Setores como o de alimentos foram mais afetados, pois fazem estoque próximo à data comemorativa
Os impactos da crise financeira e da alta do dólar já começam a ser sentidos pelo varejo. Lojistas que, em setembro e outubro, quando a crise estourou, estavam fazendo as compras para o Natal, enfrentam altas de preço e dificuldades em fechar pedidos de importados.
O varejo de produtos alimentícios, que costuma trabalhar com pouco estoque e, por isso, faz as compras mais perto das datas comemorativas, sofreu reveses mais rapidamente do que outros setores. É o que aponta Alejandro Padron, especialista em varejo e sócio da consultoria IBM.
"A extensão do impacto [da crise] é desconhecida. Por isso é tempo de cautela, de comprar pouco e de negociar muito bem", alerta Sussumu Honda, presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
É o que vem fazendo o gerente de uma das nove lojas da rede de supermercados Futurama, Antonio de Souza. Em outubro, ele suspendeu as compras para o Natal e decidiu esperar.
Trocou o que pôde no sortimento de importados por similares nacionais. Nos outros casos, está comprando aos poucos, apenas para suprir a demanda imediata.
"Além do risco de queda na demanda por causa do preço, se o dólar baixar, terei de arcar com o prejuízo", pondera.
Só em 2009
No entanto, nos setores em que as principais compras de fim de ano já foram feitas, como os de brinquedos e de cosméticos, avalia-se que o impacto chegará apenas em 2009.
Isso significa que não haverá variação grande de preço nessas mercadorias, o que deve manter o consumo. "Ainda que a crise gere perda de renda e de emprego, isso não deve acontecer neste ano. O consumidor deve manter as compras que já tinha planejado", pontua o professor Nuno Fouto, do Provar-FIA (Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração).
O presidente da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings), Nabil Sahyon, espera aumento de 8% a 9% nas vendas de fim de ano em 2008, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Especialistas consultados pela Folha opinam que a cotação do dólar dificilmente retornará ao patamar que tinha antes da crise, quando valia cerca de R$ 1,70. Segundo eles, o varejo poderá ser afetado pela escassez de produtos importados e pela diminuição dos investimentos nos negócios.
"Não esperamos recessão, mas crescimento moderado, com redução da produção e do consumo", afirma Padron.
Itens nacionais vendem mais e ganham preferência com a variação do câmbio
Indústrias nacionais que perderam competitividade internacional por causa do dólar em baixa, como a calçadista, podem ser favorecidas com a variação no câmbio, diz Alejandro Padron, da consultoria IBM.
Além disso, itens nacionais como vinhos e espumantes são beneficiados, pois o lojista diminui a compra de importados.
Os fabricantes de espumante Aurora e Salton apostam em vendas maiores. "Cresceremos 25%, cinco pontos percentuais acima do que havíamos previsto", diz Angelo Salton, presidente da vinícola Salton.
O diretor comercial da Aurora, Alem Guerra, destaca que os espumantes nacionais já ganhavam espaço. "O preço era cerca de 30% mais barato. Agora ficou mais competitivo."
Franquias
A rede de restaurantes Bon Grillê registrou aumento de 20% na procura por franquias desde o estouro da crise.
Segundo Nilson Marques Júnior, diretor-superintendente da rede, executivos com capital buscam investir em um negócio próprio para obter renda; além disso, o empreendimento tornou-se uma alternativa ao mercado financeiro.
Frase
"A extensão do impacto [da crise] é desconhecida. Por isso é tempo de cautela, de comprar pouco e de negociar muito bem"
SUSSUMU HONDA
Presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados)
Veículo: Folha de São Paulo - 09/11/2008