Controle e confiança para reduzir as perdas com furtos

Leia em 5min 20s

Eliminar o furto é quase impossível, mas dá para reduzir bastante: é preciso contratar especialistas em segurança, manter um rigoroso controle do estoque e treinar a equipe para estabelecer a confiança entre patrão e funcionário.

 

Na Semaan Brinquedos, os furtos representavam 0,3% do faturamento. O índice agora, com as câmeras, está próximo de zero.Um dos maiores problemas que os lojistas enfrentam são os furtos, praticados tanto por funcionários da empresa quanto por consumidores. Impasse que pode ser atenuado com treinamento da equipe e a contratação de consultorias especializadas em segurança, entre outras ações. O controle diário dos itens e a confiança entre patrão e funcionário também são indicados por especialistas no assunto.

 

Uma pesquisa realizada pelo Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração da Fundação Instituto de Administração (Provar-Fia) mostra que o furto representa hoje 38,1% das perdas do varejo brasileiro. Um dos setores que mais sofre é o de eletroeletrônicos – o índice pode chegar a 57,5%. No atacado, os furtos representam 46% das perdas; no vestuário, 46%; nas drogarias, 42%; nos supermercados, 35%; no setor de material de construção, 34%. O resultado: queda na margem de lucro e, consequentemente, da competitividade.

 

A coordenadora do núcleo de prevenção de perdas do Provar, Patrícia Vance, diz que o controle da inflação mexeu com os negócios: “A inflação representava ganho para os varejistas. Depois da estabilização da economia, em 1994, com o Plano Real, isso mudou. As empresas têm de buscar a eficiência na operação para manter ou aumentar a margem de lucro e enfrentar os concorrentes”.

 

Quebra operacional

 

“Nos pontos de venda, a quebra operacional acontece até com as degustações de alimentos não autorizadas. Ou seja, aquele iogurte que os clientes consomem, inocentemente, durante as compras, vai para o prejuízo do comerciante”, afirma Patrícia.Ela lembra também as peças de roupas que as pessoas experimentam, no provador, e que acabam danificadas, também representam perda para o varejista: “Uma peça de número menor pode ter o zíper quebrado, isso é muito comum – e acaba na contabilidade do empresário. O jeito é aumentar o preço para não ter redução na margem de lucro”.

 

Patrícia dá outro exemplo de furto: “Tem gente que finge estar de olho numa impressora só para furtar o cartucho dela”. Segundo a coordenadora, os roubos e furtos representam 2,05% do faturamento líquido do varejo: “Se levarmos em conta que a margem líquida de um supermercado é de aproximadamente 2%, será possível mensurar o tamanho do prejuízo”.

 

O primeiro passo para começar a inibir esses procedimentos é o comerciante fazer um inventário da mercadoria para apurar o quanto perdeu. “O sistema de informação permite saber o quanto se está perdendo. Os processos revelam os pontos de risco. O investimento em tecnologia é importante, mas é preciso analisar onde os equipamentos devem ser colocados para não haver desperdício de investimento”.

 

Outra iniciativa importante citada por Patrícia é envolver todos os funcionários na empreitada – desde a alta direção até o pessoal da limpeza: “A conscientização é prioridade. A equipe deve saber que, se a margem de lucro for mantida, com a prevenção das perdas, ela também ganhará. A empresa deve atuar na mesma direção. Uma solução é atrelar a remuneração variável às vendas e perdas. Todos terão vantagem com isso – é a visão mais completa de equipe”, detalha a coordenadora do levantamento.

 

Crônico

 

Para o coordenador do núcleo de Estudos do Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), professor Ricardo Pastore, o problema de furtos e roubos no comércio é crônico: “Ele acontece todos os dias e vai continuar. O varejista lida com isso no dia-a-dia e busca incorporar a perda no âmbito da gestão. Porém, isso ainda não ocorre com frequência, infelizmente. A ferramenta que reduz a prática é a ação preventiva. O controle dos produtos tem de ser feito diariamente, com rigor no estoque da loja. A equipe deve fazer uma contagem física diária, por classificação dos itens. Desta forma o estrago poderá ser reduzido. O sistema, porém, não serve para identificar o furto, apenas garante o controle da informação – os dados físicos e contábeis são comparados e a diferença constatada”.

 

O controle permite que o varejista saiba qual a mercadoria mais visada: “Alguns deles são aparelho de barbear, tinta para cabelo, pilhas, bloqueador solar, CD, cigarros e bebidas. Esses itens fazem parte do grupo Produtos de Alto Risco, ou PAR. Para eles deve haver uma listagem própria. A contagem tem de ser feita todos os dias. O recebimento da mercadoria também é diferente: as caixas devem ir para uma sala fechada e o processo pode ser feito lá”.

 

O uso da tecnologia também é bastante indicado, de acordo com o professor: “Mas apenas isso não dá conta do problema. O comerciante precisa da parceria da equipe de trabalho, da força do fator humano, de confiança”.

 

A tecnologia foi a saída encontrada pelo proprietário da Semaan Brinquedos, na região da rua 25 de Março, Marcelo Mouawab. Ele comprou dezesseis câmeras, que mostram tudo o que acontece nas duas unidades. São trezentos metros quadrados monitorados, do espaço das lojas ao estoque - até uma parte da calçada é vigiada: “O custo inicial foi de aproximadamente R$ 9 mil, há dois anos. Valeu a pena. O bairro é complicado. Antes de instalar as câmeras, algumas pessoas entraram no meu escritório e levaram meu laptop. Tem cliente que pede para usar o banheiro – incluindo grávidas ou mulheres com crianças - com a intenção de roubar. Os furtos representavam 0,3% do faturamento. O índice agora está próximo de zero”.

 

Com relação à equipe, o empresário diz que está sossegado: “O segredo é ter uma boa relação com o funcionário. Ele sempre conhece bem o sistema e sabe como pode burlar e furtar. Mas se não houver confiança entre pessoas que trabalham juntas, não é possível ter uma rotina saudável. Eu aposto nisso e não me arrependo”.

 


Veículo: Diário do Comércio - SP


Veja também

Projeto mantém redução do IPI até dezembro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva analisa a hipótese de prorrogar a redução do Imposto ...

Veja mais
Indústria têxtil cresce de olho na Copa

A indústria têxtil brasileira está otimista com a perspectiva de crescimento da demanda do setor hot...

Veja mais
Hora de plantar árvores na loja. Enfeite o seu Natal

Muitos comerciantes já começaram a vender produtos de Natal para lojistas e consumidores. E o deste ano pr...

Veja mais
Relação estoque e consumo de açúcar é a menor em 20 anos

A relação entre estoques mundiais de açúcar e consumo é a mais baixa já regist...

Veja mais
Sem alarde, Carrefour entra no Irã

Não houve publicidade para anunciar a abertura do Hyperstar, primeiro hipermercado iraniano no estilo internacion...

Veja mais
STJ limita mix de produtos da Pague Menos

Farmácias: Decisão derruba entendimento de tribunal do Ceará, que permitia venda de itens nã...

Veja mais
Itambé busca diversificar sua estratégia no exterior

Lácteos: Cooperativa mineira amplia mercados; preços apresentam reação   Maior ind&ua...

Veja mais
Instituto faz ofensiva em produtos congelados

Autarquia vinculada à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, o Instituto de Pesos e Medidas do Es...

Veja mais
Setor de lácteos terá primeiro déficit em 5 anos no Brasil

A desvalorização do dólar deverá levar o País a fechar o ano com déficit na ba...

Veja mais