O setor supermercadista já pode comemorar o avanço muito próximo de 10% em seu volume de vendas para o segundo semestre, antecipado por Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), ontem, na divulgação do Índice Nacional de Vendas (INV). "Há tempos não se vendia tanto nos supermercados. O primeiro semestre bateu recorde de geração de empregos e crescimento da massa salarial, o que impulsiona o consumo", justifica.
A projeção otimista vem do resultado positivo do crescimento de 6,5% das vendas de produtos comercializados em supermercados no primeiro semestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento da Nielsen encomendado pela Abras. "Com uma projeção de Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 7%, e um PIB industrial de 12%, o País pode comemorar", acrescenta Honda.
No acumulado do primeiro semestre, as vendas do setor supermercadista alcançaram alta de 5,57%, na comparação com as de igual período de 2009. Esses índices já foram deflacionados pelo IPCA do IBGE.
O mesmo índice, relativo ao mês de junho deste ano, teve um aumento de 4,92%, ante o mesmo mês de 2009. De acordo com Fábio Gomes, gerente de Contas da Nielsen, o aumento desse volume de vendas foi puxado principalmente pela cesta de bebidas alcoólicas, com alta de 15%; pelas bebidas não alcoólicas, em +10,9%, e pela média de perecíveis, com crescimento de 9%, alavancado principalmente pela alta das vendas de leite fermentado de 22,5%, de 15,1% em pizza congelada e 14,8% dos queijos.
Em valores nominais, o Índice de Vendas da Abras apresentou crescimento de 10% em junho de 2010 em relação a junho de 2009. Já o acumulado do primeiro semestre deste ano chegou a 10,82%, na comparação ao do mesmo período do ano passado.
O crescimento do volume das vendas nos supermercados foi maior no Espírito Santo, Minas Gerais e no interior do Rio de Janeiro, com alta de 9,8% no primeiro semestre, ante o mesmo período de 2009, seguido pelo nordeste (8,6%), sul (8,4%) e Grande São Paulo (7,7%). Em comparação a maio deste ano, porém, o estudo mostrou que as vendas apresentaram retração de 4,59%, influenciada pelo efeito calendário, já que maio teve cinco fins de semana cheios, enquanto junho teve quatro.
Cesta básica
Em junho, o AbrasMercado, cesta de 35 produtos de largo consumo, analisada pela GfK, apresentou queda de -1,22%, em relação a maio deste ano. Já na comparação com junho de 2009, o AbrasMercado apresentou crescimento de 3,89%, passando de R$ 265,57 para um custo médio de R$ 275,91.
No quesito maior custo, a cesta do norte é a mais cara do País, e saiu por R$ 321,35 no mês de junho, 2,46% a mais ante R$ 313,64 de maio. As condições de infraestrutura logística, na opinião de Sussumu, são a grande razão deste aumento. Ele acredita, porém, que a tendência desse custo é baixar, já que os estados da Região Norte serão abastecidos pelo nordeste, devido ao crescimento econômico desta região. "O Pará possui um setor de indústria extrativista e pecuária muito forte, que inclusive já abastece boa parte do Maranhão. A extensão aos outros estados será consequência na certa", garante.
Na sequência, o sul tem a segunda cesta mais cara do País, ao custo de R$ 300,14, porém com queda de 2,78% ante maio. O sudeste também teve queda no valor da cesta, de 2,31%, e chegou a R$ 262,18, assim como a Região Centro-oeste, com queda de 1,56% e um custo de R$ 253,48.
O nordeste brasileiro tem a cesta básica mais barata do País. A região apresentou queda de 2,52% em sua cesta, que custa R$ 232,30. A razão pode ser que, em junho, alguns dos principais produtos de maior representatividade na cesta dos consumidores tiveram retração de preços ante maio, com destaque para batata (-19,2%), tomate (-9,7%) e açúcar (-7,1%), segundo pesquisa encomendada pela Abras à GfK.
A queda dos preços, segundo Honda, reflete a desaceleração do ritmo de crescimento do faturamento real das vendas nos supermercados em abril, maio e junho, variando de 5,5% a 6%, ante 8,6% do primeiro trimestre - na comparação com o mesmo período de 2009. Entre os produtos com as maiores altas em junho, na comparação com maio, a farinha de mandioca subiu 3,53%, o xampu 3,34% e o queijo prato 3,23%.
Tendência de lojas
Conforme aumenta o poder de consumo do consumidor, mais aumenta suas necessidades. E, de acordo com a pesquisa da Abras, o cliente cada vez mais opta por fazer suas compras em lojas pequenas, tanto que o formato de loja que apresentou o maior crescimento de vendas é o que possui de cinco a nove caixas (check-outs), com 10% de alta.
De acordo com Sussumu Honda, as lojas pequenas, de vizinhança, vêm agradando mais ao público devido ao mix de produtos elaborados especificamente para o perfil do cliente, assim como o atendimento, que mais intimista e pessoal se torna quanto menor o espaço é. "O cliente gosta de se sentir especial. E a tendência agora são mais lojas, em número, mas de tamanho menor, com poucos caixas", explica.
Já o formato hipermercado, com mais de 50 check-outs, teve uma queda de 7% e, segundo Honda, a tendência é que continue diminuindo. "Os hipermercados entraram forte no mercado quando havia inflação e o cliente preferia fazer uma compra só no mês, estocando em casa", lembra. Nos grandes centros, ele diz que lojas que já existem, continuam devido a pontos estratégicos, mas que os fatores tempo cada vez menor dos consumidores, e principalmente preço, são relevantes à escolha do consumidor por lojas menores.
"Mesmo no interior, o consumidor tem cada vez menos tempo de percorrer grandes corredores de compras. Além disso, ele sempre vai optar por realizar mais vezes suas compras, para ter sempre produtos frescos, assim como aproveitar as promoções, que mudam semanalmente."
Veículo: DCI