Maior alta das vendas é refletida pelo aumento dos gastos no orçamento doméstico.
Especialistas mantêm o tom otimista e apostam na manutenção do ritmo de consumo neste ano. A venda de itens da cesta básica continuará sendo impulsionada ao longo do ano pelo aumento da renda e de emprego, mesmo que num ritmo menor do que observado no ano passado. - O setor supermercadista comemora um resultado de vendas expressivo neste primeiro semestre do ano, ao ver incremento de 4,25% das vendas, ante igual período do ano anterior. Mesmo com o arrocho a crédito, visto desde o começo de ano, depois da adoção de medidas do Banco Central para conter a inflação, parte das quais para segurar o aumento do endividamento brasileiro, além da ausência do benefício do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), que reduzia os custos de eletroeletrônicos no ano passado, as redes de supermercados tiveram bom desempenho, inclusive em junho, quando o setor registrou aumento de 2,75% das vendas reais dos supermercados brasileiros, ante o mesmo mês de 2010. As informações são da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), baseadas no volume das vendas apurado pela Nielsen, que viu o melhor desempenho nas bebidas alcoólicas, com alta de 8,5% e perecíveis, com 6,4%.
De acordo com o consultor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Eduardo Coutinho, o cenário é favorável, pois as medidas de restrição a crédito adotadas pelo governo federal no início do ano impactaram fundamentalmente o preço dos bens duráveis, não havendo, portanto, ação significativa na renda do consumidor, no que se refere aos setores alimentício ou de vestuário. "A pesquisa [da Abras] reflete todos os itens que entram na cesta de um supermercado, desde biscoito, e vestuário, até televisão, o que, no balanço geral, gera um resultado positivo", explica o especialista.
Para o segundo semestre, o consultor aposta na manutenção do crescimento do setor supermercadista, estimulado principalmente pelo aumento da renda do brasileiro, que atualmente busca adquirir marcas mais caras e aposta na diversificação dos produtos. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, os efeitos das medidas do governo para desacelerar a atividade econômica vão afetar a demanda nos supermercados, na segunda parte do ano, especialmente de itens de maior valor agregado, que em alguns casos são adquiridos pelos consumidores por financiamento.
"Os supermercados e hipermercados vêm ampliando o mix de produtos de maior valor agregado, reduzindo o espaço nas lojas para a venda de alimentos. As medidas [do governo] não devem afetar a venda de commodities, como arroz, feijão e óleo, mas de produtos que operam com margens maiores e trazem maior faturamento aos supermercados", disse. Segundo o dirigente, a venda de itens da cesta básica continuará sendo impulsionada ao longo do ano pelo aumento da renda e do emprego, mesmo que num ritmo menor do que o observado no ano passado, em conjunto com os reajustes salariais previstos até o final do ano pelo dissídio coletivo de várias categorias de trabalhadores.
O dirigente acrescentou que sazonalmente a segunda parte do ano apresenta melhor desempenho de vendas, mas ponderou que a forte base de comparação com os resultados de 2010 poderá limitar o avanço percentual do faturamento dos supermercados. "Continuamos projetando uma alta real de 4% das vendas, mas espero que possa ser maior", afirmou. No ano passado, as vendas reais subiram 4,2% frente a 2009.
A redução nos preços é outro fator que contribuirá para a manutenção do crescimento das vendas. Segundo levantamento de preços da Abras, com 35 produtos considerados de largo consumo, como alimentos, limpeza e beleza, medido pela GfK, os preços dos produtos acumulam queda de 2,55% entre janeiro e junho. Sobre o mês de julho, Honda destacou que as vendas devem apresentar uma aceleração frente a junho em razão de este mês ter cinco semanas "cheias", com fins de semana completos.
Representantes do setor ouvidos pelo DCI mostraram-se confiantes e mantêm as previsões otimistas para o segundo semestre. Diretor de Economia da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Martinho Paiva Moreira projeta expansão adicional de 5% no faturamento do setor, em São Paulo, até o final de 2011. "É natural que com o aumento da renda, o segmento supermercadista ocupe uma maior participação no orçamento doméstico. E isso ocorre em todos os produtos, em maior ou menos escala." Para ele, os setores mais atingidos pelas medidas de restrição ao crédito continuam sendo o imobiliário e o de automóveis.
Fernando Blanco, diretor de Crédito Corporativo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) e consultor da Gouvêa de Souza (GS&MD), aposta na manutenção do ritmo do consumo e da concessão de crédito, embora em patamares menos acelerados e sem a euforia verificada um ano atrás.
Veículo: DCI