O perigo mora em casa

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As empresas do setor de varejo perdem R$ 11,6 bilhões por ano com furtos e fraudes. Quem são os maiores vilões? Os próprios funcionários

 

No início, ninguém desconfiou. As peças sumiam dos cabides aos poucos, passando despercebidas aos olhos dos seguranças. O ato, contudo, se tornou tão recorrente que o desfalque atingiu R$ 200 mil e deixou tudo tão claro que até um cego enxergaria: a Daslu estava sendo roubada - pior - por uma funcionária de uma joalheria pousada na butique de luxo. Em vez de ir para o xilindró, ela apenas foi demitida e a empresa decidiu pagar consulta em um psicanalista.

 

Apesar de parecer um problema pontual, o fato trouxe a luz para uma questão cada vez mais comum no setor de varejo. As perdas referentes a furtos e fraudes são colossais. De acordo com um estudo elaborado pelo Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar) em parceria com a Felisoni Consultores Associados, as cadeias varejistas brasileiras perderam R$ 11,6 bilhões em 2008 com esse tipo de problema.

 

Nesse bolo, o furto interno responde por 31,7%. Muitos dos casos, aliás, são escondidos para debaixo do tapete. "As empresas não gostam de revelar os dados oficiais porque isso mostra a fragilidade no processo de gestão", diz Luiz Fernando Biasetto, sócio sênior da Gouvêa de Souza, consultoria especializada em varejo. Ninguém gosta de ser enganado ou roubado pelos próprios funcionários.

 

Mas a preocupação com as perdas no varejo se acentuou a partir de 1994, com a estabilidade econômica gerada pelo Plano Real. "Antes, com a inflação alta, as empresas repassavam facilmente as perdas para os preços", diz Claudio Felisoni, coordenador do Provar

 

"Hoje, não dá mais para fazer isso." A saída é fiscalizar. "Um grupo como o Pão de Açúcar, por exemplo, tem um exército de funcionários para monitorar e controlar as perdas", diz Biasetto. Afinal, o segmento de supermercados é um terreno fértil para os furtos.

 

"Em uma loja de uma outra grande rede do Rio de Janeiro, descobrimos uma funcionária que trabalhava no caixa e estava roubando a empresa no momento de passar os produtos", diz Luciano Bottura, gerente de marketing e produtos da Plastrom Sensormatic, empresa especializada em soluções de segurança eletrônica com mais de 400 clientes espalhados pelo Brasil.

 

"Ela fingia que estava registrando as compras, quando apenas consultava os preços e punha no carrinho de amigos e familiares. Aí, ela cobrava R$ 100 por uma compra que, na realidade, custava R$ 700." Como conhecem os sistemas de segurança e as políticas das empresas, os funcionários conseguem fraudar com mais eficiência.

 

E isso não acontece apenas no varejo. Uma pesquisa realizada pela consultoria KPMG com companhias dos mais diversos segmentos revelou que 61% das fraudes sofridas por elas são causadas pelos próprios empregados. Existem até quadrilhas internas. Além de assustar, esses indicadores mostram quanto as empresas são "complacentes" com os gatunos. Isso porque, de certa forma, a maioria dos casos acaba bem para os fraudadores.

 

"Geralmente eles são demitidos e ainda recebem os direitos trabalhistas. Nem acusados são porque as empresas buscam evitar problemas futuros com processos judiciais", diz Bottura. Essa política deriva de um outro grande problema. "Existem quadrilhas especializadas em simular roubos", diz Felisoni, do Provar. "Quando os seguranças prendem a pessoa dentro da loja e não têm como provar o roubo, essa mesma pessoa processa judicialmente e, em muitos casos, ganha." No fim das contas, quem perde é o consumidor. Mais cedo ou mais tarde, o preço será repassado
 

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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