Setor de limpeza tem expansão acima da média

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Os artigos de limpeza são os campeões na perda de consumidores que não estão mais dispostos a pagar por marcas líderes de mercado. A migração desses compradores para marcas menos conhecidas não é um fato novo, mas a crise financeira favoreceu ainda mais esse nicho. É isso que revela um estudo da Latin Painel feito para o setor de produtos de limpeza doméstica. Só no ano passado, as indústrias em geral faturaram R$ 11, 4 bilhões -- acréscimo de 6,5% sobre o anterior. Já a receita das micro, pequenas e médias empresas deu um salto de 13% nos primeiros seis meses de 2009 - incremento muito além dos dois ou três pontos percentuais superior ao Produto Interno Bruto (PIB) que vinha sendo registrado nos últimos cinco anos. Das 1.700 indústrias dessa área, apenas 5% são de grande porte sendo que todo o segmento emprega mais de 20 mil trabalhadores.

 

"Houve uma mudança de hábito do consumidor durante a crise", garante Maria Eugênia Saldanha, diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla). Os dados do levantamento da Latin Painel acusam que, ao contrário de outras áreas, na de limpeza essa movimentação foi mais acentuada, com aumento de 6 pontos percentuais entre os consumidores que trocaram as marcas por preços mais em conta em 2008. Segundo o estudo, essa mudança significou retração de 21% em valor no segmento líder, mesmo sem ter ocorrido redução do volume de compras. Fátima Merlin, diretora de varejo da Latin Panel, entende que o aumento nas vendas de produtos de preços baixos e intermediários, em detrimento das marcas premium, é uma medida de cautela e poderá se expandir ao longo deste ano, caso o cenário econômico venha a piorar, acelerando o desemprego.

 

O levantamento mostra que itens como água sanitária e detergente em pó estão entre os que mais perderam compradores de marcas mais caras. Segundo a Abipla, o volume de água sanitária passou de 460.275,8 toneladas em 2007 para 477.185,8 toneladas no ano seguinte, alta de 3,7%. Apesar de se tratar de um número avantajado seria muito mais representativo se não houvesse a questão da informalidade. "O equivalente a 55% da água sanitária comercializada no país ocorre no mercado informal, produto líder em clandestinidade. O desinfetante é o segundo colocado, com mais de 30% de índice de pirataria", explica Maria Eugênia.

 

Em mais uma tentativa de retirar essas empresas da clandestinidade, a Abipla já esteve em várias frentes e a mais recente delas, lançada no dia 20 de agosto, é o Programa de Mobilização pela Regularização do Setor de Saneantes, em uma parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). "O objetivo do programa é viabilizar a regularização das empresas, apresentando os benefícios e desafios de micro e pequenos fabricantes neste processo", diz a diretora da Abipla. Com isso, a regularização das empresas que levavam, em média 60 dias, é feita no momento em que o fabricante entra no site da Anvisa e preenche os dados eletronicamente. "Facilita a regularização das empresas de porte menor e reduz custos na formalização do processo", conta. Pelos seus cálculos, hoje o mercado informal nessa área movimenta ao redor de R$ 600 milhões anuais. A meta do programa é atingir todo o país. "Estamos considerando um universo grande de empresas que têm CNPJ e licenças de funcionamentos de prefeitura e Corpo de Bombeiros, por exemplo, mas não têm ainda a licença sanitária emitida pela Anvisa, muitas vezes por falta de informação", acrescenta Maria Eugênia.

 

"Não fosse a informalidade, o crescimento da receita mensal seria bem maior", avalia Otávio Giglio Junior, gerente comercial da Fabril Paulista Perfumaria Ltda, dona da marca Conde, que tem como carro-chefe água sanitária e sabão em pedra. Sua empresa faz parte do estudo feito pela Latin Painel, exibindo vigor no desempenho financeiro, principalmente, após a crise econômica. "Temos crescido mensalmente entre 10% e 15%", diz. "A crise é uma chance para os pequenos fabricantes mostrarem seu potencial, oferecendo produtos mais baratos. O consumidor experimenta e, se o produto tiver qualidade, se torna fiel", completa Fernando Figueiredo, diretor da a J. F. Produtos de Limpeza Doméstica, dona da marca Idealax, instalada na região de Campinas, interior do Estado de São Paulo.

 

Pelos cálculos de Giglio Junior, no ano passado o setor registrou aumento de 300% no preço do sebo, uma das matérias-primas para a fabricação de sabão. "Repassamos o aumento e o produto perdeu a competitividade diante do preço do sabão em pó, derrubando as vendas entre 30% e 40%", explica. Para compensar esse desequilíbrio, a Fabril decidiu expandir a produção de água sanitária em 60%. "Aumentamos a produção nessa área para preencher o vácuo deixado pelo sabão em pedra", argumenta. Com 50 funcionários, a empresa, em São Paulo, projeta fechar o ano com alta entre 10% e 15% na receita que fechou 2008 com acréscimo da ordem de 25%. "Não sentimos o impacto da crise", diz.

 

Sem detalhar o valor dos investimentos, o gerente comercial diz que até o fim deste ano a companhia investirá em remodelagem da rotulagem, máquinas e equipamentos e na implementação do ISO 14.000. É um conjunto de normas que define parâmetros e diretrizes para a gestão ambiental de empresas, tanto privadas como públicas. Estas normas são da International Organization for Standardization - ISO (Organização Internacional para Padronização). Segundo Giglio Junior, a troca de marcas líderes pelas menos conhecidas começou há três anos e acentuou-se com a crise. "Sentimos isso diariamente", diz. A Fabril tem uma carteira de pedidos de três mil clientes, dos quais 50% são ativos e atende os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. "Em 2010 o objetivo é ampliar os clientes e atingir a região Nordeste", conta. Otimista, ele aposta em um próximo ano com receita bem mais farta. "O crescimento mensal deverá passar de 15%", afirma.
 


Veículo: Valor Econômico


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