Mesmo em um ano de vendas em ritmo menos acelerado no setor varejista, o setor supermercadista deve comemorar as projeções, afinal é um dos únicos segmentos, até o momento, que reviram para cima a expectativa de crescimento em 2012. A perspectiva é que os gastos com a área de alimentos tenham um forte impacto no consumo interno e isso puxe a projeção do setor. O mercado projeta passar de 4% para 5% de crescimento no acumulado do ano, em relação a 2011, mesmo com os efeitos da crise internacional incomodando o País.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) faz essa projeção para o segmento, de crescer acima do Produto Interno Bruto (PIB), atualmente no patamar de 2,5%. Já o ritmo da indústria é ainda menor, de apenas 1%, como o DCI já havia antecipado em julho. No Índice Nacional de Vendas, a entidade aponta que houve incremento significativo nas vendas reais nos supermercados de 6,68% em junho na comparação com o ano anterior.
Para Sussumu Honda, presidente da Abras, mesmo com a revisão para cima do crescimento, os supermercados têm sentido a desaceleração ao longo dos meses. "Revimos o crescimento baseados no acumulado em um primeiro semestre positivo ao setor. Mas no mês a mês, a queda tem sido bem acentuada", explica o especialista. Segundo a entidade, as vendas de junho caíram 5, 47% em relação às do mês de maio.
Nos seis primeiros meses deste ano, as vendas dos supermercados subiram 6,79% frente às de igual período de 2011. Esses índices já estão deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Quando a base da mostra fica pontuada em valores nominais, o índice de vendas da Abras apresentou queda de 5,39% em junho em relação a maio deste ano, e alta de 11,98% ante junho do ano passado. No acumulado do ano, o índice nominal tem alta de 12,55% na comparação com o do mesmo período do ano passado.
Ainda segundo Honda, um dos fatores da queda das vendas em junho é o fato de este ser um período mais fraco do que outros, e ao maior comprometimento da renda do consumidor com dívidas anteriores. "O endividamento está muito alto. Mesmo com o aumento da massa salarial não teremos um crescimento acima deste patamar", diz. Para Honda, o salário mínimo, por se enquadrar em um ganho real, não conseguirá fazer com que o consumidor gaste mais nos supermercados, pois o "poder de compra cai", explica o presidente da entidade.
No próximo ano, pode ser que haja uma leve recuperação do setor supermercadista, mas ele continuará contido, enfatiza Honda. "Para o ano que vem acreditamos em uma economia mais crescente e em que o governo trará novos pacotes de incentivo à indústria, fato que nos impacta positivamente", diz, e completa: "Mesmo com um salário mínimo sem crescimento muito expressivo, tem outros fatos que ajudam o setor. 2013 antecede o período de eleições, então teremos os governos federais e estaduais investindo mais na economia. Isso sem esquecer acontecimentos como a Copa do Mundo".
Outro termômetro interessante e visto pelo mercado nos últimos meses foram os balanços das maiores do setor. O Grupo Pão de Açúcar (GPA) teve um incremento forte em seus negócios e agora analisa crescimento maior por conta da área de alimentos, assim como a expansão enfocada nas bandeiras Extra e Assaí. O Carrefour e o Walmart também têm tido bons resultados no País e devem manter os seus planos de expansão.
Alta dos preços
Apesar das projeções mais elevadas, a alta dos preços dos alimentos preocupa o setor. Segundo a entidade, existe a possibilidade de produtos com base de produção derivados de algumas commodities tenham incremento de 2% a 7% na prateleira. "As commodities influenciadas pela seca nos Estados Unidos farão com que os produtos derivados de soja e milho fiquem mais caros ao consumidor", estima Sussumu.
Batata, tomate e o ovo são produtos que enfrentam a entressafra e já estão mais caros nas gôndolas. Em junho, estes itens apresentaram alta de 29,55%, 16,69% e 3,56%, respectivamente. O fator clima, com temperaturas muito baixas e chuvas não convencionais no período, foram os impulsionadores das altas. A greve dos caminhoneiros, que completa hoje sete dias, até o momento não impactou diretamente os supermercados. Mas, se continuar por mais tempo, é possível que os produtos fiquem de 1% a 2% mais caros para o consumidor, devido ao maior custo com logística. "As redes não sentiram ainda, pois muitas empresas possuem centros de distribuição fora do eixo em que estão as manifestações", estima Honda.
Veículo: DCI