Dólar faz indústria de celulose rever sua estrutura de preços

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A indústria mundial de celulose já está discutindo uma mudança estrutural nos preços da commodity em virtude da desvalorização do dólar frente a moedas internacionais, principalmente o euro e o real. A afirmação foi feita por Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose, na sexta-feira, durante a apresentação dos resultados da companhia no terceiro trimestre.

 

Segundo André Dorf, diretor de Relações com Investidores da Suzano, os principais produtores de celulose do mundo estão discutindo a provável "criação de um novo patamar de preços".

 

Ambos os executivos afirmaram que "os preços da celulose, em todas as moedas, estão abaixo dos níveis históricos".

 

Na semana passada, a empresa anunciou os novos preços para a tonelada da celulose de eucalipto. Para a Europa, passou de US$ 650 para US$ 700, alta de 7%. Para a América do Norte, de US$ 700 para US$ 730, alta de 4,3%. E para a China, de US$ 590 para 660, um incremento de quase 12%.

 

A boa fase de negociação é mais evidenciada no comparativo de preços de novembro aos praticados, na média, no primeiro trimestre de 2009. O valor da tonelada para Europa, América do Norte e China acumula alta de 41,7%, 28% e 67%, respectivamente.

 

No entanto, a valorização do real frente ao dólar provoca uma situação paradoxal, exemplificada pelo presidente da Suzano. "A tonelada de celulose a US$ 700 com câmbio a R$ 1,70 gera um resultado reverso em comparação à tonelada em US$ 600, com câmbio a R$ 2,20", ressalta Maciel. Em reais, o aumento se torna um decréscimo, passando de R$ 1.320 para R$ 1.190. Essa diferença gera um impacto negativo no resultado da empresa, já que, segundo Maciel, 80% dos custos são cotados em real.

 

Recuperação

 

A depreciação do dólar, somada à redução drástica dos estoques e à recuperação da demanda cria um cenário altamente favorável ao aumento de preços. Felipe Ruppenthal, analista de Papel e Celulose da Geração Futuro Corretora de Valores, agrega a essa equação o movimento de concentração de mercado, que impactará brevemente nas negociações de preços.

 

Com o reajuste para novembro, o mercado já registra seis aumentos no preço da celulose, com um pico médio de 47%, em dólar, segundo Ruppenthal. "E há, ainda, margem para mais aumentos", afirma. "Os percentuais aplicados até agora basicamente recuperam as perdas provocadas pela crise financeira."

 

O analista da Geração Futuro acredita que a queda do dólar é um movimento macroeconômico que interfere na formação dos preços, mas estes vão ficar fortemente vinculados à máxima da economia "oferta versus procura".

 

Segundo dados do Pulp and Paper Products Council (PPPC), divulgados pela Suzano, de janeiro a setembro, foram produzidas 28,9 milhões de toneladas de celulose e vendidas 30,6 milhões. Somente a China consumiu, no terceiro trimestre 93,4% a mais de celulose do que no mesmo período de 2008.

 

O descompasso entre produção e demanda provocou uma expressiva redução nos estoques que chegaram ao menor patamar desde junho de 2002, de acordo com Dorf. Com pico de até 55 dias no último trimestre de 2008, o nível caiu para 26 dias, no terceiro trimestre deste ano. "Vivemos um período favorável para a negociação de preços", declarou Maciel Neto.

 

Resultados e investimentos

 

A produção de papel e celulose da Suzano somou 660 mil toneladas do terceiro trimestre do ano, representando uma queda de 2,1% em relação ao trimestre anterior e de 4,9% em relação ao mesmo período de 2008. A empresa alcançou um receita líquida de R$ 891 milhões e lucro líquido de R$ 213 milhões. O lucro é 51,6% menor do que o registrado do período anterior, em que a Suzano registrou recorde de R$ 439 milhões, mas reverte o prejuízo obtido no mesmo trimestre de 2008.

 

Segundo Dorf, os projetos de expansão no Maranhão e Piauí seguem "a todo vapor", mas os valores dos investimentos deverão ser revistos no fim do ano, assim como serão definidos os planos para a unidade de Mucuri, no sul da Bahia.

 

Veículo: DCI


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