Femsa expande seu modelo de lojas de conveniência

Leia em 6min

A loja é pequena, cheia de freezers repletos de bebidas, latas, sanduíches e outras refeições para quem tem pressa. Mas à disposição do cliente também há café, pão quentinho, jornal, revistas, pilhas, fivelas para o cabelo, maquiagem, cosméticos - um pouco de tudo, além de serviços como o pagamento de contas, de passagens aéreas compradas por internet e créditos para celular. Não se anda mais de dois quarteirões em qualquer grande cidade mexicana sem encontrar uma das mais de 6,8 mil unidades da Oxxo, a rede de lojas de conveniência que responde por quase 30% do faturamento total da Femsa e se tornou o maior canal de distribuição das cervejas, refrigerantes sucos e águas fabricadas pela companhia.

 

Fundadas há 30 anos, as lojas Oxxo só existiam no México até o inicio deste ano, quando a Femsa iniciou seu plano de expansão internacional. Embora sem data prevista, a meta é chegar aos nove países da America Latina nos quais a Femsa opera, incluindo o Brasil. "Estamos começando pela Colômbia, com três lojas. É ainda um projeto piloto. A ideia é ir devagar, mudando o que precisa ser adaptado para cada lugar onde a loja está", diz Carolina Alvear, gerente de comunicação corporativa da multinacional mexicana sediada em Monterrey, uma cidade ao norte do país com 4,4 milhões de habitantes e 630 pontos da Oxxo.

 

Mas o que mais chama atenção na rede Oxxo não é sua presença massiva, seu faturamento - 47,1 bilhões de pesos mexicanos em 2008, o equivalente a US$ 3,6 bilhões, com crescimento de 12% sobre 2007 - ou seu nome estranho. É o modelo de operação, que mescla princípios de venda direta com programas sociais. "Para ter uma loja Oxxo não é preciso ter capital inicial", diz Carolina. Na verdade, não é preciso ter nenhum centavo. Os interessados são escolhidos mais de acordo com seu perfil psicológico do que financeiro. "O que conta é ter espírito empreendedor e ser muito honesto e rígido com as contas", diz.

 

Todo investimento - do imóvel ao mobiliário, incluindo os produtos - é feito pela Femsa, que continua dona das lojas. O empreendedor, chamado de "comicionista", além de passar pelo processo de seleção (há uma fila de espera de milhares de pessoas querendo participar dele), é treinado pela empresa. Até a energia fica por conta da Femsa. "Além de todas as geladeiras terem sido fabricadas pela Femsa para ter o consumo de energia mais baixo possível, há centrais que administram o uso da energia em tempo real", diz Jaime Elosúa, diretor de assuntos comunitários e sustentabilidade da Femsa. Parte das lojas funciona 24 horas.

 

Diferentemente da maioria das lojas de conveniência do Brasil, as Oxxo não ficam em postos de gasolina. O local onde funciona a loja é, na maioria das vezes, a comunidade em que vive o "comicionista". Cada uma atende o equivalente à quantidade de pessoas que vive e trabalha em quatro quadras de um bairro residencial misto mexicano. "Esse número, entretanto, pode variar. Levamos em conta se é uma rua por onde passa muita gente ou se há escolas ou saída de metrô por perto", explica Elosúa. A abertura de outra loja nas proximidades depende da equação desses fatores, para que não haja canibalismo.

 

O "comicionista" trabalha na loja atendendo as pessoas ou também pode contratar empregados - todos formalmente, mesmo que sejam membros da família. Seu retorno vem de uma porcentagem das vendas, entre 7% e 8% - da qual sai também a despesa com o pagamento de funcionários. "Quanto mais vende a loja, mais ganha o comicionista", explica Carolina.

 

Esse detalhe tem sido a chave do sucesso da Oxxo. No ano passado, por exemplo, a rentabilidade das lojas cresceu 32%, com retorno para companhia de 6,5% (margem de operação). Esse sistema tem, hoje, 96% de taxa de êxito, ou seja: de cada 100 lojas inauguradas nesse modelo, 96 se estabelecem com rentabilidade acima da média.

