A noz da hora

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Segundo levantamentos oficiais, existem 1.500 hectares plantados no Brasil, 80% dos quais no Rio Grande do Sul


 
A cultura da nogueira-pecã está pegando no Rio Grande do Sul. Um plantio experimental feito com incentivos fiscais ao reflorestamento no final dos anos 1960 pelo comerciante Geraldo Linck (1927-1998) cresceu a ponto de se transformar no maior nogueiral da América do Sul. Com 45 mil árvores numa área de 500 hectares em Cachoeira do Sul, no centro do estado, o pomar da Pecanita Agroindustrial virou pólo de visitas de agricultores e técnicos interessados no cultivo de nogueiras.

 

Além de ter sua própria produção, a Pecanita compra nozes de produtores avulsos aos quais forneceu mudas nas últimas décadas. Engajada num esforço de fomento a fim de expandir a produção da rede de fornecedores de nozes, a empresa continua produzindo mudas para aumentar o próprio pomar (mais 100 hectares) e suprir a demanda externa, que não pára de crescer. Segundo Claiton Wallauer, novo proprietário da empresa, mais de 200 agricultores já se integraram ao programa da Pecanita. Ela vende cada muda por 23 reais.


 
Como o mercado é bom - o quilo de nozes com casca é comprado por 4 a 5 reais -, a Pecanita já não é a única. Há pouco mais de dez anos, o biólogo Edson Ortiz, ex-gerente da Pecanita, fundou a Divinut, uma indústria de beneficiamento de nozes. Começou num galpão cedido pela prefeitura do mesmo município. Hoje com sede própria, implantou um viveiro de 400 mil mudas onde trabalham 15 dos seus 40 funcionários. Seu objetivo é vender 100 mil mudas por ano. A melhor época de plantio é setembro, ou seja, agora.

 

Disposta a fornecer orientação técnica a quem quiser explorar esse ramo promissor da fruticultura de clima temperado, a Divinut cobra 18 reais por muda em contratos de parceria por 25 anos. Mudinhas avulsas são vendidas a 23 reais. Uma muda leva dois anos para ficar pronta para o plantio. Apenas um terço das enxertias se viabilizam. Árvores resultantes de enxertia começam a produzir no terceiro ano - as de pé franco são mais tardias e menos produtivas. Uma árvore adulta pode produzir de 20 a 150 quilos por ano. Meses atrás, o jornal Valor Econômico divulgou que em Anta Gorda, na serra gaúcha, uma nogueira de 65 anos já produziu 400 quilos num ano. Como em todos os ramos da fruticultura, a produção das nogueiras alterna anos bons e ruins. Faz-se a colheita, catando as nozes caídas no chão, nos meses de maio e junho. Segundo Edson Ortiz, a Divinut já tem 300 produtores em sua rede de fornecimento de frutas.

 

Nogueira-pecã é apontada como boa alternativa de aumento de renda para pequenos agricultores. Uma das vantagens do seu cultivo é a possibilidade de fazer consórcio com culturas anuais (nos quatro primeiros anos) e com criação de animais, gerando matéria orgânica para as fruteiras. Nessas condições, a despesa de manutenção do pomar resume-se a cuidados sanitários, sobretudo contra fungos e insetos. O espaçamento ideal entre as árvores é de 7 x 7 metros, de forma que num hectare podem-se plantar 204 mudas. Quando adulta, a árvore alcança 20 metros de altura e pode durar indefinidamente. Nos sul dos Estados Unidos, terra de origem das nogueiras-pecã, há árvores centenárias em franca produção. As primeiras nogueiras da espécie plantadas no Brasil por imigrantes norte-americanos que se instalaram na região paulista de Americana, por volta de 1870, estariam vivas se não tivessem sido erradicadas por usinas açucareiras, algumas décadas atrás, no afã de produz etanol. Eram pomares mais sentimentais que comerciais, mas foi ali que se difundiu a noção de que esse ramo da fruticultura poderia prosperar no Brasil.

 

Plantios mais curiosos que profissionais também foram feitos pelo fazendeiro Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938), em sua célebre Granja Pedras Altas, no pampa gaúcho, no início do século XX. Nos anos 1930, já se podiam comprar mudas enxertadas no viveiro fundado em Limeira pelo alemão João Dierberger, um dos difusores da citricultura em São Paulo. Hoje, segundo o IBGE, há aproximadamente 1.500 hectares de nogueiras-pecã no Brasil, 80% deles no Rio Grande do Sul. Somente agora, graças ao estímulo de empresas como a Divinut e a Pecanita, começam a surgir os pomares profissionais.

 

MACADÂMIA, A OUTRA NOZ

 

A outra nogueira cultivada no Brasil é a macadâmia, de origem australiana. Ao contrário da pecã, que perde a folhagem no inverno, a macadâmia tem folhas perenes. O maior propagandista da espécie foi o Instituto Agronômico de Campinas, que trouxe sementes do Havaí em 1955 e fez plantios experimentais em Campinas, Limeira e Ribeirão Preto. A produção brasileira de noz-macadâmia, mais concentrada em São Paulo, no Espírito Santo e na Bahia, é quase toda exportada, sendo por isso mais bem cotada que a das nogueiras-pecã. No Espírito Santo, onde o cultivo foi difundido pela Vaversa, graças a incentivos fiscais, existe uma cooperativa de produtores de nozes-macadâmia.
Não se produz no Brasil a noz da Pérsia, tradicionalmente consumida no Natal. De casca rugosa, essa variedade é bastante cultivada no Chile.
 
 


Veículo: Revista Globo Rural


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