Diante da pressão crescente para aumentar as vendas, que estão em queda, e reequilibrar a empresa, Robert McDonald acelerou a busca por candidatos a aquisição ou desmembramento, disseram pessoas a par da situação.
Desde que assumiu o cargo, em julho, McDonald tem tentado mudar a cultura lenta e burocrática da P&G. Ele passou a analisar mais de perto as marcas da empresa, como a Braun, de eletrodomésticos, a Iams, de ração para animais de estimação, as pilhas Duracell e as batatas Pringles. Embora esses negócios sejam considerados há muito tempo exógenos ao foco da P&G em cosméticos, saúde e produtos domésticos não-alimentícios, McDonald deu um ultimato: os chefes dessas divisões estão avisados de que precisam provar que suas marcas têm potencial de crescimento, ou serão vendidas.
Enquanto isso, a P&G está de olho no portfólio de produtos da Schering-Plough que não são farmacêuticos vendidos sob receita. A Schering-Plough está atualmente em processo de fusão com a Merck & Co. (MSD no Brasil). Da mesma forma, a P&G está de olho em produtos da Wyeth Corp., que foi adquirida recentemente pela Pfizer Inc. Outra possibilidade: a fabricante de cosméticos Alberto-Culver Co. Ainda não estava claro, entretanto, se essas empresas aceitariam se vender.
A P&G está mais próxima de um acordo para comprar a divisão internacional de produtos para o lar da Sara Lee, particularmente seus purificadores de ar Ambi Pur, que são populares na Europa, segundo pessoas a par da questão.
A Pfizer, a Alberto-Culver e a Sara Lee não quiseram comentar. Um porta-voz da P&G disse: "Continuaremos a monitorar de perto nosso portfólio de marcas."
A compra da divisão da Sara Lee poderia ser a primeira de várias aquisições em estudo, à medida que McDonald tenta "reequilibrar e melhorar agressivamente" uma empresa cujo desempenho ele sabe que está abaixo do esperado, disse uma das pessoas.
A P&G, maior dos conglomerados cujos bens de consumo vão de produtos de higiene e limpeza a saúde e até alimentos, tem tido mais dificuldades que muitos de seus concorrentes durante a recessão. De olho nos gastos, as pessoas vêm deixando de lado os produtos da P&G, que podem custar até mais que o dobro da concorrência, especialmente as marcas próprias. Muitas das marcas mais caras da P&G perderam mercado, o que derrubou as vendas e lucros da empresa.
Sediada em Cincinnati, no Estado americano de Ohio, a empresa divulgou hoje queda de 1,2% no lucro do primeiro trimestre fiscal, encerrado em setembro, para US$ 3,3 bilhões. A receita caiu 6%, para US$ 19,8 bilhões, mas a margem bruta aumentou de 49,7% há um ano para 52,6%, graças a aumentos nos preços e custos menores.
A compra de operações de crescimento mais acelerado permitiria à P&G recuperar a expansão do faturamento, dizem pessoas próximas da empresa.
Alguns analistas insistem que melhorar as marcas importantes da P&G é a única maneira de melhorar os resultados. A empresa tem 23 marcas que faturam anualmente US$ 1 bilhão cada. Essas marcas respondem por 69% das vendas totais da P&G e 75% dos lucros, segundo estimativa recente do analista do Deutsche Bank Bill Schmitz. "A saúde dessas marcas é crucial para o sucesso geral da empresa", escreveu ele.
Mês passado, McDonald detalhou para os investidores seus planos para retomar o crescimento da empresa, como cortes de preços, expansão no exterior e lançamento de produtos mais baratos. "Sabemos que vocês acabam nos punindo pelo tamanho", disse McDonald durante uma apresentação. "Estamos focados em transformar essa escala em crescimento e vantagem nos custos."
Em vez de passar vários meses avaliando onde fazer mudanças, como seria a norma numa empresa conservadora como a P&G, McDonald pretende "ser mais agressivo e fechar acordos que vão melhorar o que a empresa já tem", disse uma pessoa a par da questão.
A Duracell - que a P&G comprou em 2005 como parte de sua aquisição da Gillette - tem sido considerada mais difícil de combinar com outras marcas da P&G, porque está muito exposta a concorrentes mais baratas e também à flutuação nas cotações de commodities.
A P&G já ofereceu a Duracell para possíveis compradores, mas até agora não surgiu nenhum acordo, segundo uma pessoa a par da questão. A Duracell deve faturar US$ 2,5 bilhões no ano fiscal de 2010, que termina em 30 de junho, segundo o analista da Sanford Bernstein Ali Dibadj.
A Iams, cujas vendas anuais são calculadas em US$ 1,8 bilhão, segundo Dibadj, também luta para melhorar a margem de lucro em meio à flutuação das commodities. A Iams é uma das marcas mais caras de ração para animais de estimação, e convencer as pessoas a pagar mais é especialmente difícil em tempos de recessão, o que acabou derrubando sua participação no mercado.
A Braun, que tem vendas anuais calculadas em US$ 1,3 bilhão, também é considerada estranha ao núcleo de negócios da P&G. Como a Duracell, a marca foi comprada juntamente com a Gillette.
Veículo: Valor Econômico