 

Muitos mexicanos, porém, desistem da fila para fazer parte da rede e montam em casa mesmo sua versão da Oxxo. Na extensa avenida Cuauhtémoc em Monterrey, por exemplo, muitas casinhas populares (cuja porta de entrada dá para a rua, sem jardim ou varanda) foram transformadas em Oxxo "genéricas". O morador tira todos os móveis da sala e os substitui por uma geladeira ou isopor, enche o cômodo com garrafas de água mineral, latas de cerveja e de sucos - além de salgadinhos, petiscos e doces. Para chamar a atenção de quem passa pela calçada, nada de vitrine. Um cartaz de alguma marca de cerveja ou da Coca-Cola colado na parede já basta.

 

Se no mercado doméstico a expansão acontece até "extraoficialmente", internacionalmente ainda está no início. Em Bogotá, onde estão as três primeiras lojas Oxxo fora do México, a operação passa por ajustes. "Estamos mudando o que a princípio achamos que daria certo", explica Carolina. No México, por exemplo, vende-se bem mais refrigerante e bebidas frias que café. Mas isso não aconteceu na Colômbia, onde a Femsa teve que reforçar a oferta do produto - além é claro, de melhorar sua qualidade (o mexicano gosta do café fraco, mas o colombiano quer uma bebida mais encorpada). O próprio nome da empresa tem a ver com essa capacidade de adaptação ao consumidor. "A rede tinha outro nome no inicio, mas o logotipo era um carrinho de supermercado estilizado. Como as rodinhas pareciam duas letras 'O' e a cesta se assemelhavam a dois 'X', dai surgiu o nome Oxxo", conta Carolina.

 

Por enquanto, não há data ou metas previstas para a chegada da empresa ao mercado brasileiro. Tudo vai depender do sucesso e do desenvolvimento do projeto piloto, que pelo menos até o fim do ano continua restrito à Colômbia. "No Brasil a coisa é mais complicada porque há a concorrência das padarias", diz Carolina. "O costume de ir às padarias do brasileiro torna a entrada da Oxxo mais difícil, porque não é esse o tipo de modelo no qual operamos. Mas essa adaptação é o tipo de desafio que gostamos", conclui.

 

Mesmo assim, a Femsa está otimista com seu braço varejista. A meta é abrir 12 mil lojas no México até 2015. O objetivo não é inalcançável. No varejo de conveniência mexicano, a Oxxo domina. Por lá, todos os concorrentes não têm juntos mais de 2.130 lojas. O maior é a rede americana 7 Eleven, com 1.100 unidades.

 

No Brasil, a Femsa está presente com a divisão de refrigerantes, como engarrafadora e distribuidora da Coca-Cola, e com a divisão de cervejas. No início do mês, o grupo mexicano confirmou sua intenção de vender a área cervejas. Segundo fontes do setor, a compradora mais cotada é a SABMiller.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Leite Moça em versão light

A Nestlé retirou 95% da gordura do leite condensado Moça. A versão light do produto chega ao mercad...

Veja mais
Câmera digital e filmadora: os objetos de desejo para o Natal

Pesquisa mostra que esses dois itens devem ser os mais procurados pelo consumidor nas compras de fim de ano. Produtos de...

Veja mais
Idec constata péssima qualidade de feijões

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste com 33 ma...

Veja mais
Brasil volta a importar trigo da Argentina

Sem poder comprar o produto argentino, País importou o cereal do Canadá por dois meses seguidos   A...

Veja mais
Encontro de supermercadistas espera movimentar 50 milhões em negócios na Paraíba

Com crescimento estimado em 5,0% para este ano, o varejo de alimentos passa por um momento de retomada dos investimentos...

Veja mais
Feira orgânica: Biofach AL começa dia 28

Evento, que ocorre na capital, é uma vitrine para o lançamento e exportação de produtos org&...

Veja mais
Panetone aos montes

A Pandurata Alimentos, que detém as marcas Bauducco, Visconti e Tommy, está investindo R$ 60 milhõe...

Veja mais
Preços caem pela terceira vez neste ano

O Índice de Preços no Varejo (IPV) da Fecomercio fechou setembro com queda de 0,10%. Esta é a terce...

Veja mais
Feijão vendido em mercados tem problema

O feijão vendido nos supermercados brasileiros tem vários problemas. Esta é a conclusão de p...

Veja mais