioritários na atual política industrial brasileira , batizada de política de desenvolvimento produtivo (PDP), captou anualmente no BNDES valores que foram de R$ 485,9 milhões, em 1999, a R$ 220,4 milhões, em 2004. Em 2008, com a economia pisando no acelerador, um ponto fora da curva: R$ 1,35 bilhão. De janeiro a junho deste ano, o valor foi de R$ 208,7 milhões, indicando que o fluxo deverá retornar à média histórica.

 

Os técnicos do BNDES destacaram que, apesar da queda dos valores, o número de operações saltou de 1.852 nos primeiros sete meses do ano passado para 5.206 no mesmo período deste ano. No subsetor de confecções, principal gerador de empregos, o total de operações passou de 1.323 para 4.294 (mais 224,6%).
 


Veículo: Valor Econômico


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