Indústria têxtil cresce de olho na Copa

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A indústria têxtil brasileira está otimista com a perspectiva de crescimento da demanda do setor hoteleiro nos próximos anos, mas teme um avanço do produto importado em uma área ainda inexplorada: o segmento de cama, mesa e banho. Empresas como Sabie, Cedro e Flex, de nichos diferentes, acreditam que a construção de novos hotéis, pousadas e restaurantes, para atender aos turistas, entre a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas, de 2016, vai representar um incremento que varia entre 5% e 15% nas vendas do segmento.

 

As estimativas preveem, apenas na cidade do Rio de Janeiro, a construção de 14 a 20 novos hotéis, segundo os processos de licenciamento registrados da prefeitura do município, apurados pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih). No projeto entregue ao Comitê Olímpico Internacional (COI) está prevista a construção de 12 mil quartos, de categoria 4 e 5 estrelas, para atender somente a chamada " família olímpica", ou seja, atletas, comissão técnica e imprensa.

 

Nessa contabilidade, soma-se ainda a expansão hoteleira que será realizada nas cidades de Brasília, Belo Horizonte, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo, que sediarão a primeira fase da Copa do Mundo. Segundo a Abih, para cada quarto single em hotel 5 estrelas, são necessários enxovais contendo quatro lençóis de solteiro, duas colchas, quatro fronhas e quatro travesseiros.

 

Fornecedora de uma linha de produtos com 300 itens, com tecidos e acabamentos personalizados, a Sabie aposta que o segmento de hotelaria, que hoje corresponde a 40% do faturamento da empresa, ultrapasse o segmento hospital, atualmente com uma fatia de 50%. "Esse processo deverá acontecer a médio e longo prazo, mas estamos aguardando uma sinalização mais concreta para fazer o planejamento", afirma Roberto Toschi, diretor de Marketing. "Estamos aguardando a euforia passar."

 

A Sabie, que atende os hospitais Albert Einsten, São Luiz e Sírio-Libanês, em São Paulo, e as redes de hotéis Atlântica, Blue Tree, Accor, Pestana e Estanplaza, pode vir a instalar um terceiro turno em sua linha industrial, com 300 funcionários, localizada no Ipiranga, bairro da capital paulista, em função do aumento da demanda.

 

No entanto, Toschi teme a entrada, no País, de produtos chineses. "No segmento de cama, mesa e banho, ainda não há oferta de produto acabado chinês, mas há o receio", afirma. Atualmente, a empresa recebe, em média, 1.500 pedidos por mês e registra um faturamento médio de R$ 7 milhões. Para o próximo ano, Toschi prevê um crescimento mínimo de 5%.

 

O mesmo receio em relação aos chineses é demonstrado Fabiano Soares Nogueira, diretor presidente interino da Cedro Têxtil, maior fornecedora nacional de tecidos para uniformização, com sede em Belo Horizonte (MG). Segundo ele, a indústria nacional está bem preparada para atender ao aumento da demanda, mas pode ser afetada pela entrada de produto estrangeiro, principalmente com a curva descendente da cotação do dólar. "A indústria têxtil está totalmente atrelada ao crescimento da economia do mercado interno, mas é fortemente afetada pelo câmbio", afirma Nogueira. O diretor da Cedro destaca, no entanto, que o mercado brasileiro de algodão é autossuficiente e que a importação de matéria-prima é muito baixo.

 

Independentemente do crescimento do setor hoteleiro, Nogueira acredita que, para 2010, já haja uma recuperação da indústria têxtil, que até julho passado, registrava uma queda de quase 11%. "A previsão de crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] é de 5%. Pelo menos metade disso deve ter reflexo no setor têxtil. Mas se a importação for favorecida, essa margem cai", ressalta.

 

Otimista, mas nem tanto, o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex) e da Cia. Hering, Ulrich Kuhn, afirma que o setor ainda vai demorar a se recuperar do tombo provocado pela crise e acredita muito mais no efeito multiplicador da Copa e das Olimpíadas na economia como um todo do que no impacto imediato desses eventos. "Essa demanda vai refrescar, mas não vai recuperar as perdas acumuladas", afirma.

 

Para Kuhn, a entrada do produto internacional no segmento de cama, mesa e banho pode ser contida por um detalhe limitante e fundamental no setor de hotelaria. "Praticamente todos os itens dessa linha são personalizados", ressalta. "A flexibilidade de customização é difícil de ser atingida estando o País tão distante."

 

Este deve ser um dos temas mais discutidos nos corredores da Conferência Anual da Federação Internacional de Produtos Têxteis (ITMF) que começa na próxima sexta-feira, em Xangai, na China, para onde já embarcaram os presidentes da Coteminas, maior empresa do setor, e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).

 

A linha têxtil de cama, mesa e banho está otimista com a projeção de crescimento da demanda do setor hoteleiro nos próximos anos com Copa e Olimpíadas. A Sabie, de enxovais, e Cedro, de tecidos para uniformes, acreditam que a construção de novos hotéis e restaurantes vai representar um aumento das vendas que varia entre 5% e 15%. A Flex, de colchões, também prevê crescimento com base na venda para hotéis. "Esperamos uma alta das vendas a médio e longo prazo e estamos aguardando a euforia passar para fazer planejamento da produção", afirma Roberto Toschi, diretor da Sabie. O presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Blumenau (Sintex) e da Hering, Ulrich Kuhn, afirma que essa expansão é bem-vinda, mas não vai recuperar as perdas com a crise.

 


Veículo: DCI


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