Pesquisa mostra que esses dois itens devem ser os mais procurados pelo consumidor nas compras de fim de ano. Produtos de informática vêm em seguida na preferência. Melhora na economia e na renda deve aquecer o comércio
O paulistano já sabe o que quer ganhar de presente de Natal: uma câmera digital ou uma filmadora. A Pesquisa Trimestral de Intenção de Compra no Varejo, realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA) mostra que os equipamentos de vídeo e foto desbancaram os laptops e desktops, os preferidos do quarto semestre de 2008: 14,4% dos entrevistados pretendem comprar, entre outubro e dezembro, equipamentos de foto e vídeo.
Outros aparelhos tecnológicos vêm logo em seguida na lista de presentes: 12,8% responderam que querem comprar itens de informática, e 10,8% têm a intenção de adquirir aparelhos eletroeletrônicos. Dos 500 entrevistados, com renda média de R$ 1,4mil, 77% responderam que pretendem comprar algum bem durável nos últimos três meses de 2009, o maior índice desde o quarto trimestre de 1999.
Os cálculos do Programa de Administração do Varejo (Provar), setor da FIA, mostram ainda que o volume movimentado pelo varejo brasileiro em outubro deve ser 6,1% maior do que o do mesmo mês do ano passado; em novembro essa alta deve ser de 6,5% e em dezembro, 5,2% na comparação com igual período de 2008.
A preferência pelos artigos tecnológicos, segundo o presidente do Provar da FIA, Claudio Felisoni, reflete a vontade de classes que há alguns anos não tinham acesso a esse tipo de produto. “É o sonho da classe C de fazer parte desse mundo digital”, diz ele, lembrando ainda as quedas dos preços de eletrônicos nos últimos anos.
A troca de posições entre as duas categorias de bens preferidas pelos consumidores - os artigos de informática e os de cine e foto -, em sua avaliação, já reflete a inclusão que se deu nos últimos anos. “No ano passado a pessoa queria comprar um computador. Comprou, por isso não vai comprar outro neste ano, e, agora, vai investir em uma câmera digital.”
Pagamento a prazo
Em geral, os entrevistados pretendem gastar menos do que gastariam no ano passado. No caso dos que querem câmeras e filmadoras, o gasto médio que pretendem ter com isso é de R$ 533, enquanto no ano passado era de R$ 580. “A baixa do dólar influencia na intenção de gastar menos do que antes, mas, no fim, o gasto pode ser igual ou até maior”, avalia Felisoni.
Quanto à forma de pagamento, a pesquisa revelou também que aumentou a parcela de consumidores dispostos a tomar crédito para arcar com essas compras. Dentre os pesquisados que pretendem adquirir móveis, por exemplo, 77,6% devem se valer de crédito. Esse número era de 76,1% no mesmo período do ano passado. Só entre os que pretendem comprar automóveis o nível de disposição para o financiamento caiu.
Para Felisoni, é a volta da confiança na economia, embasada pela queda das taxas de juros na ponta e uma ligeira recuperação na massa salarial que influenciam as respostas positivas nesse caso.
Mas a decisão de ‘pendurar’ as dívidas dos presentes de Natal no cartão de crédito ou no cheque pré-datado deve ser tomada com responsabilidade. Segundo o professor de finanças do Insper, Ricardo Humberto Rocha, todo gasto de fim de ano deve ser planejado e, principalmente, deve caber no orçamento. Sua dica é pensar no orçamento “de trás para a frente”.
“Comece pensando em março do ano que vem: tem de pagar IPVA, IPTU; em fevereiro tem matrícula de escola, uniforme e material escolar. São gastos fixos, que podem ser calculados e devem ser levados em conta antes dos gastos de fim do ano”. Essencial na hora de comprar presentes, lembra ele, é a pesquisa. “A internet ajuda a ter uma ideia de como andam os preços. Não dá para se deixar levar apenas pela percepção de melhora da economia”, diz ele.
As máquinas enfrentam os celulares
As máquinas fotográficas digitais e filmadoras, produtos mais lembrados na Pesquisa Trimestral de Intenção de Compra enfrentam a concorrência de um rival forte: os aparelhos de telefone celular que fazem fotos e vídeos.
Pesquisa da empresa de consultoria em tecnologia GfK mostra que, no mundo todo, a fatia das câmeras e filmadoras no mercado de captação de imagens ainda é baixa: tanto em 2007 quanto em 2008, apenas 13% dos dispositivos que captam imagens vendidos eram câmeras propriamente ditas; outros 2% eram filmadoras e os demais 85% eram telefones celulares com essas funções.
No entanto, se for feita uma comparação levando em conta o preço e a qualidade da imagem captada, os aparelhos celulares ainda são caros: a pesquisa da GfK mostra que, em julho deste ano, celulares com câmeras com definição de 5 megapixel custavam, em média, R$ 1.078, enquanto as câmeras com a mesma definição de imagem saíam por volta de R$ 283, uma diferença significativa.
Quando se comparam os preços dos dispositivos com definição entre 8 e 8,9 megapixel, a média de preço dos celulares ficava em R$ 1.471, e das câmeras, em torno de R$ 579.
Para quem quer definição de imagem, a conta é simples: ainda segundo o estudo, um celular com uma câmera de 3 megapixel custa em média R$ 770. Com esse dinheiro dá para comprar uma câmera de 10 megapixel.
Concentração
Apesar de existirem 41 fabricantes que oferecem um leque de 433 opções diferentes ao consumidor, o mercado brasileiro de câmeras fotográficas digitais ainda é bastante concentrado, segundo o estudo: 87% das vendas realizadas este ano foram de produtos das dez maiores marcas, sendo que 53% do volume ficou com as três maiores.
O estudo mostrou, ainda, que há espaço para o crescimento do mercado de porta-retratos digitais. De agosto de 2008 a julho de 2009 o preço médio do produto caiu de US$ 338 para US$ 210.
Veículo: Jornal da Tarde - SP