Conjuntura: Comércio de móveis e eletrodomésticos e de supermercados tem alta expressiva
O comércio varejista teve um desempenho bastante positivo em janeiro, indicando que a demanda seguiu forte no começo do ano, impulsionada pelo bom momento do mercado de trabalho. O resultado não sugere perda de fôlego do consumo, como apostam vários analistas. As vendas de super e hipermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo e de móveis e eletrodomésticos foram os principais destaques, garantindo uma alta de 1,2% para o varejo restrito em relação a dezembro de 2010, feito o ajuste sazonal.
O comércio varejista ampliado (que inclui o setor automotivo e de material de construção) teve uma pequena queda, de 0,2%, devido ao recuo de 7,1% das vendas de veículos, motos e autopeças, um recuo que se deu após o forte aumento de dezembro, de 5%. Os números fazem parte da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo IBGE. Para fevereiro, é possível que haja uma recuperação do varejo ampliado. O índice de atividade do comércio da Serasa Experian, que leva em conta uma amostra de 6 mil estabelecimentos, subiu 0,6% no mês sobre janeiro.
A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, diz que os números de janeiro indicam que a demanda ainda não havia se desacelerado. "Mesmo o varejo ampliado ficou praticamente estável no mês."
Para o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, o quadro do comércio em janeiro "mostra a sustentação do emprego e da renda, a despeito da inflação mais alta". Montero acredita que pode estar em curso uma migração das compras de veículos, que tiveram uma desaceleração expressiva em janeiro, para a compra de outros bens vendidos no crediário por prazos mais curtos e de menor valor.
Um dos principais destaques dos últimos meses tem sido o setor de móveis e eletrodomésticos. Em janeiro, as vendas desses produtos subiram 2,7% em relação a dezembro. "Esse foi o sexto resultado positivo consecutivo do setor, que acumula crescimento de quase 16% no período", diz o economista Douglas Uemura, da LCA Consultores.
Para Thaís, as vendas significativas de móveis e eletrodomésticos ocorrem num cenário positivo do mercado de trabalho, contando com a influência de um fator mais estrutural - o processo de ascensão de uma nova classe média. O boom do mercado imobiliário também tem um peso nesse movimento, acredita Thaís. A compra de uma casa muitas vezes é acompanhada da aquisição de móveis e eletrodomésticos. Uemura diz que a queda de preços desses produtos também impulsiona as vendas. Em janeiro, as cotações desses bens caíram pelo quarto mês consecutivo, de acordo como o deflator calculado pelo IBGE, na série livre de influências sazonais.
As vendas de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo também foram bem em janeiro. Elas aumentaram 1,2% sobre dezembro, quando houve uma queda de 0,4%, na série com ajuste sazonal. O setor, que representa algo como 50% das vendas no varejo restrito, não tinha um aumento nas vendas na comparação com o mês anterior desde agosto de 2010, como nota Uemura.
O quadro do comércio em fevereiro ainda não está claro. Uemura lembra que ainda não foram divulgadas os números de vendas da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), um indicador importante para os analistas fazerem as suas projeções. Um dado importante já conhecido é o licenciamento de veículos e comerciais leves. Na série com ajuste sazonal da LCA, a média diária subiu 1% sobre janeiro, feito o ajuste sazonal.
Para Uemura, é uma alta pouco expressiva para que aposte que, na pesquisa do IBGE sobre o comércio em fevereiro, o segmento de veículos vai registrar crescimento nessa base de comparação. Ele considera que as medidas de restrição ao crédito adotadas pelo Banco Central impactaram significativamente o setor, por encarecer empréstimos e encurtar prazos, como mostrariam os números de janeiro. Outro ponto é que dados preliminares dos primeiros 14 dias de março apontam nova queda, de 5,3%, da média diária nos licenciamentos na comparação com o mês anterior. Os números da Serasa Experian de fevereiro, por sua vez, mostraram alta de 4,5% do setor de veículos, motos e peças.
Montero diz que a leitura dos números do comércio em fevereiro é complicada porque, neste ano, o carnaval caiu em março, e não em fevereiro. O ponto é que há dificuldades para eliminar o efeito da data quando se aplicam os métodos de dessazonalização, por ser um feriado móvel.
Veículo: Valor Econômico