Pesquisa mostra que 97% das empresas da Região Metropolitana de SP vão ampliar investimentos no próximo ano
O comércio varejista se prepara para uma nova arrancada no ano que vem, depois de passar praticamente incólume pela crise. Pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), obtida com exclusividade pelo Estado, revela que 97% das empresas da Região Metropolitana de São Paulo, o principal mercado consumidor do País, vão ampliar os investimentos em 2010, com abertura de novos pontos de vendas, centros de distribuição e reforço de estoques.
A maioria das companhias (75%) pretende elevar em até 10% o volume de investimentos em 2010 na comparação com 2009 e 15% das empresas planejam investir até 20% mais. Já 7% consideram crescimento superior a 20% nas cifras investidas no ano que vem.
A enquete, que consultou 300 companhias de todos os portes na última semana de setembro, detectou otimismo generalizado no comércio. Dos bens duráveis, como eletrodomésticos, itens de informática e veículos, às lojas de artigos de vestuário e supermercados, a pesquisa indica que a meta dos empresários do varejo é acelerar os planos de expansão para aproveitar o momento favorável do mercado interno, tendo como foco especialmente a classe C. Além disso, o fato de 2010 ser um ano de Copa do Mundo e as boas perspectivas do mercado imobiliário dão ao varejo de bens duráveis um impulso extra nessa expansão.
Entre as razões para tanto otimismo está o bom desempenho do setor neste ano, apesar da crise. Enquanto a indústria deu marcha à ré e deve fechar 2009 com queda de quase 9% na produção, o volume de vendas do comércio pode expandir mais de 5%, após crescer 9,1% em 2008, segundo consultorias. Para o ano que vem, as projeções apontam crescimento entre 5% e 8,5% do volume de vendas do varejo. "Em 2009, o ritmo de crescimento do comércio se contraiu, mas não teve queda", observa o sócio da RC Consultores, Fabio Silveira. "Passamos ilesos pela crise e estamos otimistas para 2010", afirma o presidente da Fecomércio-SP, Abram Szajman.
Segundo o presidente da entidade, as perspectivas de crescimento da massa real de rendimentos, do pessoal ocupado e especialmente a maior confiança do consumidor sustentam os prognósticos favoráveis. Nas contas de Silveira, o pessoal ocupado deve crescer 1,5% em 2010; a massa real de rendimentos 2,7%; e o crédito ao consumidor, 14%. "Todos esses fatores combinados com a maior confiança do consumidor se traduzem em aumento de vendas", prevê o economista. Szajman acrescenta mais um motor de crescimento: a classe C, principalmente no Norte e Nordeste, que ganhou poder de compra em razão dos benefícios sociais.
O Grupo Pão de Açúcar, o maior varejista do País, deve encerrar o ano com R$ 2,3 bilhões em caixa para fazer expansões. "Dinheiro não será problema para nós", afirma o vice-presidente executivo do Grupo, Enéas Pestana. Ele não revela os planos de investimento para 2010. Diz apenas que vai acelerar "sensivelmente" a expansão e que o Nordeste será prioridade. Neste ano, a empresa gastou R$ 700 milhões em crescimento orgânico e R$ 1,2 bilhão na compra do Ponto Frio.
De olho na classe média, o executivo conta que a companhia vai aumentar a rede com um novo formato de loja, o Extra Supermercado, voltado para classes B,C e D. "Poderemos até converter parte das lojas do CompreBem nessa nova bandeira." O CompreBem é direcionado para o consumidor das classes populares.
O Carrefour reservou R$ 1 bilhão para gastar em 2010 na abertura e reforma de lojas, centro de distribuição, logística e na estreia do comércio eletrônico. "O desempenho do varejo neste ano está acima da expectativa e puxado pelas classes C e D. Esse movimento deve se repetir em 2010", afirma o diretor de Finanças e Gestão do Grupo Carrefour, Daniel Magalhães.
Ele não dá pistas de onde centrará fogo na expansão, mas admite que as regiões Norte e Nordeste cresceram mais que o Sudeste. Quanto aos segmentos com maior impulso de crescimento, ele destaca os bens duráveis por causa da Copa do Mundo que puxa as vendas de TVs.
"O País sofreu pouco com a crise e o comércio menos ainda. Esperamos grande retomada de crédito em 2010", afirma Valdemir Colleone, diretor de relações com o mercado das Lojas Cem, rede de móveis e eletrodomésticos. Neste ano, a empresa abriu 5 lojas e pode chegar a 10 pontos de venda em 2010.
As Lojas Riachuelo, especializada em artigos de vestuário, já programou para 2010 a abertura de 12 lojas, o que pode significar um acréscimo de 20% nas vendas. "Isso é o que nós temos contratado até agora. Pode ser até mais", afirma o presidente da empresa, Flávio Rocha. Neste ano foram inaugurados seis pontos de venda, com investimentos de R$ 80 milhões entre abertura de lojas e reformas das existentes.
Norte e Nordeste são alvo das grandes redes: Regiões atraem porque concentram consumo popular
Junto com o Nordeste, a região Norte virou alvo de cobiça dos empresários do varejo pelo fato de ter um mercado pouco explorado e uma grande população de baixa renda. A Centauro, por exemplo, uma das gigantes do varejo de material esportivo, abriu a primeira loja em Manaus (AM) este ano. Até dezembro, inaugura outra loja em Belém (PA).
Sebastião Bomfim Filho, presidente do Grupo SBF, que reúne as marcas Centauro, By Tennis, Almax Sports e Nike Store, diz que traçou um cenário "excepcional" para 2010. Vai construir um novo centro de distribuição no Nordeste para atender as lojas da região e do Norte do País. Planeja abrir ao todo 42 lojas no ano que vem.
Os investimentos devem somar R$ 150 milhões. "Já temos 32 contratos assinados para abertura de novas lojas." As regiões Norte e Nordeste deverão receber um grande número de pontos de venda do grupo.
Além do crescimento da renda e do emprego, o empresário aponta a Copa do Mundo de 2010 como um dos principais fatores que sustentam o otimismo. "Copa do Mundo é como se fosse um outro Natal para nós", compara. O grupo espera faturar R$ 1,5 bilhão no ano que vem, com crescimento de quase 40%.
Para as Lojas Insinuante, líder na comercialização de eletroeletrônicos e móveis no Nordeste, a venda de TVs por causa da Copa do Mundo e a expansão da rede para outras regiões devem garantir o crescimento de 25% previsto para 2010.
Segundo o presidente da rede, Luiz Carlos Batista, a meta é faturar R$ 2 bilhões no ano que vem. Serão abertas 50 lojas, o maior número de pontos de venda inaugurados em um único ano. "Vamos privilegiar o Norte do País e o Rio de Janeiro."
SHOPPING CENTER
O interesse dos varejistas pelas regiões com grande contingente da classe C foi detectado pelo Grupo Sá Cavalcante, empreendedor de shopping centers. Leonardo Cavalcante, diretor superintendente do Grupo, conta que já vendeu 45% das 295 lojas de um shopping que está em fase de construção em São Luís, no Maranhão, e que será concluído em 2011.
"C&A, Renner, Riachuelo, Centauro e Etna são exemplos de redes que já fecharam contrato conosco", conta o empresário. Para ele, essa situação é totalmente atípica. "Normalmente, 60% da locação de um shopping novo ocorre no último mês", diz Cavalcante.
Segundo ele, especialmente os lojistas de grandes redes, estão pedindo mais lojas. Na opinião do executivo, o que motiva os empresários do comércio a ter esse comportamento é a cobiça pela classe C. "A classe C começou a comprar tudo e isso move a economia como um todo."
Além do shopping no Maranhão, o grupo tem mais três projetos em andamento, um Guarulhos (SP) e dois no Espírito Santo. Até o final de 2012 serão investidos R$ 953 milhões nos quatro projetos que irão abrigar 1.143 lojas. Hoje, o grupo tem dois shoppings em funcionamento, o Tijuca, no Rio, e o Praia Costa, no Espírito Santo. "Neste ano, não sentimos a crise nessas operações e crescemos até agosto 20% em vendas ante 2008."
Para o presidente da Lojas Riachuelo, Flávio Rocha, o crédito e as classes C e D, que menos sofreram com a crise, continuam sendo os grandes motores do crescimento do País.
Veículo: O Estado de S.Paulo